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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 2. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOCENTE

3.1. Características do último modelo de avaliação

Findo o 1.º ciclo de avaliação (2007/2009), entendeu o Ministério da Educação proceder a uma análise dos contributos adquiridos durante a aplicação deste regime e desencadear uma revisão para aprofundar o sistema de avaliação de desempenho da atividade docente. Foi celebrado, em 8 de Janeiro de 2010, um acordo de princípios entre Ministério da Educação (ME), Associações Sindicais e Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP).

Tendo como missão o acompanhamento e monitorização do regime de ADD em Portugal, e na sequência do memorando de entendimento, o CCAP divulga em Junho de 20093 as recomendações intituladas “Contributos para a Tomada de Decisão”, tendo em vista a introdução de modificações que permitissem configurar e operacionalizar o ciclo de avaliação seguinte.

Como resultado desta revisão, é publicado o Decreto-lei n.º 75/2010 de 23 de Junho, que altera o anterior ECD, no qual ganha expressão o papel da avaliação na melhoria da qualidade da escola pública e do serviço educativo, e também na valorização do trabalho e da profissão docente.

Na mesma data, é também publicado o vigente Decreto Regulamentar n.º 2/2010, que introduz alterações ao anterior normativo, definindo as atuais orientações para o sistema de avaliação do pessoal docente, tendo em consideração os princípios e objetivos subjacentes à avaliação do desempenho dos trabalhadores da Administração Pública, bem como as recomendações efetuadas pelo CCAP e pela OCDE.

Este normativo, no seu preâmbulo, justifica que as alterações introduzidas visam “clarificar a articulação com a progressão na carreira e o desenvolvimento

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profissional, valorizar a dimensão formativa da avaliação, centrar num órgão colegial a decisão sobre o desempenho do avaliado e envolver mais os docentes no processo e nos resultados da avaliação”.

Mantendo-se na sua essência as mesmas diretivas do sistema de avaliação aplicado no 1.º ciclo de avaliação, destacam-se, como principais alterações, as seguintes:

 A carreira docente ficou estruturada numa única categoria, terminando a distinção entre professores e professores titulares.

 Esta alteração, desde o seu início, causou uma hierarquia entre pares, não aceite pelos docentes, em virtude dos critérios que determinaram o 1.º concurso para professor titular, não tendo procedido ao reconhecimento de mérito, cingindo-se a premiar o exercício de cargos nos últimos sete anos, levando esta estrutura à condenação e comprometimento de qualquer sistema de avaliação do desempenho docente.

 É introduzida uma figura central no processo de avaliação, o "Relator", pertencente ao mesmo grupo de recrutamento do avaliado, designado pelo Coordenador de Departamento Curricular, de acordo com os requisitos legislados e que deve acompanhar o desempenho do docente avaliado, mantendo com ele uma interação permanente, tendo em vista potenciar a dimensão formativa da avaliação;

 É condição necessária para passagem ao 3.º e 5.º escalões a observação de aulas, no ciclo de avaliação precedente à subida de escalão, e dependência de vaga à progressão ao 5.º e 7.º escalões;

 É elemento essencial do processo, a "autoavaliação" efetuada por cada docente, respeitando as orientações legislativas, concretizando-se através da elaboração de um relatório a entregar

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ao relator, sendo este precedido da elaboração da proposta de ficha de avaliação global;

 A avaliação final é da responsabilidade do júri de avaliação (composto pela Comissão de Coordenação da Avaliação do Desempenho e pelo Relator) que procede à análise dos elementos do processo de avaliação, aprecia a proposta apresentada pelo relator e atribui a menção qualitativa e a classificação final, mediante o seu registo na ficha de avaliação global.

A publicação tardia do normativo vigente (de novo a meio do ciclo avaliativo), levou a que, em Novembro de 2011, algumas estruturas sindicais a manifestassem, solicitando junto do ME a substituição imediata do modelo de avaliação, alegando a sua inadequação, complexidade e falta de orientações claras por parte do ME, relativamente aos procedimentos a adotar implicando graves dificuldades no funcionamento das escolas.

As estruturas sindicais não obtiveram da parte do ME resposta favorável, argumentando este não existir qualquer razão para a reivindicação, não aceitando existir “falta de indicações, de esclarecimentos ou de orientações"4

por parte da tutela a propósito da avaliação do desempenho docente.

O Secretário de Estado sublinhou também que a diversidade de situações no quadro do sistema educativo em Portugal é "muito significativa". "Há professores no desempenho de uma pluralidade de funções e, portanto, em alguns casos é necessário encontrar as soluções mais adequadas para levar a cabo a avaliação do desempenho desses docentes". Acrescentou ainda que o modelo de avaliação do desempenho docente é "uma óptima oportunidade de aprendizagem e de desenvolvimento profissional dos nossos educadores de infância e dos nossos professores".

4 Palavras do Secretário de Estado Adjunto da Educação, Alexandre Ventura, à Agência Lusa em 11 de Novembro de 2010.

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Parece-nos expectável, após a abertura à negociação, e considerando as dificuldades detetadas, que as orientações emanadas da tutela e o envolvimento por parte das escolas convirjam no mesmo sentido.

Tendo presente a complexidade do primeiro ciclo de avaliação, é crucial no início do segundo, um espaço de reflexão, tendo em vista a superação dos erros detetados e a melhoria dos processos. Destaca-se a necessidade de que o processo de avaliação deve pressupor uma relação entre a participação dos diferentes intervenientes da atividade de avaliação e a aceitação ou reconhecimento do valor e da pertinência dos resultados e a produção da mudança.

Mas, qualquer abordagem que se faça sobre a avaliação, causa sempre alguma perplexidade pelo facto de a mesma estar associada à ideia tradicional de classificação ou medição. No entanto, ainda que a avaliação se traduza num número ou numa medida, a sua ação e aplicação deve superar esse patamar, promovendo a consistência entre os processos como pilares dos resultados, elevando à melhoria e (re)construção do seu próprio conhecimento. Refere o estudo da OCDE de Julho de 2009 que “é crucial dotar a globalidade das escolas com as competências indispensáveis ao desenvolvimento eficiente de um processo de avaliação”, no entanto, “é igualmente óbvio que a avaliação dos professores só valerá a pena, a longo prazo, caso se torne parte integrante de uma cultura em que cada escola é uma comunidade profissional de aprendizagem”.