HISTÓRICO DA ATIVIDADE EDILÍCIA
CARACTERÍSTICAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL QUE OFERECEM RESISTÊNCIA À INOVAÇÃO
2.9. CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA
A indústria da construção civil brasileira é considerada tradicional e conservadora, o que se deve, em grande parte, ao fato de terem os grandes investimentos realizados neste setor no final da década de 70 sido financiados pelo Estado, que não deu a devida atenção ao aspecto da qualidade, fazendo com que as empresas não fossem em busca de inovações para melhorar seus produtos.
Outro agravante é que a mão-de-obra empregada neste setor é, em geral, mais despreparada e desqualificada que em outros setores da indústria, sendo em sua grande parte semianalfabeta, o que dificulta a implementação de novas tecnologias, fazendo com que a indústria da construção civil, em termos de eficiência, produtividade e qualidade, se situe aquém de outras indústrias (NASCIMENTO e SANTOS, 2003).
De acordo com Kureski et al.(2008), a Construção Civil brasileira é caracterizada pelos seguintes fatores:
Utilizar intensivamente mão-de-obra de baixa qualificação;
Uma demanda dependente da evolução da renda interna e das condições de crédito;
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Grande utilização de matérias-primas nacionais, com pouca importação;
Produtividade muito aquém da alcançada em países desenvolvidos, principalmente sob os aspectos tecnológicos e de gestão;
Problemas quanto à padronização e ao atendimento às normas técnicas, razão pela qual os percentuais de não-conformidade técnica dos materiais e componentes da construção civil são elevados.
A falta de uma entidade “homologadora/reguladora” na construção civil brasileira faz com que os agentes financeiros, como por exemplo, a Caixa Econômica Federal, não aceitem, para fins de concessão de créditos, a utilização de novas tecnologias, ou quando o fazem, que passem a liberar o crédito para edificações que utilizem sistemas inovadores, após longos períodos de estudo e pesquisa (MARTINS, 2004). A indústria da construção civil é predominante desenvolvida nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, e composta, na sua grande maioria, por pequenas e microempresas. A maior parte da produção realizada pela construção civil está relacionada a obras públicas (KURESKI et al., 2008). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/PAIC - 2005), dentre as 105.469 empresas brasileiras do ramo de construção civil, cerca de 93% são micro e pequenas empresas com até 29 trabalhadores (MELLO e AMORIM, 2009).
A construção civil brasileira atual é caracterizada por improvisação, adaptações, atrasos, descoordenação e desperdícios, alta rotatividade de mão-de-obra nas subempreitadas, baixa qualificação e pouca especialização da força de trabalho, compensados pela baixa remuneração e pelo uso intensivo do trabalho. Acrescente- se a este quadro a frágil organização sindical e o baixo nível de reivindicação dos operários do setor (BAPTISTA, 2009).
Os profissionais envolvidos na cadeia produtiva da indústria da construção civil possuem interesses, habilidades e níveis de conhecimentos bastante diversos, o que acarreta problemas na comunicação, e no desenvolvimento e qualidade dos produtos na construção civil (OLIVEIRA, 2008).
A construção civil brasileira também é conhecida como um setor que apresenta um grande número de acidentes de trabalho, em consequência de características como as citadas anteriormente. Os acidentes de trabalho prejudicam economicamente o país, pois oneram os gastos comsaúde e previdência, além de diminuir a capacidade
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produtiva, já que o operário tem de permanecer afastado do trabalho (PEREIRA et al., 2008).
Em 2003, segundo o IBGE, o setor da construção civil empregava 6,5% da população de pessoas ocupadas (Tabela 1), o que representava aproxidamente 5,2 milhões de pessoas. Desse percentual, 45,5% trabalhavam de forma autônoma, 7,4% estavam divididos em não-remunerados, empregadores e autoconstrução, e outros 47,1% eram empregados, sendo que mais da metade destes não possuíam carteira assinada.
Tabela 1 – Distribuição dos ocupados por setor e ramo de atividade econômica Brasil – 2003
SETOR E RAMO DE ATIVIDADE Brasil (em %)
Agrícola 20,7 Indústria 14,4
Construção 6,5
Comércio e reparação 17,7
Alojamento e alimentação 3,6
Transporte, armazenagem e comunicação 4,6
Administração pública 5,0
Educação, saúde e serviços sociais 8,9
Serviços domésticos 7,7
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 3,7
Outras atividades 6,9
Atividades maldefinidas ou não-declaradas 0,3
Total 100,0 Total de Ocupados (valores absolutos) 80.163.481
Fonte: Adaptado DIEESE (2006).
Dentre essas pessoas ocupadas na construção civil brasileira, apenas 28% contribuiam com a previdência social. Esse grande contingente de trabalhadores que não contribui fica à margem dos benefícios por ele proporcionados, tais como aposentadoria e auxílio-doença (DIEESE, 2006).
Outro indicador da pesquisa do IBGE mostra que mais de 90% dos trabalhadores da construção civil são do sexo masculino, e que a escolaridade dos trabalhadores desse setor tem melhorado, com a redução do número de analfabetos e o aumento do grau de escolaridade. Outro dado importante é que mais de 60% desses trabalhadores não permanecem na mesma empresa mais que 1 ano, situando-se o limite de permanência num mesmo emprego para este setor entre 2 e 5 anos. Tal
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fato comprova a alta rotatividade de pessoal, característica desse setor (DIEESE, 2006).
Além de todas essas características, os trabalhadores desse setor ainda são obrigados a cumprir longas jornadas de trabalho, 44 horas semanais, valendo frisar que funcionários atuantes em escritórios têm de atender a uma jornada de 40 horas. No entanto, essa longa jornada não garante aos trabalhadores um rendimento digno, vez que este setor abriga as menores remunerações, pois 47,6% dessa população ocupada recebe até dois salários mínimos (DIEESE, 2006).
Outra característica da construção civil brasileira é o desperdício, ora definido como sendo a utilização de todo e qualquer material além do necessário. Uma pesquisa desenvolvida por diversas universidades do país revelou que o índice médio de desperdício de materiais nas obras brasileiras está entre 7% e 8%, dados esses, aliás, maqueados, pois não levam em consideração o desperdício relativo à mão-de- obra. Alguns materiais, como é o caso da argamassa, apresentaram perdas de até 50%, índice bastante elevado. Já as perdas financeiras em uma obra podem chegar a 30% (AGOPYAN, 2001).
CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA
1. Tradicional e conservadora 2. Dependência da renda interna e do crédito
3. Uso de mão-de-obra pouco qualificada 4. Uso de matérias-primas nacionais 5. Uso intensivo de mão-de-obra 6. Baixa produtividade 7. Baixa remuneração dos operários 8. Problemas de padronização e
normatização
9. Alta rotatividade da mão-de-obra 10. Falta de entidade reguladora
11. Frágil organização sindical 12. Composta de pequenas e microempresas
13. Baixo nível de reivindicação 14. Grande produção de obras públicas 15. Grande número de acidentes de trabalho 16. Improvisações, adaptações e
atrasos 17. Operários cumprem longa jornada de
trabalho 18. Descoordenação
19. Profissionais com interesses, habilidades
e conhecimentos diversos 20. Desperdício
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