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Características das atividades espontâneas e organizadas

PARTE III – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

2) Características das atividades espontâneas e organizadas

As atividades de tempo livres apresentam características específicas para cada criança, podendo estas serem realizadas de forma espontânea ou de forma organizada. Neste sentido, nas sessões dos grupos de foco pretendeu-se averiguar que atividades as crianças mais rapidamente associam a atividades de tempo livre, utilizando para tal 6 figuras de várias atividades (Anexo II), todas com diferentes características. A 1.ª e 2.ª figura referem-se ao ato de jogar futebol, contudo na 1.ª é possível ver que o jogo decorre num campo com relvado e com treinador e na 2.ª a prática ocorre de forma informal na rua. Por sua vez, a 3.ª figura mostra alguém a utilizar o tablet para, por exemplo, consultar o Facebook, a 4.ª refere-se à natação numa piscina com características olímpicas, a 5.ª ilustra uma família a ver televisão e a 6.ª refere-se ao deporto de equitação. Das atividades aqui mencionadas, há três que podem ser consideradas atividades realizadas de forma mais espontânea (2.ª, 3.ª e 5.ª) e outras três que têm características que se relacionam com regras específicas sobre espaço, tempo, equipamento, etc., sendo, por isso, atividades mais organizadas e estruturadas (1.ª, 4.ª e 6.ª).

No início, as crianças demostraram algumas dúvidas em classificar todas as figuras como atividades de tempos livres. As atividades que suscitaram mais incertezas, por parte das crianças, foram estar no tablet (figura 3) para aceder, por exemplo, às redes sociais e a equitação (figura 6). Algumas crianças explicaram porque não consideravam estas atividades como atividades para realizar nos tempos livres. O Ricardo (GF3, 5.º ano), por exemplo, comentou que uma atividade para ser de tempo livre tem de ser realizada ao ar livre, sendo que, por essa razão, esta criança não considerava estar no tablet uma atividade de tempo livre, pois associa tal atividade ao interior de casa. Por sua vez, a Jéssica (GF6, 6.º ano) disse que, para ela, estar no tablet (figura 3) ou no computador (figura 9) não é uma atividade de tempo livre, uma vez que os tempos livres devem, segundo a sua perceção, pressupor divertimento, no sentido de não dedicar esse tempo a uma atividade sedentária como as referidas. Com os testemunhos destas crianças percebeu-se que para elas o tempo livre diz respeito a um tempo que deve ser ocupado com atividades que proporcionam entretenimento e sejam, de preferência, ao ar livre, onde possam ser mais espontâneas e praticar exercício físico. Registou-se também os testemunhos de algumas crianças

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que argumentaram a favor de todas as atividades poderem ser atividades de tempos livres, pois como diz o Telmo (GF1, 5.º ano), sempre que o tempo está livre e desocupado de tarefas obrigatórias, como a escola, podemos ocupar-nos com o que quisermos. Salienta-se que o que aqui foi descrito e analisado pode ser comprovado pelas citações apresentadas de seguida.

Moderadora – Quais é que tu achas que não são (atividades de tempos livres, tendo em conta as figuras)?

Ricardo – Esta (apontou para a figura 3). (…) Moderadora – Porque achas que não é?

Ricardo – Atividade livre é estar ao ar livre, fazer coisas…!? (GF3, 5.º ano). Moderadora – Porque não é (a Jéssica apontou para a figura 3)?

(…) Jéssica – Porque os tempos livres deviam ser tipo divertirmo-nos e isso, e não estarmos sempre ali…

Moderadora – Então achas que quando estás no tablet ou no computador tu não te divertes? Tu não gostas?

Jéssica – Mais ou menos. (GF6, 6.º ano).

Telmo – Pode–se inscrever num deporto quando se tem um tempo livre, por exemplo na equitação. (GF1, 5.º ano).

Ao longo da discussão, os participantes chegaram ao consenso de que todas as figuras apresentadas ilustram atividades de tempo livre, apesar das diferenças que alguns referiram existir, como o facto de terem regras diferentes para a participação; acontecerem em espaços distintos; e carecerem de condições específicas relacionadas com o horário, por exemplo. Ou seja, as crianças concordaram que mesmo que a atividade em si não preveja estar ao ar livre, pode ser considerada uma atividade de tempo livre, desde que haja entretenimento, como diz a Liliana: “Eu acho que são todas de tempo livre, porque mesmo no tablet ou no computador, nós estamos a divertir-nos (…)” (GF6, 6.º ano). Além disso, foi referido por algumas crianças que, mesmo com a existência das diferenças identificadas, o convívio pode estar sempre presente, mesmo sendo interativo. O convívio é um dos aspetos que também valorizam aquando a escolha de uma atividade de tempo livre. O Leandro e a Bárbara reforçam a ideia de que as atividades mediáticas realizadas no interior das suas habitações podem significar divertimento e interação com os seus pares, mesmo que virtualmente: “Podemos estar a falar com um amigo. (…) É divertimento interativo” (Leandro, GF6, 6.º ano); “São tempos divertidos, mas de maneiras diferentes” (Bárbara, GF6, 6.º ano).

De acordo com estes dados, segundo as partilhas das crianças, o fundamental para uma atividade ser considerada uma atividade de tempo livre é a interação com amigos e/ou família e o divertimento inerentes à sua realização, independentemente de serem ou não concretizadas no exterior. Para além disso, identificamos que, como seria de esperar, as crianças valorizam a

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satisfação que a atividade lhes proporciona. Ou seja, as crianças procuram atividades de tempo livre para se ocuparem, quando não têm mais nada para fazer e, assim, passarem os seus tempos livres com algo que lhes interessa e satisfaz, como é enunciado, por exemplo, pela Lúcia: “Porque gostamos e porque podemos ocupar os nossos tempos livres. É uma coisa que nos interessa.” (GF2, 5.º ano).

Moderadora – Porque é que vocês escolhem determinadas atividades (de tempo livre)? Lúcia e Clara – Porque são divertidas.

Mateus – Porque gostamos.

Teresa – E porque não temos mais nada para fazer… (GF2, 5.º ano).

Moderadora – O que é que as atividades precisam de ter para serem de tempo livre? Jéssica – Diversão.

Sílvia – Para mim eu acho que tem é de nos entreter, tem de nos manter fixos a fazer alguma coisa, nos divertir, mesmo que seja virtual.

Bárbara – Para nos divertir-nos.

Leandro – Conviver com os nossos amigos. (GF6, 6.º ano).

Em suma, segundo as perceções das crianças, quando elas escolhem uma atividade de tempo livre fazem-no, geralmente, com o intuito de se divertirem, satisfazerem e interagirem com os amigos ou família, ocupando os seus tempos livres.