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Carências e Obstáculos do Profissional de Educação Física e de sua Formação Continuada para Futura Atuação enquanto Agente Interdisciplinar de

RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.2 Carências e Obstáculos do Profissional de Educação Física e de sua Formação Continuada para Futura Atuação enquanto Agente Interdisciplinar de

Saúde

Iniciou-se este sub-capítulo dando destaque as carências e obstáculos dos cursos de mestrado pesquisados. No começo, tais necessidades foram dissertadas de forma isolada por programa, a partir destas constatações, foi efetuada uma classificação e sucessivamente uma discussão, de acordo com as categorias de análise percebidas e com os demais meios de pesquisa (literatura pesquisada e observações sistemáticas participantes), através da triangulação supracitada.

4.2.1 Carências e Obstáculos dos Cursos de Mestrado

Como já foi informado, no início desta seção foram descritos os cursos isoladamente, começando pelos participantes de Orion: As respostas coletadas destes participantes foram mais enfáticas no que diz respeito à falta de amadurecimento e fomento de oportunidades à pesquisa, e à carência de publicações no âmbito da saúde. Como relata o discente D2 e sua coordenadora:

“Olha eu vejo que esse programa, na minha concepção, peca no primeiro momento pela questão da pesquisa e pela publicação destas pesquisas. Eu acredito que dentro das disciplinas que foram ministradas, poucos foram os trabalhos relacionando uma pesquisa em relação a saúde.” (Discente D2 em 16/12/2004)

“Mas nós temos muito que aprender, que nós ainda temos muito que crescer. Em termos de pesquisa nós podemos dizer que ainda tem quatro anos, então ainda é uma criança, nós temos que melhorar muito a nossa publicação em termos multidisciplinar,...” (Coordenadora de Orion em 15/12/2004)

Outro obstáculo relatado pelos entrevistados foi a quantidade de professores mestres e doutores do programa que não se encaixam na linha de pesquisa em saúde humana foi. Isso é decorrência da falta de planejamento no momento da liberação desses profissionais em relação à área de atuação do docente no programa, bem como, a área escolhida para a sua formação (mestrado e doutorado). De forma isolada, também foi citada a falta de uma maior carga horária destinada às aulas de Educação Física voltadas para saúde das pessoas.

Em relação a estes relatos, pôde-se fazer uma ponte com a análise das observações de campo, na qual se percebeu que os docentes de Orion apresentam seus trabalhos de forma isolada. Não se constatou a presença de núcleos ou grupos de estudos ativos. Os núcleos citados pela coordenadora e pelo docente D3 existem fisicamente, mas não foi observada a presença de bolsistas ou outros pesquisadores, nem a participação de discentes atuando em conjunto com os docentes responsáveis por estes espaços.

Pelo fato de alguns docentes residirem em outras cidades (como Curitiba, por exemplo), a “tutoria” dos mesmos sobre os grupos de pesquisa não se mostrou tão efetiva quanto nas demais instituições pesquisadas. É válido destacar que tais carências podem acarretar baixos conceitos na avaliação da CAPES que, de acordo com a coordenadora, deve ocorrer em 2005.

Na apresentação pública de dissertação em Orion, também foi observado que apesar do orientador estar bastante inteirado do trabalho e manter uma boa relação com a coordenadoria do programa, o mesmo não residia na cidade onde se localiza a IES.

A carência de produção científica e a falta de publicações também foram percebidas em Ursa Menor, como relatou sua coordenadora:

“O nosso programa independente da Educação Física, não nos permite, um problema gravíssimo que é a produção científica docente, que é muito ruim. Nossos profissionais, professores têm muito uma idéia antiga de que professores universitários vinham davam aulas e voltavam para casa, agora as exigências do mestrado que eu acho que são absolutamente válidas, eu acho se você não tem produção científica não pode estimular fazer pesquisas.” (Coordenadora de Ursa Menor em 08/09/2004)

Além da falta de fomento para pesquisa, um outro obstáculo relatado pelo discente B2 são as poucas oportunidades de atividades práticas, especialmente no planejamento em programas de promoção da saúde. Segundo B2, são nestas oportunidades que se aprende como agir na intervenção com postos de saúde, comunidades e outras situações sociais.

A docente de Ursa Menor B3, por sua vez, apontou que faltam aos programas de formação (currículos) do profissional de Educação Física, disciplinas de ordem mais teóricas, que expliquem o conceito de saúde e sua evolução nos atuais quadros de atuação.

