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PARTE II – METODOLOGIA DO ESTUDO

4. Instrumentos de investigação

4.1. A opção quantitativa – Inquérito por Questionário

Para dar início ao estudo e se perceber a realidade social de uma forma mais abrangente foi utilizado um inquérito por questionário, que é uma técnica estruturada de obtenção de informações mais precisas e contextualizadas de grande grupos de pessoas (Campenhoudt & Quivy, 2008; Coutinho, 2013). Desta forma, recorrer-se-á a este instrumento com o intuito de se averiguar que atividades as crianças desenvolvem nos tempos livres, se veem os media como forma de os ocupar, percebendo-se qual a importância, usos e práticas e como percecionam a mediação parental. Para além disto, o questionário ajudará a caracterizar as crianças do ponto de vista sociodemográfico, nomeadamente ao nível da idade, género, número de irmãos e ano de escolaridade e os seus pais, ao nível da profissão e habilitações escolares. Neste sentido, os objetivos da utilização do instrumento são os seguintes:

1. Identificar as atividades mais frequentemente realizadas pelas crianças nos seus tempos livres e as suas preferências.

2. Conhecer os acessos, usos e práticas mediáticas das crianças (nomeadamente, videojogos, Internet e televisão).

3. Analisar a importância dos media nos tempos livres das crianças.

4. Conhecer as perceções das crianças sobre a mediação parental em relação aos usos dos media.

A elaboração do inquérito por questionário teve como base essencial o documento “Global Kids Online: Child and parent questionnaire”, que compila as perguntas mais utilizadas em investigação e as melhores práticas. O documento foi escrito por investigadores que compõem a rede EU Kids Online. Para a construção do questionário foi necessário utilizar como exemplo o questionário da investigação “Níveis de literacia mediática: estudo exploratório com jovens do 12º ano” (Pinto, Moura, & Pereira, 2015) e o questionário do estudo “Crescendo entre ecrãs: usos dos meios eletrónicos por crianças” (Ponte et al., 2017). Estes documentos revelaram-se fundamentais para a construção do questionário, uma vez que permitiram descobrir qual o estilo de linguagem mais adequado (tendo em conta que um deles teve como público alvo crianças com idades próximas às da amostra da minha investigação) e porque permitiu compreender de que forma estruturar, organizar e categorizar as questões e os blocos temáticos.

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O questionário (Anexo I) divide-se em quatro blocos temáticos. O primeiro bloco refere-se ao retrato sociodemográfico das crianças e da sua família, ao nível do género, idade, número de irmãos, nível de escolaridade dos pais e profissão dos mesmos. As práticas de tempos livres referem-se ao segundo bloco, pretendendo-se com este descobrir de que forma as crianças vivem hoje os seus tempos livres e de lazer e que atividades escolhem para ocupar o seu tempo. O terceiro bloco designado de hábitos de consumo mediático contempla o acesso e uso dos meios de comunicação e informação e qual é a importância destes no quotidiano das crianças. Por fim, o quarto bloco, práticas de mediação parental, tem como objetivos compreender, a partir das perceções das crianças, que tipo de mediação é realizada em suas casas. A definição dos blocos temáticos com base no que se pretende investigar permite-nos, de seguida, delimitar e afunilar a investigação, definindo as dimensões que constituem os conceitos do fenómeno dos media (Campenhoudt & Quivy, 2008). Definidas as dimensões, segue-se a definição dos indicadores. Os indicadores são os aspetos e traços relacionados com as dimensões que darão a informação que se procura investigar, no sentido de concretizar os objetivos e responder às questões (Campenhoudt & Quivy, 2008).

Depois do instrumento de investigação construído, procedeu-se à revisão e correção do mesmo com a colaboração e orientação da orientadora. De uma forma geral, as principais alterações relacionaram-se com a forma como as questões estavam formuladas e com a adequação da unidade de tempo consoante as questões. Neste sentido, tentou-se redigir um questionário com questões mais diretas e acessíveis à compreensão do público-alvo, de maneira a obter-se dados concisos e claros que respondessem aos objetivos delineados. A aplicação do questionário foi feita a 101 crianças e todos foram considerados válidos.

A tabela 1 apresenta a divisão das dimensões e indicadores pelos blocos temáticos, assim como a correspondência às questões presentes no instrumento de investigação.

