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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2. Caracterização da relação contratual na cadeia produtiva da castanha de

4.2.3. Características dos contratos da cadeia produtiva da castanha de caju

tabulação dos dados, uma visão genérica da tramitação e caracterização das relações econômico-jurídicas específicas entre os agentes da cadeia produtiva da castanha de caju. O fluxo se comporta da seguinte forma:

[CAJUCULTORCORRETORES EMPRESAS PROCESSADORAS] Os contratos de fornecimento que representam as transações na cadeia produtiva da castanha de caju, com amparo nos tipos classificatórios expostos na revisão teórica do trabalho encontram-se categorizados como contratos típicos, haja vista o fato de que corresponde a um Contrato de Compra e Venda42 que se encontra exaustivamente

regulado no Código Civil em seus arts. 481 até 532. Isto não quer dizer que os agentes

42 O Código Civil Brasileiro, assim define o Contrato de Compra e Venda em seu art. 481. “Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.”

contratantes envolvidos não se possam utilizar de um outro tipo contratual43 ou, quando da formação do contrato de compra e venda, utilizem de institutos atípicos44 , cuja finalidade tenha cunho probatório e/ou garantidor. Esta classificação denota que, em caso de lide contratual em que, os acordos já tenham sido exauridos, encontrar-se-á nas regras tipificadoras do código sua possível solução.

No que tange à forma adotada, os contratos de fornecimento na cadeia produtiva da castanha de caju são do tipo Consensual, pois são avençados sem a exigência jurídica de forma especial45, bastando para tal a livre e espontânea expressão de vontade dos agentes em pactuar entre si. Respectiva forma contratual, quando das possíveis lides no contrato, se levadas ao crivo do Poder Jurisdicional do Estado, dever-se-á, em primeiro plano, provar a sua existência com documentos, testemunhas, presunções, confissões etc, e, somente a partir daí, conhecer o litígio e aplicar os efeitos legais para a sua solução.

Quanto à comutatividade prestacional, respectivo contrato de fornecimento enquadra-se na espécie de contrato oneroso, pois à prestação do agente (comprador) de dar dinheiro corresponde a do outro (vendedor) de transferir o produto. A importância desta classificação está em que tais prestações e contraprestações deverão, no decorrer de toda execução contratual, permanecer sempre equivalentes; do contrário, o princípio da Justiça Contratual estará sendo infringido, ensejando, de forma imediata, a sua revisão. O equilíbrio e a equivalência prestacional obrigatória, não apenas limitam o direito das partes de serem livres na contratação, evitando o abuso de direito (poder), como também é suporte para justificar revisões, quiçá resoluções, dos contratos quando da ocorrência de fatos imprevistos (advindos da incerteza) que tumultuam o ambiente contratual, causando disparidade entre prestação e contraprestação devidas. A título exemplificativo, tem-se o caso de um contrato de compra e venda de castanha de caju entre um corretor e um cajucultor, em que aquele se compromete de forma inequívoca a efetuar a transferência em dinheiro no futuro pelo preço da castanha no momento do pagamento; logicamente, fez previsões deste possível preço (por meio da experiência,

43 Quando do levantamento de dados na pesquisa de campo, pôde-se constatar que alguns corretores (bodegueiros), para adquirir castanha celebravam contratos de troca, também um contrato típico, pois estáprevisto nos art. 533 e incisos no Código Civil Brasileiro.

44Como exemplo de um instituto atípico tem-se o uso de Cheque Pré-datado. Foi constatado também o uso deste espécime titular como meio de pagamento obrigacional.

45De acordo com o Código Civil Brasileiro,Art. 107, “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.”

pesquisa mercadológica, ou cálculos econométricos,...), obtendo uma margem razoável de possíveis oscilações do preço para aquele período, o que lhe proporcionou um ambiente confiável para assumir a promessa acordada; no entanto, se no dia do pagamento, referido preço da castanha, por motivos alheios a sua vontade e de impossibilidade de previsão, atinge um nível estratosférico, tornando o adimplemento penoso ou, quiçá, inexequível, respectivo contrato deverá ser revisado.

Dentro de um posicionamento temporal, pode-se identificar o contrato de fornecimento na cadeia produtiva da castanha de caju como de execução instantânea (por exemplo: uma operação de compra e venda a vista, em que os agentes participantes da avença fazem cumprir entrega do produto e pagamento em um só momento), quando respectivo contrato é consumado em um só ato, logo após a sua celebração, exaurindo- se tão logo cumpridas as obrigações. Ainda referendado, porém, nesta qualidade, este contrato de fornecimento pode ser considerado de execução diferida, pois, apesar de ser acordado pelos agentes que sua consumação se dará em um ato apenas, pode acontecer de ser este cumprido em um momento futuro (por exemplo: uma operação de compra e venda de castanha de caju, cujo pagamento foi avençado no ato da celebração - à vista- e a entrega do produto alienado em determinada data futura). Pela natureza deste contrato de fornecimento, ele ainda pode assumir a característica de execução sucessiva, quando pode comportar, após a sua celebração, um conjunto de vários outros atos, culminando em prestações com execuções de trato sucessivo.

Quanto à previsibilidade das prestações, os contratos de fornecimento na cadeia produtiva da castanha de caju tanto podem ser pré-estimados como aleatórios. Serão definidos como pré-estimados quando os agentes envolvidos na avença conhecem previamente o que deverão prestar (por exemplo, determinada empresa processadora que compra três toneladas de castanha de caju de um corretor pela quantia de R$3.870,00). Como se pode observar, no referido exemplo, o acordo proporciona às partes o conhecimento prévio e inequívoco de suas respectivas prestações devidas, bem como verificar, de imediato, a equivalência destas prestações.

Os contratos de fornecimento na cadeia produtiva da castanha de caju também podem assumir a característica de ser aleatório. Como já observado na revisão teórica do trabalho, o contrato aleatório se peculiariza pelo fato de que pelo menos um dos agentes contratantes não pode antever suas prerrogativas, vantagens e encargos em

contrapartida de sua prestação já determinada. Portanto, referida espécie de contrato caracteriza-se pela presença da incerteza, pois as perdas e/ou lucros ficam sujeitos a acontecimentos futuros, incertos e imprevisíveis. Um corretor de castanha de caju que, no intuito de garantir seu nível de estoque futuro, compra antecipadamente a safra seguinte de um determinado cajucultor, reveste este contrato de aleatoriedade, haja vista que, não tem como ele saber precisamente qual será a medida desta safra futura, pois, como refrão da sabedoria leiga, “tudo pode acontecer!!”

4.3 Análise descritiva e crítica das teorias jurídicas como minimizadoras da