“Eu acho que falta, como ele pertence à área de saúde, ele não tem no currículo as disciplinas que discutem os conceitos de saúde e doença. A parte da evolução das políticas de saúde no país, como se deu essa formação das políticas de saúde, então mais disciplinas nessa parte assim da saúde coletiva, tradicionalmente da saúde

coletiva, como políticas públicas, que irão dar um suporte bem grande para ele entender como a Educação Física está inserida na saúde, que não é uma questão assim aleatória.” (docente B3 em 15/10/2004)

Em Ursa Maior foi relatada a necessidade de um maior envolvimento em pesquisa, tanto por parte dos docentes, como dos discentes. Foi constatado por parte dos discentes pesquisados, que os seus companheiros do corpo discente apresentam-se imaturos em comparação às turmas do final da década de 90; criticando assim, o processo seletivo. Além disso, alguns alunos com matrícula especial (ouvintes) são encarados como um obstáculo no processo de ensino e aprofundamento de discussões em sala de aula.

Os relatos do coordenador e de um discente retratam o parágrafo anterior: “...outra fraqueza também é a não interação de alguns

alunos com os grupos de pesquisa, e como o curso tem como objetivo formar pesquisadores eu acho incoerente que alguns passem pelo curso e não se vincule com algum núcleo de pesquisa, assim como atividades próprias da extensão do ensino e da pesquisa, que é isso que ele vai ter futuramente quando atuar no meio acadêmico.” (Discente A1 em 25/11/2004)

“As principais ameaças, fraquezas, dificuldades é o corpo docente que pense na mesma direção, o envolvimento dos docentes, alguns se envolvem demais, outros nem tanto assim; uma outra ameaça que eu também vejo é a questão da produção científica, que tem a ver com a manutenção do programa.” (Coordenador de Ursa Maior em 13/12/2004)

A dissociação de direções entre as áreas de concentração e respectivo corpo docente vem reforçar o que foi relatado pelo coordenador. Tanto as diferenças de envolvimento com projetos, como as diferenças paradigmáticas, foram percebidas em Ursa Maior. Isto pode ser observado na fala deste docente:

Eu acho que a maior barreira que existe é essa, é a dos conceitos. É que cada um tem um conceito e muitas vezes os conceitos não se aproximam, eles se afastam e até às vezes se tornam oponentes. E outra coisa que eu acho que é muito importante na nossa área, é que existe uma certa distinção entre caracterizar eu sou de uma área e tu és de

outra, e às vezes não saber que todas as contribuições, elas convergem para o todo. (Docente A3 em 29/11/2004)

Os relatos sobre as carências são finalizados com as exposições dos integrantes do Cruzeiro do Sul. Esta instituição teve críticas com relação ao processo seletivo. Isto ocorre em virtude da competição com outras profissões, que faz com que o profissional de Educação Física não seja privilegiado dentro de seu próprio centro. Além disso, notou-se a falta de dedicação por parte dos docentes, que estão muito envolvidos em diversas atividades pelo país, onde são obrigados a ficarem afastados em alguns períodos durante o ano.

O desenvolvimento de uma jornada de apresentações acadêmicas foi comentada como uma necessidade. E novamente, a dissociação entre os conceitos paradigmáticos das diferentes áreas de concentração e das linhas de pesquisa envolvendo docentes foi citada, como vemos no relato do coordenador:

“A maior fraqueza talvez seja o aspecto cultural como essas questões venham sendo colocadas, porque nós mesmos que já somos mestres e doutores na área, não temos um ponto de conciliação, então, acho que seja muito difícil nós reforçarmos um curso de formação quanto nós próprios formadores deste curso, colocamos o questionamento sobre a importância de se trabalhar saúde, ou ao contrário, a importância de se discutir filosoficamente as questões do corpo e do homem, então a maior fraqueza esteja justamente em nós mesmos, em termos posições um tanto quanto polarizadas, e tentarmos reforçarmos apenas a nossa posição sem entender essa interação mais dialética, entre essas áreas que garantem a formação do profissional de Educação Física.” (Coordenador do Cruzeiro do Sul em 29/11/2004)

Assim, de acordo com a análise das carências e obstáculos apresentados nos quatro cursos, três categorias foram percebidas:

1) A falta de envolvimento com a pesquisa foi a carência mais