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E UTILIZAÇÃO DE PRÉ-FABRICADOS

TRANSPORTE E MOBILIDADE URBANA

4.3.1.3. Instância Municipal

No âmbito municipal, pode-se perceber a participação do segmento público na construção civil pela criação de leis municipais e de programas implementados pelas secretarias.

A autarquia municipal deve cumprir as funções sociais da cidade, garantindo a todos que nela vivem o direito à moradia, aos serviços e equipamentos urbanos, ao transporte público, ao saneamento básico, à saúde, à educação, à cultura e ao lazer (ABIKO e MORAES, 2009).

O município é o responsável por fiscalizar e controlar as obras que são edificadas, considerando aspectos urbanísticos, tais como afastamentos e taxas de ocupação, e aspectos de salubridade e habitabilidade, como iluminação e ventilação (GRASSELI, 2004).

Os planos diretores municipais e os códigos de obras, implantados por meio do Estatuto da Cidade, são exemplos de legislações que visam a regular o crescimento dos municípios de forma ordenada e com qualidade.

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O plano diretor municipal norteia o desenvolvimento da cidade, orientando e organizando o crescimento, por meio da divisão do espaço urbano em zonas, da definição dos usos permitidos e do tipo de ocupação, a fim de localizar as atividades de acordo com a vocação de cada local e a infraestrutura instalada ou projetada para aquela região. A partir do Estatuto da Cidade, estes planos passaram a ser obrigatoriamente elaborados com a participação de representantes da cidade, promovendo, assim, a discussão sobre a melhor forma como a cidade deve se desenvolver (INSTITUTO, 2008).

Dentre os estados da região sudeste, o Espírito Santo é o que possui o menor número de municípios com existência de legislação e instrumentos de planejamento urbano (Gráfico 2).

Gráfico 2 - Porcentagem de municípios da região Sudeste com existência de legislação e instrumentos de planejamento urbano.

Fonte: ESPÍRITO SANTO (2006)

O código de obras ou código de edificações estabelece critérios para a construção, reforma e ampliação das edificações, com condições mínimas de segurança, conforto, higiene e salubridade. Além disso, regula procedimentos administrativos e regras gerais para execução e manutenção, deixando o controle da qualidade das edificações a cargo de normas técnicas (GRASSELI, 2004).

Os planos diretores municipais e os códigos de obras e de posturas brasileiros, em geral, limitam-se a dividir a cidade por zonas, nas quais se definem quais usos poderão se instalar e qual será a forma de ocupação do terreno. Com relação aos

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aspectos construtivos, essas legislações muito pouco se manifestam, restringindo-se a itens como altura mínima de pé-direito e áreas mínimas de iluminação e ventilação. Em pesquisa realizada pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), foi feito um levantamento para apurar quais dentre os 78 municípios capixabas possuíam as leis urbanísticas básicas, consideradas indispensáveis para a gestão municipal (lei do Perímetro Urbano, Plano Diretor Municipal - PDM, lei do Parcelamento do Solo, Código de Obras, Código de Posturas, Código de Meio Ambiente e Plano Habitacional de Interesse Social). Na Tabela 3, está descrita a situação dos municípios capixabas com relação ao Plano Diretor Municipal e ao Código de Obras, considerados neste trabalho como instrumentos legais que podem contribuir para o avanço da utilização de sistemas construtivos industrializados.

Tabela 3 – Municípios capixabas que possuem PDM e Código de Obras.

SITUAÇÃO PLANO DIRETOR MUNICIPAL CÓDIGO DE OBRAS

Possuem lei 42 64

Lei em elaboração 4 6

Lei em tramitação* 7 1

Não possuem lei 24 4

Sem informação** 1 3

Total 78 78

Fonte: Adaptado de INSTITUTO (2008).

* Em tramitação: a lei já foi elaborada, mas ainda aguardava aprovação da Câmara Municipal.

** Sem informação: o Instituto Jones dos Santos Neves não obteve retorno do questionário enviado ou da consulta realizada.

Baseado no que recomenda o Estatuto das Cidades, os municípios que têm a exigência de possuir o PDM são aqueles com população acima de 20 mil habitantes ou que façam parte de região metropolitana. No Espírito Santo, 32 munícipios estão sujeitos a essa obrigatoriedade devido ao tamanho da população, e 1 em decorrência da localização na Região Metropolitana de Vitória, o que totaliza 33 munícipios a serem necessariamente regidos por essa lei. Pela pesquisa do Instituto Jones dos Santos Neves, observa-se que aproximadamente 54% dos municípios capixabas contam com o PDM e outros 14% estão em vias de conclusão do processo legislativo.

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Vale lembrar que, além da obrigatoriedade de um PDM para cada município, este instrumento deve ser elaborado com qualidade, incluindo diretrizes e normas que contribuam para o desenvolvimento da cidade e da melhoria de vida de sua população.

A partir de pesquisa realizada nos sites das prefeituras da Região Metropolitana de Vitória no ano de 2009, foi feito um levantamento das ações que se relacionam com o setor da construção civil, implementadas por essas prefeituras. A Região Metropolitana da Grande Vitória é composta pelos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão, que, juntos, concentram cerca de 50% da população do Estado em uma área de 5% do território capixaba.

