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O comportamento da criança autista pode ser extremamente variado, não seguindo características padronizadas. Holmes (1997) assinala três sintomas primários: falta de responsividade a outras pessoas, prejuízo na comunicação verbal e não-verbal e repertório de atividades e interesses restritos.

A “falta do desenvolvimento da reação antecipatória”13, ou seja, o bebê não reagir ou demonstrar pouca reação (sorrir, imitar, aprender gestos etc.) frente ao outro foi notada por Kanner (1943). Bandim, Sougey e Carvalho (1995) acrescentam que esta característica é verificada, principalmente, entre os quatro e cinco meses de idade, sendo que aos oito meses, o bebê pode não revelar ansiedade ou medo diante de pessoas estranhas, ao contrário do esperado para esta faixa etária.

Para Schwartzman (1994), a anormalidade que as crianças autistas possuem na interação social recíproca é uma das características que se destaca, sendo demonstram determinadas ações, tais como: poucas respostas adequadas às tentativas de carinho e aconchego; atitudes de ignorar outras pessoas, quando a criança é mais velha; ausência de contato visual duradouro; dificuldade em fazer amigos; e aparente falta de incômodo com o isolamento e até, talvez, uma preferência por este. Bandim et al (1995) destaca também a ocorrência de alguns comportamentos como não olhar e nem apontar para os objetos; não mostrar as coisas que vê para os seus pais e, também, apresentar pânico, aflição ou agitação a estímulos sensoriais (sons ou ruídos), que anteriormente eram alheios.

Kanner (citado por Amy, 2001) destaca que

há, desde o início, extrema solidão autística que, sempre que possível, despreza, ignora, exclui tudo aquilo que chega do exterior à criança. O contato físico direto, tal movimento ou tal barulho são vividos como uma ameaça de romper sua solidão e ou são tratados “como se não estivessem lá” ou, se não possuem uma duração suficiente, ressentido dolorosamente como uma interferência desoladora. (p. 31-32)

A partir de dois anos, os sintomas vão se tornando mais evidentes, principalmente com os primeiros sinais de atraso na linguagem. Rutter (1967) ressalta que os prejuízos na comunicação e linguagem são, em sua maioria, severos. Em relação a esses prejuízos, Schwartzman (1994) acrescenta que como essas crianças são levadas inicialmente, principalmente, ao médico e ao fonoaudiólogo, devido ao atraso na aquisição da fala, as principais hipóteses para este atraso acabam estando relacionadas aos problemas de audição ou patologia específica da fala.

Schwartzman (1994) também relata que algumas crianças autistas podem permanecer mudas e até mesmo com evidentes comprometimentos na compreensão da linguagem; outras podem adquirir a fala tardiamente e algumas podem ser fluentes e falar muito, porém, em sua maioria, observa-se a utilização de estereótipos verbais e de repetição de frases já escutadas, além de uma compreensão prejudicada, dificultando o entendimento do sentido figurado e das metáforas, por compreender a fala de forma muito literal. Outro aspecto comum é a repetição imediata (ecolalia imediata) e a repetição tardia (ecolalia tardia) de palavras e/ou frases escutadas, assim como, também, a inversão pronominal, em que a criança usa a terceira pessoa do singular ou do seu próprio nome ao se referir à sua própria pessoa.

Para Andrade (1992), quanto mais nova a criança e mais grave for sua deficiência, maior será a incidência de características associadas ao quadro do Transtorno Autista. Dentre essas

características, é possível observar: anormalidades no desenvolvimento de habilidades cognitivas; anormalidades em resposta à excitação (braços batendo em asas, pulos, caretas) e coordenação motora pobre; respostas bizarras aos impulsos sensoriais, como ignorar certas sensações e ter supersensibilidade ou ser fascinado por outras; anormalidades no comer, beber ou dormir; e anormalidades no humor e comportamento automutilante.

Por volta dos três anos de idade, segundo Bandim et al (1995), a capacidade imaginativa da criança autista é pequena ou ausente, sendo que os brinquedos escolhidos não têm sua função levada em consideração, e as brincadeiras tendem a ser mecânicas e repetitivas. O autor ainda destaca o grande interesse da criança por objetos que rodam e o apego exagerado a alguns objetos sem maiores atrativos.

Outras características clínicas comuns a estas crianças, citadas por Schwartzman (1994), são: movimentos repetitivos; reação às alterações no ambiente ou na rotina; falta de criatividade na forma de brincar; repetição de uma mesma atividade durantes horas; interesse por assuntos que não fazem parte do repertório de interesses comuns a outras crianças da mesma faixa etária; distúrbios de atenção e concentração; inteligência variável, com a maioria apresentando algum grau de deficiência mental; habilidades motoras em graus variados; respostas inconsistentes à dor e aos estímulos sensitivo-sensoriais, como estímulos auditivos; e atração por certos padrões visuais.

Salle et al (2005) citam em seu trabalho que as crianças autistas também podem apresentar medos, fobias, alterações do sono e da alimentação, ataques de birra e agressão, podendo ocorrer autoagressão, principalmente em crianças que apresentam retardo mental.

Entre quatro e cinco anos, as alterações de linguagem tornam-se mais visíveis. Para Wing (citado por Bandim et al, 1995), cerca de 50% dos autistas eventualmente aprendem a dizer

algumas palavras, porém com uma linguagem “anormal”14, com o desenvolvimento da ecolalia e o não desenvolvimento do pensamento abstrato diferenciado, ou seja, a não abstração do sentido da palavra, sendo que cada palavra possui apenas um significado. Em relação à linguagem, Bandim et al (1995) relatam que, se a mesma não se desenvolveu até os cinco anos, dificilmente se desenvolverá posteriormente, além de ressaltarem que a comunicação verbal será concreta e a capacidade de abstração comprometida.

Wing (1988), ao considerar as alterações comportamentais, apresentadas em graus variados tanto de tipo quanto de severidade, que podem estar relacionadas com outros prejuízos apresentados pela criança, revela a existência de um continuum15 ou spectrum. Esta nova visão fez com que o autismo passasse a ser visto com uma síndrome que comporta subtipos variados, minimizando a visão de um quadro específico.

Esta referência a um continuum ou spectrum se iniciou com os estudos de Wing e Gould (1979), que identificaram um grupo de crianças com dificuldades e características comuns. Para esses autores, havia uma tríade de prejuízos: interação social, comunicação e imaginação, que se relacionavam de forma dependente. Neste grupo, estava incluso o autismo descrito por Kanner, mas não somente ele.

Segundo Brook e Bowler (1992), o continuum autístico está ligado à presença de quadros intermediários, partindo do autismo até alterações menos significativas, sendo a linguagem o aspecto principal. Schwartzman (1993) ressalta que se trata de variações quantitativas de um mesmo conjunto de sinais e sintomas, sendo variável de pessoa para pessoa o grau de comprometimento da tríade clássica (Frith & Happe, 1994).

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