Sem dúvida, a IURD constitui, hoje, o grande fenômeno da neopentecostalização no Brasil. Seu crescimento, tanto em número de fiéis quanto de templos, montagens de um aparato de empresas de serviços religiosos, com televisão, rádio, imprensa e produção fonográfica é impressionante e não encontra paralelo histórico em qualquer denominação pentecostal e neopentecostal.
Com efeito, as principais características da IURD que se tem verificado através de uma leitura acurada dos trabalhos dos pesquisadores que sempre estão presentes e que se compreendem estar intimamente ligadas a esse crescimento, são: a pregação enfática da teoria da prosperidade; exacerbação da guerra espiritual contra o diabo e seu séquito de anjos decaídos; liberalização dos usos e costumes estereotipados de santidade e, por último, o fato de a IURD estar estruturada empresarialmente, sem esquecer as características que são igualmente válidas para as outras Igrejas Pentecostais, que são: líderes fortes; uso de meios de comunicação de massa; estímulo à expressividade emocional; participação na política partidária; pregação da cura divina. Nesse sentido, é válido dizer que o culto praticado nas sessões da IURD é, predominantemente, o do atendimento a pessoas que lá comparecem afetadas por algum problema físico, psíquico, familiar ou econômico. Os pastores atribuem o surto desses problemas à intervenção do demônio, consequentemente aplicam exorcismos, o que fazem em meio a gritos, lágrimas, gemidos, convulsões, pancadas, aclamações e demais gestos. Dessa maneira, não é um exagero afirmar que a IURD tem estabelecido, com pleno conhecimento de causa, um sistema de magia, por sinal muito bem elaborado,152
151 Jornal do Brasil, 07.07.91.
institucionalizando práticas e crenças mágico-religiosas de inspiração cristã. Outra característica que vale a pena mencionar é a grande estima da IURD pelo bem material, em particular, pelo dinheiro. Aliás, seu fundador, Edir Macedo, declara para justificar: o “dinheiro é uma ferramenta sagrada que Deus usou na sua obra”.153 Daí, a importância nos cultos, do pagamento de dízimo, estimulando os fiéis, através de diversos modos, à entrega do dinheiro. A esse respeito há discursos inflamados como, por exemplo, o do próprio Edir Macedo:
Dar dízimo é candidatar-se a receber bênçãos sem medida (...) sob aspectos físico, espiritual e financeiro. Quando pagamos o dízimo a Deus ele fica na obrigação (porque prometeu) de cumprir a Sua Palavra, repreendendo os espíritos devoradores que desgraçam a vida do homem, atuando nas doenças, nos acidentes, nos vícios, na degradação social e em todos os setores da atividade humana, fazendo com que o homem sofra eternamente. Quando somos fiéis no dizimo, além de nos vermos livres desses sofrimentos, passamos a gozar de toda a plenitude da Terra, tendo Deus a nosso lado nos abençoando em todas as coisas. Quando falamos sobre o dízimo, somos sempre alvos de pilhérias, objeções ou críticas por parte dos incrédulos. É claro que se a pessoa não é iluminada pelo Espírito Santo de Deus, mesmo que compreenda o significado do dízimo, terá dificuldades para aceitar o fato de ela mesma precisar cumprir essa determinação da parte de nosso Criador.154
Além disso, o fiel deve dar a Deus tudo o que ele tem de precioso, no caso, o dinheiro e os bens são as coisas mais importantes para o homem na sociedade capitalista. Conclui-se, então, que o grande interesse da IURD é o serviço para o homem e para o mundo. Por outro lado, verifica-se que a doutrina da IURD é alicerçada nas ênfases teológicas principais, cuja transcrição é a seguinte: “A Teologia da prosperidade”, o que recorda uma frase significativa de uma das mais representativas autoras da New Age, Marilyn Fergunson: “Desejar é melhor do que conservar. Os meios são os fins. A viagem é o ‘destino’”,155 frase que possui um sentido, que se aproxima muito do que afirma o “bispo” Macedo:
153 Jornal da Tarde, 06.04.91.
154 MACEDO, Edir. Vida em abundância. Rio de Janeiro: Universal Produções, 2000, p. 56-58.
155 FERGUNSON, Marilyn. A conspiração aquariana. Rio de Janeiro, Record, 1989 apud CAMPOS, Leonildo.
Nunca teremos fé suficiente nas promessas de Deus, possuir o que pretendemos, enquanto nossos lábios estiverem confessando derrotas (...). Para os cristãos não existe o ‘não posso’ nem o ‘isso é difícil’. Não, não e não. Você pode todas as coisas se crer assim. ‘Tudo posso naquele que me fortalece’. Filipenses 4,13 deve ser o seu lema.156
Trata-se de um discurso apropriado para os excluídos, os inseguros, os desesperados e os pobres. Edir Macedo ensina que ‘ser cristão é ser filho de Deus’ e co-herdeiro de Jesus; dono por herança, de todas as coisas que existem na face da terra; proprietário de todo o universo. Portanto, ‘nada de se contentar com desgraça ou pobreza’. De fato, viver na presença de Deus é ter uma vida abundante, enquanto quem experimenta solidão e mágoas, doenças e sofrimento, pobreza e fracasso, ódio e morte é porque vive afastado do seu verdadeiro caminho.157 Assim, a “Teologia da Prosperidade” da IURD garante que Deus não se contenta com o fato de seus filhos serem pobres e necessitados. Eles são “filhos ricos” de um “Pai rico”, porque ainda, segundo Macedo:
O homem foi colocado na Terra para viver em abundância, sobre a fartura e a prosperidade. Adão não tinha escassez de água, nem de alimentos e nem precisava levar Eva, sua mulher, ao médico. Eles eram perfeitos e gozavam da perfeição de Deus, sem que lhe faltasse absolutamente ‘nada’.158
A “Teologia da Prosperidade” da IURD representa o caminho corrente pelo qual a tensão entre economia e religião pode desaparecer, deixando claro que não são as ideias, mas os interesses material e ideal que governam diretamente a conduta do homem, como afirmou Max Weber.159 Assim, a IURD enfatiza que o cristão está destinado a viver uma ida de alegria, de prosperidade, de paz em todas as coisas. Portanto, ela rompe com as preocupações escatológicas do pensamento histórico, embora afirme teoricamente crer e esperar a segunda vinda de Cristo, que será um improviso pessoal e pré-milenial.
156 MACEDO, Edir. Op. cit., p. 39-42.
157 CAMPOS, Leonildo Silveira. Op. cit., p.367. 158 MACEDO, Edir. Op. cit., p.24.
159 WEBER, Max. Ensaios de Sociologia, (org. e int. H. H. Gerth e C. Wright Mills), Rio de Janeiro: Zahar,
De fato, a IURD consegue crescer atraindo muita gente através de estratégias de marketing planejadas e praticadas por agentes interessados em sua divulgação. Mas o próprio fundador da IURD discorda dessa observação. A esse respeito, o próprio “bispo” Edir Macedo Bezerra, por ocasião da comemoração do 19º aniversário de sua Igreja, em julho de 1996, atribuiu seu crescimento à ação do Espírito Santo, em seguintes palavras: “Atribuo à ação do Espírito Santo o crescimento da Igreja. Não se trata de marketing bem feito, boa administração, nem qualquer razão humana. É ação do Espírito Santo mesmo.”.160 Como se vê, apesar da falha em sua Cristologia e Eclesiologia, a importância é dada ao Espírito Santo.