Dentre as prefeituras municipais do Espírito Santo, a prefeitura da capital é a que se encontra mais bem estruturada e organizada com relação aos aspectos que versam sobre a questão da cidade. A Prefeitura Municipal de Vitória possui vários programas relacionados à área de construção civil, visando à melhoria da qualidade das construções e o crescimento ordenado da cidade.

Dentre esses programas, está o Programa Integrado de Desenvolvimento Social, Urbano e de Preservação Ambiental em Áreas Ocupadas por população de baixa renda, também conhecido como Terra Mais Igual. Este programa foi lançado em 2005, e apresenta-se como um aprimoramento de outro programa desta prefeitura, o Projeto Terra, possuindo uma atuação mais ampla, além das questões urbanísticas, avançando sobre questões sociais, como combate ao trabalho infantil e à pobreza, alfabetização de adultos e incentivo a práticas desportivas.

O Programa de Regularização de Imóveis tinha o objetivo de regularizar todas as edificações já construídas até 2003, e que não possuiam aprovação da prefeitura e/ou não estavam de acordo com o PDM ou Código de Obra. Este programa permitiu que esses imóveis, a partir da sua regularização, pudessem gozar dos benefícios concedidos às edificações regulares, como, por exemplo, a expedição de um alvará de funcionamento.

Nesta prefeitura, está em fase de implantação um sistema de aprovação de projetos informatizado, no qual é permitido o acompanhamento de todas as fases desse processo digitalmente e o que também reduz o tempo de tramitação.

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A Secretaria Municipal de Habitação, para suprir a necessidade de habitações populares, criou o Projeto Moradia, que promove a construção de residências e conjuntos habitacionais para famílias de baixa renda. Os empreendimentos desse projeto estão enquadrados em programas do governo federal, tais como o Programa de Arrendamento Familiar. Dentro desse projeto, houve uma experimentação de nova tecnologia construtiva com a construção de uma casa com paredes estruturais de elementos pré-fabricados de concreto (Figura 77).

Figura 77 - Sequência de construção de habitação popular utilizando sistema construtivo em concreto pré-fabricado.

Fonte: www.vitoria.es.gov.br

O Projeto Vitória de Todas as Cores promove a melhoria nas condições de habitabilidade e na estética de casas localizadas em áreas de interesse social, através de reparos na alvenaria, reboco e pintura das fachadas, e na recuperação de telhados. Além disso, promove a capacitação profissional das pessoas que trabalharão no projeto e a conscientização da comunidade através de temas propostos para o projeto, como meio ambiente.

O Projeto Morar sem Risco atua em moradias em situação de risco, seja pelo terreno, seja pela edificação em si. Esse projeto contempla desde o auxílio na reforma da moradia em situação de risco, até a transferência de famílias que nela habitam.

O Projeto Morar no Centro prevê a reforma e reabilitação de edificações desocupadas ou subutilizadas, localizadas no centro da capital, para o uso residencial.

O Projeto Terreno Legal promove a regularização de terrenos em situação não legalizada, concedendo aos moradores certos direitos, tais como o direito a um endereço oficial, atendimento pelos serviços da prefeitura e escritura do terreno.

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A Secretaria de Meio Ambiente possui programas que visam à melhoria da qualidade ambiental e influenciam na melhoria da infraestrutura da cidade, dentre os quais estão o Gestão Ambiental da Cidade e o Tratamento de 100% do esgoto municipal.

Sob a direção da Secretaria de Obras, desenvolve-se o Programa Municipal da Qualidade em Obras Públicas, o Qualiobras, que tem o objetivo de aumentar a qualidade e a produtividade das obras públicas municipais, por meio da gestão das contratações e das obras, previnindo falhas, otimizando recursos e reduzindo custos. Este programa é uma parceria com a iniciativa privada e segue as diretrizes do PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat); dessa forma, as empresas vão gradualmente se adequando e adquirindo capacitação, e a prefeitura passa a exigir a certificação da empresa para que possa fornecer serviços ao município.

A Secretaria de Obras ainda possui o programa de Macrodrenagem de Vitória e o Projeto Mapenco. O Programa de Macrodrenagem visa à melhoria do sistema de drenagem de todo o município, para evitar problemas com as chuvas. O Projeto Mapenco, fruto de uma parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo, faz o mapeamento das áreas de risco no município.

Com exceção da prefeitura de Vitória, os outros municípios da Região Metropolitana de Vitória apresentam em seus sites oficiais poucos programas voltados para a área da construção civil, e alguns deles nem contam com tais programas. A prefeitura municipal de Vila Velha não disponibiliza qualquer informação sobre programas municipais nas secretarias de desenvolvimento urbano, de meio ambiente, infraestrutura e projetos especiais, e obras. É interessante observar que este município sequer possui uma secretaria de habitação.

Apesar dos vários exemplos de ações adotadas pelo segmento público descritas neste item, a participação desse segmento no cenário atual ainda encontra-se bastante aquém daquela que ele poderia atingir.

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