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Tabela 1 - Blocos temáticos do questionário Blocos

temáticos Dimensões Indicadores Questões

A. Retrato sociodemográfico Dados sociodemográficos da criança Idade Género Ano de escolaridade Não possuem numeração Dados sociodemográficos da família Número de irmãos 1

Habilitações dos pais 2

Profissão dos pais 3

B. Práticas de tempos livres

Ocupação dos tempos livres e de lazer por atividades espontâneas e/ou organizadas

Atividades realizadas mais

frequentemente 4, 5, 6, 7 Atividades favoritas 8, 9 C. Hábitos de consumo mediático

Acesso e uso dos media Disponibilidade dos meios 10 Frequência do uso dos

meios 11, 12, 17

Tempo de utilização dos

meios 13,18, 23

Atividades realizadas mais

frequentemente na Internet 19 Preferências de atividades 14, 20, 24 Perceções e importância dos

media 27

D. IV - Práticas de mediação parental

Mediação restritiva Imposição de regras e restrições

15, 16, 21, 22, 25, 26,

28 Mediação ativa Discussão crítica de

determinado assunto Mediação distante Observação das práticas

mediáticas

4.2. A opção qualitativa – Grupos de Foco

Para a segunda fase do estudo, o instrumento utilizado foi o grupo de foco, técnica caracterizada pelo formato de uma discussão guiada sobre uma determinada temática (Coutinho, 2013). É utilizada para examinar as práticas, perceções e crenças das pessoas no seu contexto natural de convivência com os pares, com o intuito de se descobrir significados e sentimentos, representações compartilhadas, interesses e experiências, entre outros tópicos específicos, sobre os quais os participantes falam (A. A. Gomes & Galego, 2005; Haddon & Livingstone, 2013). Assim

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sendo, serviu para estudar de forma mais aprofundada, através do discurso das crianças e da discussão da temática, como é que as crianças vivem hoje os seus tempos livres e qual a presença e importância dos media, resultando informações qualitativas e pouco estruturadas (Coutinho, 2013). Antes de mais, importa referir que se considerou pertinente proceder à implementação dos grupos de foco para se esclarecer e aprofundar os dados recolhidos pelo inquérito por questionário. Neste sentido, os objetivos deste instrumento de investigação foram delineados de modo a detalhar e melhor compreender os dados do método quantitativo, sendo os seguintes:

1. Compreender que atividades as crianças associam aos tempos livres e se as realizam de forma espontânea.

2. Averiguar a liberdade de escolha em relação às atividades de tempos livres e qual a importância dessas atividades.

3. Verificar a presença dos media nos tempos livres das crianças e qual a sua importância. 4. Conhecer a perceção sobre mediação que os pais fazem em relação ao acesso e usos

dos media.

A literatura indica que cada grupo de foco deverá ser constituído por 6 a 12 pessoas, permitindo-se que todos possam participar. Se o grupo for muito grande, a discussão de ideias poderá ser mais confusa e menos específica e também haver menos à vontade. Por outro lado, se for muito pequeno a discussão poderá ser pouco produtiva e profunda. O estudo não deverá, por razões de legitimidade, limitar-se a apenas um grupo de discussão. Para além disto, a sessão não deve demorar mais que 2 horas, sendo que como a amostra do presente estudo reúne crianças pequenas de 10 a 12 anos de idade, o tempo de cada sessão variou, aproximadamente, entre os 20 e os 30 minutos (Coutinho, 2013; Gomes & Galego, 2005; Haddon & Livingstone, 2013). Outra característica dos grupos de foco prende-se com a homogeneidade e a heterogeneidade. Grupos heterogêneos podem facilitar o surgimento de informações ou crenças não compartilhadas, contudo, os participantes tendem a adotar posições menos flexíveis no decorrer da discussão. Em grupos homogéneo o ambiente é mais propício à partilha de experiências em comum e mais íntimas (Morgan, 1997, citado por Gondim, 2002, pp. 156–157).

No que diz respeito ao investigador/moderador, este deve posicionar-se como facilitador da discussão em grupo e deve ser capaz de dirigir e promover o debate através de perguntas claras e focalizadas no tema, minimizando a dispersão (Gomes & Galego, 2005; Haddon & Livingstone, 2013).

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Na prática, os grupos de foco iniciaram-se com a enunciação das regras fundamentais para uma boa discussão, como por exemplo, falar um de cada vez, não manter conversas paralelas, terem todos a oportunidade de intervir e, por questões de fiabilidade dos dados, falarem alto para a gravação de áudio ser percetível. No que concerne aos participantes, os grupos de foco foram constituídos por 39 alunos: 20 crianças do 5.º ano, o que originou dois grupos de 7 elementos e um grupo de 6 elementos; e 19 crianças do 6.º ano, organizadas em dois grupos de 6 elementos e um grupo de 7 elementos. As crianças foram distribuídas pelos grupos de forma aleatória, não havendo uma distribuição homogénea de género pelos grupos.

Este instrumento (Anexo II) foi utilizado como complemento do instrumento quantitativo, pois surgiu com o interesse de aprofundar os dados recolhidos e previamente analisados dos inquéritos por questionário e de esclarecer algumas dúvidas daí decorrentes, clarificando e confirmando os resultados (Gomes & Galego, 2005).