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Características da carcaça de bovinos alimentados com dieta 100% concentrado

No documento PRdissertacao robson kyoshi ueno (páginas 55-58)

3.3. Terminação de bovinos em confinamento com dieta 100% concentrado com

3.3.5. Características da carcaça de bovinos alimentados com dieta 100% concentrado

com quantidades significativas de forragem. Segundo Mertens (1992), animais que ingerem dietas com altos teores de fibra regulam o consumo pela capacidade de enchimento constante e os animais alimentados com dietas ricas em energia ingerem alimento até satisfazerem suas demandas energéticas, sendo o consumo regido pelo conceito do controle fisiológico.

De acordo com Grandini (2009), a maior eficiência no aproveitamento de dietas com alto teor de energia pode ser explicado por dois fatores principais, o primeiro é que os requerimentos energéticos para ganho e manutenção tem em suas equações o coeficiente de metabolizabilidade como indicativo de eficiência no uso da energia ingerida, este em especial é vinculado à concentração energética, ou seja, dietas com densidades energéticas mais elevadas possuem maiores coeficientes de metabolizabilidade, sendo assim quanto maior a concentração energética da dieta mais eficiente ela é em converter MS consumida em ganho de peso, por conseguinte menor a ingestão necessária para o mesmo ganho.

Outro fator seria a menor proporção entre os ácidos graxos voláteis acetato:propionato resultante da digestão dos alimentos, que em dietas tradicionais situa-se na relação 3:1 e em dietas de alta energia na relação 1:1, fato é que a maior parte do carbono precursor da gliconeogênese dos ruminantes é derivado do ácido propiônico e aminoácidos glicogênicos (40 a 70%), onde menos de 10% da glicose total necessária é absorvida via trato intestinal, portanto, os produtos finais da fermentação ruminal são de extrema relevância.

3.3.5. Características da carcaça de bovinos alimentados com dieta 100% concentrado

Vance et al. (1972) trabalhando com dieta 100% concentrado com grãos de milho inteiros comparativamente a dietas de alto concentrado com níveis de inclusão de silagem de milho (0, 17, 23, 37, 48 e 59%), não observaram efeito dos tratamentos sobre o rendimento de carcaça, apresentando na média 61,8%. Houve efeito quadrático para a espessura de gordura, os animais alimentados com dieta 100% concentrado apresentaram 17,8 mm de gordura, que se elevou até 18,8 mm em animais alimentados com 37% de silagem de milho e decresceu para 15,7 mm na maior inclusão de silagem na dieta.

O efeito dos tratamentos sobre as deposições de gordura na carcaça podem estar relacionado as características fermentativas das dietas e formação diferentes proporções de

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ácidos graxos voláteis no rúmen. No mesmo trabalho, os autores avaliaram as características ruminais de animais alimentados com 100% de concentrado e da dieta com 59% de silagem, os resultados para os respectivos tratamentos foram: total de ácido graxo voláteis (110 vs 122 mM L-1), ácido acético (39 vs 63 %), ácido propiônico (41 vs 20 %), ácido butírico (13 vs 11 %), ácido isovalérico (2,5 vs 2,7 %), total de lactato (439 vs 938 µM L-1) e pH (5,6 vs 6,1). Segundo Church (1993) em grande parte, o propionato é convertido em glicose pelo fígado, no entanto, o acetato é usado principalmente como substrato para a produção de gordura.

Os resultados acima levam a crer que o fornecimento de dietas 100% concentrado pode refletir em produção de carcaças mais magras que quando se inclui forragem na ração.

