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2.2 AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA

2.2.2 Características da Avaliação do Ciclo de Vida

Em sua forma completa, ACV é uma ferramenta de Gestão Ambiental que avalia o produto ou processo ao longo de seu ciclo de vida, parcial ou total. Tal ferramenta considera os impactos gerados desde o início do processo produtivo até sua disposição final, tanto que também é conhecida como uma técnica propícia a avaliar a geração de impactos ambientais do “berço ao túmulo”, sendo o berço uma alusão ao local de origem dos insumos primários mediante a extração dos recursos naturais e o túmulo uma representação da disposição final dos resíduos que não são reciclados (GNANSOUNOU et al.,2009).

Portanto, a ACV é especialmente desenvolvida para avaliar diferentes impactos ambientais inseridos ao longo da vida do produto ou serviço, propiciando a divisão destes impactos em diversas categorias, tais como esgotamento de recursos e degradação da paisagem, por exemplo. Isso resulta em um melhor direcionamento para decisões rumo às melhores tecnologias a serem usadas nos processos produtivos envolvidos (BALKEMA et al., 2002).

De acordo com Valt (2004), em um dado processo ou produto, a redução do consumo de matéria-prima e dos resíduos gerados podem ser os resultados de uma ACV, sendo possível a comparação sobre distintos processos e materiais implícitos na produção de um mesmo produto pelos dados oriundos da mensuração de uma ACV. Dessa forma, há a otimização de recursos pelo aprimoramento dos produtos e processos produtivos (BARBOSA JUNIOR, 2008).

Para Hertwich (2005), ACV é uma ferramenta que avalia potencias impactos ambientais em sistemas de produtos e serviços por meio da contabilização das emissões

geradas e recursos usados em todas as fases do ciclo de vida destes. Dessa forma, tal somatório é realizado mediante a análise de todas as entradas e saídas pertinentes ao sistema estudado (SAIC, 2006).

Macedo (1995) enfatiza que a avaliação ambiental propiciada pela ACV pode melhorar os processos decisórios que estão envolvidos com as ações de produtividade. Isso tende a minimizar os impactos ambientais gerados e a potencializar os resultados positivos, inclusive no campo econômico. Existe, dessa forma, a solidificação da cultura administrativa pautada no melhor uso dos recursos utilizados na fabricação dos produtos.

Neste sentido, a ACV tem se mostrado como uma ferramenta útil para se atingir também o consumo sustentável, sendo viável sua utilização também para avaliar os impactos ambientais domésticos. Neste caso, é necessário além das análises de entradas e saídas, combinações com pesquisas econômicas e sociais, dado as discrepâncias existentes entre as distintas camadas sociais (HERTWICH, 2005).

Em países mais desenvolvidos, o consumo doméstico é a categoria de impacto final que mais acarreta em danos ambientais, tanto em termos de despesas como também de consumo de energia e geração de emissões de CO2. Em países em desenvolvimento, são as exportações da indústria pesada que mais agravam a situação ambiental (HERTWICH, 2005).

Trabalhos que possuam como meta avaliarem os impactos ambientais de consumo amparados pela ACV devem ir além da contabilização das entradas e saídas. É ideal que se combine seus resultados com pesquisas sociais e econômicas de distintos extratos populacionais. A partir de então, é possível que o resultado seja a conquista de padrões de consumo sustentáveis, sendo a ACV uma importante guia por meio dos selos ambientais, fornecendo informações para organizações e consumidores terem parâmetros decisórios quanto aos impactos ambientais mais inferiores (HERTWICH, 2005).

Segundo Borchard et al. (2008), a partir de decisões de compra mais conscientes, pode-se tentar reverter alguns dos perniciosos riscos ao meio ambiente que acarretam prejuízos para a sociedade. De acordo com os autores, os fatores dessas perdas nem sempre são isolados e podem possuir diversas fontes, tais como: estilo de

vida de algumas sociedades consumistas, envelhecimento da população em países desenvolvidos, crescimento acelerado de alguns países emergentes;desigualdades de consumo entre regiões; produtos fabricados com prazo de vida curto.

Tais fatores se relacionam com aspectos sociais e econômicos que, na maioria das vezes, não são homogêneos e dependem da região ou segmento produtivo analisado. Deste modo, de acordo com Curran (2008), ao se partir diretamente para os sistemas produtivos, a ACV pode ser descrita também como uma contabilidade ambiental, com abordagem de gestão, que considera todos os aspectos relacionados ao consumo de recursos e lançamentos ambientais associados com o sistema estudado.

Exemplos de processos onde a ACV considera todos os impactos relevantes a montante e a jusante do consumidor ou produtor são apresentados pela Figura 3, que mostra uma visão holística das interações ambientais que cobrem as várias atividades relacionadas ao processo produtivo, desde a extração da matéria-prima, passando pela produção do produto, por sua distribuição, por seu uso, reuso e sua disposição final.

Figura 3. Estágios genéricos de ciclo de vida.

Fonte: Curran (2008).

Neste sentido, uma avaliação efetuada ao longo dos estágios do ciclo de vida de um produto deve ser realizada sobre uma perspectiva de que eles são interdependentes, o que implica que as decisões feitas em um ponto ao longo do ciclo de vida pode ter consequências em outros lugares (CURRAN, 2008). Contudo, Silva e Kulay (2006) afirmam que além dos estágios presentes ao longo do ciclo de vida de um produto, há que se considerar também a etapa de transporte que ocorre entre os fluxos de uma unidade para outra. Segundo estes autores, o transporte é caracterizado como uma

Aquisição

de recurso Processamento de material Produção manutenção Uso e Disposição

Reuso Reciclagem

atividade que pode gerar impactos ambientais em quase todos os estágios do ciclo de vida.