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2.2 A Área da Saúde e o Profissional de Educação Física

2.2.2 Educação Física: Um Caminho na Promoção da Saúde

Ciente de que a atuação do profissional de Educação Física tem uma relação direta com a prevenção de doenças, reabilitação e manutenção da saúde dos indivíduos e observando o crescente número de pessoas com doenças provocadas pela acomodação oferecida pelos “evolutivos” meios tecnológicos, apresentam-se alguns conceitos para reforçar sua relevância e justificar sua evolução histórica na vida dos homens.

Tal justificativa tem origem na histórica evolução do homem, uma vez que desde a Antigüidade, a prática de atividades físicas tem sido associada à possibilidade de melhoria da saúde ou tem integrado concepções de desenvolvimento humano.

Segundo Nogueira (2003), os gregos acreditavam na exercitação moderada como um dos fatores constituintes da vida saudável. Platão, na sua lei 689, escreveu que “cidadão educado é aquele que sabe ler e nadar”. Galeano, o mais famoso médico romano, que escreveu aproximadamente 80 tratados sofistas, alertava para os efeitos benéficos do exercício, ante as conseqüências deletérias da vida sedentária.

Sobre a relação das atividades físicas na Antiguidade, Bagrichevsky e Palma (2004) ressaltam:

“Que na civilização grega da Antiguidade, práticas análogas à medicina já buscavam algo além da cura dos doentes. Tão importante quanto as teapias curativas, a preservação da saúde recebeu um tratamento especial e as questões ligadas à higiene mereceram destaque. Assim, para os médicos da época, o modo ideal de vida era posto a partir do equilíbrio entre a nutrição, o exercício moderado e o descanso.” (p.59).

Fatos como os destacados anteriormente demonstram historicamente o valor da Educação Física frente à “manutenção” de uma boa saúde. Pate et al. (1995) destacam a importância do estilo de vida ativo:

“Recentemente os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e o Colégio Americano de Medicina do Esporte relataram que, aproximadamente,

250.000 vidas são perdidas anualmente devido ao estilo de vida sedentário” (p. 17).

A falta de atividade física é considerada, por Pate et al. (1995), um fator de risco para doenças do coração, tão importante quanto o colesterol alto, a pressão arterial alta e o fumo. Isto não significa que a atividade física seja tão potente, no combate ou prevenção pra estes males, mas sim que a sociedade encontra-se muito acomodada, com pessoas inativas e sedentárias.

Esta situação é confirmada por Nieman (1999);

“A inatividade física é um fator de risco significativo para doença coronariana, mesmo quando existem outros fatores de risco associados. Em conjunto, os estudos sugerem que a inatividade em si duplica o risco de doença coronariana, um efeito similar em magnitude ao do tabagismo ou da pressão alta ou do colesterol“ (p. 42).

A formação do professor de Educação Física, não só está relacionada com o fomento da prática de exercícios e atividades físicas, mas também com a aquisição de um estilo de vida mais saudável. Isto vem reforçar seu papel social no desenvolvimento de uma sociedade mais saudável, o que destaca Guedes (2003a):

(...) a proposta sugerida aos professores de Educação Física é a de assumirem um novo papel diante da estrutura educacional, procurando adotar em suas estratégias de ensino não mais uma visão exclusivamente de prática esportiva e de atividades recreativas, mas sim, uma postura pedagógica que possa alcançar metas e objetivos voltados à educação para a saúde, mediante a seleção, a organização e o desenvolvimento de conteúdos e de experiências que venham propiciar aos educandos a incorporação de hábitos saudáveis e que os conduzam a optar por mantê-los nas idades adultas” (p. 32).

Nesta concepção constata-se mais uma vez que o papel da Educação Física não se restringe apenas às práticas esportivas e à busca por uma aptidão física atlética, mas também contempla a adoção de uma vida mais ativa, com um estilo de vida favorável a aquisição de novos costumes que venham favorecer a saúde dos educandos.

A formação do profissional de Educação Física deve estar também, segundo Silva (2003b), voltada para uma orientação em favor de um estilo de vida ativo. Sobre o assunto, o autor comenta que: “As evidências científicas, cada vez mais, reforçam os efeitos benéficos de um estilo de vida ativo para a preservação e promoção da saúde das pessoas” (p.61).

Os avanços do processo da Educação Física frente à área da saúde também são evidenciados por Marques e Gaya (1999), que destacam:

“Por outro lado, é importante salientar que no denominado paradigma da ApF (aptidão física) que rege as concepções contemporâneas relacionadas à saúde, superam-se as abordagens tradicionalmente univariadas e através de modelos teóricos e matemáticos sofisticados, passa-se a trabalhar sobre a perspectiva de objetivos operacionais(abordagem multivariada). Ou seja, já não se fala mais em flexibilidade, força, resistência aeróbia, etc., mas nas descrições e nas relações e interações que ocorrem entre as variáveis marcadoras de acordo com os objetivos operacionalmente definidos.” (p.84).

As atuais evidências e comprovações científicas em torno das contribuições da atividade física para a aquisição de estilo de vida mais ativo, não se originaram isoladamente de pesquisas recentes, é o resultado de estudos efetuados a longo prazo, que mostram a relação histórica entre a Educação Física e a área da saúde.

Segundo McArdle, Katch e Katch (1998), foi no século XIX que tiveram início, na Europa e Estados Unidos, os processos de análise sobre a fisiologia do esforço, campo de investigação destinado a estabelecer os fundamentos científicos entre exercício físico e saúde. Nos Estados Unidos, os americanos estabeleceram em 1892, na Harvard University, seu primeiro laboratório formal de fisiologia do exercício.

Retornando-se ainda mais às origens da Educação Física, encontra-se o termo “higienista”, que definiu uma das correntes mais marcantes da história da Educação Física. Almeida Filho (1999) destaca a origem etimológica da palavra higiene, atribuída à deusa da saúde, chamada Hygea, que simbolizava a arte de estar vivendo bem, de forma saudável, em harmonia com a ordem natural das coisas.

Desta forma, a atual sociedade é herdeira de uma longa tradição que considera as contribuições da atividade física regular como fator de promoção da saúde, seja como meio de recreação, lazer, esporte ou meios sistemáticos de avaliações fisiológicas.

Assim, conhecendo um pouco da história da Educação Física, pode-se compreender melhor as atuais concepções de saúde e sua relação com a prática de atividades físicas. Sendo que uma das concepções mais próximas da realidade brasileira foi a elaborada durante a VIII Conferência Nacional de Saúde:

Em sentido mais abrangente, a Saúde é o resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. (www.portal.saude.gov.br/)

Conceito este, bem vislumbrado se analisado pela ótica social e comparado ao conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005), que aponta a saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.

Assim, cabe ao profissional de Educação Física não apenas buscar adicionar mais anos à vida das pessoas e sucessivamente das populações, mas também melhorar a qualidade de vida durante o decorrer destes anos de vida.

Mas, como o título deste sub-capítulo evidenciou, a Educação Física é apenas um dos caminhos na busca de um estado estável de saúde. Este equilíbrio depende de um estilo de vida saudável e da exigência de um comportamento interdisciplinar dos diversos profissionais que constroem a grande área da Saúde, como irá apontar a próxima seção deste capítulo.