Woody et al. (1983), avaliaram 8 níveis crescentes de grãos de milho na dieta de novilhos mestiços Charolês ou Hereford, variando de 30 a 96%, sendo que este último consiste de uma dieta sem forragem. Em novilhos charoleses, não foram encontradas diferenças de rendimento de carcaça, apresentando 62,4% em novilhos alimentados com dieta 100% concentrado, os quais demonstraram maior espessura de gordura sendo 10 mm contra 8 mm em média obtido pelas dietas com forragem. Novilhos Hereford alimentados com 100% de concentrado apresentaram 62,2% de rendimento de carcaça, o qual decresceu linearmente para 59,8% no nível de menor inclusão de grãos na ração, o mesmo comportamento foi observado na porcentagem de gordura na carcaça (33,8% para 29,1%). A espessura de gordura apresentou comportamento quadrático, a alimentação com 100% de concentrado proporcionou 14 mm de espessura de gordura, já a alimentação com 59% de grãos proporcionou a maior deposição de gordura com 16 mm, e a menor medida foi obtida pela inclusão de 38% de grãos na ração que apresentou 9 mm.

Murphy e Loerch (1994), testando dieta 100% concentrado com 85% de grãos de milho inteiros, verificaram o efeito do fornecimento “ad libitum”, ou com restrição alimentar fornecendo 80% ou 90% da quantia fornecida no tratamento “ad libitum” sobre as características da carcaça de novilhos cruzados. Foi observado que o fornecimento de 100%, 90% ou 80% da alimentação diária proporcionou decréscimo linearmente no peso de carcaça quente (311 vs 308 vs 296 kg), espessura de gordura (1,12 vs 0,79 vs 0,8 cm), extrato etéreo da carcaça (31 vs 28 vs 24 %) e gordura intramuscular (5,7 vs 5,1 vs 3,3 %), porém, aumentou linearmente o conteúdo de proteína (14,6 vs 15,0 vs 15,8 %) e água (53 vs 55 vs 59 %) da carcaça, e não influenciou o rendimento de carcaça (61%) e área de olho de lombo (72,8 cm2). Os autores concluíram que a utilização estratégica de restrição alimentar pode melhorar a

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composição da carcaça, reduzindo a produção de gordura em excesso, sem aumentar os custos de alimentação ou sacrificar a eficiência da produção animal.

Silva (2009) avaliando o efeito de três dietas de alta inclusão de concentrado sobre as características da carcaça de bovinos observou que animais alimentados com 90% de concentrado e 10% de bagaço de cana “in natura” apresentaram, numericamente, maior espessura de gordura (4,36 mm) que animais tratados com dieta 100% concentrado com grãos de milho inteiro e 10% de casca de soja (3,92 mm) e animais que foram alimentados com uma dieta a base de alimentos concentrados (sorgo moído, casca de soja e núcleo proteico) mais 16,7% de caroço de algodão (2,86 mm). De forma significativa, foi evidenciada maior espessura de gordura subjetiva em animais alimentados com 10% de bagaço de cana-de- açúcar, avaliada por observadores treinados para identificar graus de uniformidade de gordura nas carcaças. Não foram encontradas diferenças significativas entre os tratamentos para o rendimento de carcaça (54,6%) e comprimento de carcaça (139 cm).

Ao testar o efeito de níveis de inclusão (0, 15, 30, 45%) de casca de soja na dieta 100% concentrado com grãos de milho inteiro, Katsuki (2009) não encontrou diferenças significativas na carcaça, que apresentaram 132 cm de comprimento, 55% de rendimento e 6,58 mm de espessura de gordura.

3.3.6. Considerações finais

Em concordância com as ponderações de Grandini (2009), na adoção da técnica de alimentação com dietas de alto concentrado ou totalmente de concentrado, é de fundamental importância a compreensão e avaliação da conversão alimentar, não devendo se ter em mente aumento de ganhos de peso, visto não ser este o principal benefício do aumento da densidade energética da ração.

A redução no consumo e consequentemente no volume de alimento necessário para alimentação de animais com dietas 100% concentrado, é um fator que pode contribuir muito para a melhoria do sistema operacional e custos de alimentação das plantas de confinamento. Porém, no sistema de produção brasileiro, ainda deve ser aplicada com certa cautela, visto as diferenças de custo de alimentação e padrão genético dos animais comparado aos países que utilizam a técnica mais frequentemente, além da escassa produção de pesquisas.

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