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2.2 O modelo de rede

2.2.3 Características da rede

Conforme visto anteriormente, são muitos os tipos de redes e o desafio de sintetizar suas conceituações. A proposta desse item é apresentar e definir as principais características desses modelos organizacionais.

Para Mandell (1990) a análise das características da rede passa pela definição de algumas variáveis.

Essa variáveis envolvem a compatibilidade dos membros, que diz respeito a compatibilização entre os objetivos individuais de uma dada organização com o objetivo da rede; o ambiente de mobilização de recursos, que trata sobre a disponibilidade de recursos e o controle que é feito sobre eles; e o ambiente social e político, que leva em consideração o poder e os conflitos, que são decorrentes da interdependência entre as organizações num ambiente de rede.

Com relação as características de redes, Fleury e Ouverney (2007) as divide em dois grupos: as vantajosas e as desvantajosas, sendo que essas últimas podem ser motivos de limitação da eficácia da rede ou gerar problemas e dificuldades para sua gestão.

O que mais caracteriza o modelo de rede são a horizontalidade de poder e a interdependência entre seus vários participantes, que são os grandes diferenciais do modelo de rede em relação a outros modelos organizacionais. Mas também se destacam outras quatro características da rede: a pluralidade de participantes, a sua capilaridade, a flexibilidade de sua dinâmica e o dinamismo do estado num modelo de rede.

Essas características da rede são consideradas vantajosas pelos seguintes aspectos: - Horizontalidade de poder: é baseada na divisão igualitária de poder entre os membros de uma rede, que mantém sua autonomia. O planejamento que contém os objetivos, as metas e as estratégias é construído a partir do consenso entre os participantes. Como esse consenso é obtido por meio de um processo de negociação, isso acarreta a cada participante um aumento de responsabilidades e de compromissos com relação aos objetivos da rede.

- Interdependência entre seus membros: junto com a horizontalidade, forma a base do modelo de rede. Os arranjos organizacionais são feitos porque uma organização sozinha não é capaz de atender uma certa demanda. Então é necessário que ocorra uma integração entre duas ou mais organizações, que possam executar as tarefas demandadas pela rede, compartilhando recursos, tanto financeiros como materiais. Essas demandas podem ser provenientes de políticas públicas, para atender um bairro, uma cidade ou um país, ou simplesmente, para o caso do mercado, de uma oportunidade de expansão de atuação e penetração das organizações, para além daquilo que elas poderiam oferecer e, consequentemente, lucrar.

- Pluralidade de participantes: diz respeito a variedade de atores pertencentes a uma rede. Independente da motivação que levou a formação da rede, e as demandas que deverão ser atendidas por ela, com mais atores participando, surge a possibilidade de uma maior mobilização de recursos e garante a diversidade de opiniões sobre as questões relacionadas a rede.

- Capilaridade da rede: como as atividades da rede normalmente estão dispersas por vários lugares e são atendidas por diversas organizações, e estas de portes variados dependendo da região em que estão atacando o problema que a rede se propôs a resolver, a capilaridade permite que as decisões nesse modelo organizacional sejam democráticas, contando com a participção de todas as organizações envolvidas, independentemente de seu porte ou de suas condições, mas com a importância estratégica de estarem próximo e conhecerem o problema.

- Flexibilidade da dinâmica do modelo de rede: esse modelo, pelo próprio desenho já mencionado em itens anteriores, onde se tem uma horizontalidade de poder e a interdependência das organizações, onde as decisões são tomadas por todos os

participantes e de forma consensual e negociada, permite que sua gestão seja adaptada a cada realidade que se apresenta. Utilizando como instrumento de gestão, não o controle, mas o monitoramente da rede, a qualquer momento que as atividades estejam sendo executadas, é possível articular novas ações de planejamento, modificar rumos e retroalimentar e redesenhar o modelo inicial.

- Dinâmica do estado nesse novo modelo: essa característica dependerá do modelo. No entanto é possível supor que, no caso das redes que envolvam apenas instituições públicas, a diferença se dará na maneira em que estas instituições se relacionarão, buscando atender as demandas com mais celeridade e viabilizando alternativas menos burocráticas. Quando a rede envolver organizações públicas e privadas, o que se espera e busca é uma presença do estado mais solta, com menos entraves burocráticos, e nem por isso fugindo dos normativos legais, mas buscando executar as ações na mesma velocidade das organizações privadas e/ou exigidas para atendimento da rede.

No entanto, conforme mencionado anteriormente, algumas características, inclusive já consideradas vantajosas por determinadas circunstâncias apresentadas, podem gerar limitações para a rede, diminuindo, inclusive, sua eficácia (FLEURY, 2005). São elas:

- Numerosos participantes: com grande número de participantes, poder distribuído de forma horizontal, o grande desafio é garantir a prestação de contas, denominada accountability, dos recursos públicos utilizados, e por que não, dos resultados efetivos da rede, principalmente das redes públicas. A questão é tão preocupante que a accountability será tratada em detalhes mais adiante.

- Processo de negociação e geração de consenso: dada a característica do modelo de rede, em que a negociação e o consenso devem sobrepor qualquer decisão autoritária, para o caso de uma discussão prolongada, lenta, até se conseguir o consenso, poderá gerar retardo na solução de problemas que exijam respostas imediatas.

- Metas compartilhadas: o problema está, novamente, na questão de quem é o responsável pelos resultados da rede. Quanto mais participantes e quanto mais as metas são compartilhadas, menor a responsabilidade de cada membro da rede, podendo gerar o não cumprimento dos objetivos da rede.

- Dinâmica flexível: dada a flexibilidade da rede, se os membros não estiverem focados e cientes dos objetivos propostos, eles poderão se afastar desses objetivos iniciais, o que será sentido, principalmente, em momentos cruciais de ações da rede.

- Critérios de participação na rede: no caso o problema está atrelado, basicamente, nas redes de políticas públicas, pois não sendo os critérios de participação explícitos e universais, poderão gerar marginalização de grupos, pessoas, regiões, etc., em detrimentos de algumas elites.

- Controle e coordenação das interdependências: conforme apresentado e discutido em itens anteriores, se o monitroamento é importante, o controle e a coordenação podem gerar dificuldades na gestão da rede, pois a diferença desses conceitos para o modelo de rede comparado com os outros modelos organizacionais é bastante tênue e dispersa.

Portanto, o que se verifica é a complexidade do modelo de rede, associado a dubiedade de algumas características, cuja gestão estratégica é considerada por alguns autores, a grande lacuna nesse campo de estudo.