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2.3 Aprendizagem cooperativa

2.3.3 Características dos grupos de aprendizagem cooperativa

A formação de grupos é um ponto central para quem quer implementar a aprendizagem cooperativa. Contudo, não há consenso quanto à utilização de grupos cooperativos heterogêneos em detrimento dos homogêneos. (SLAVIN, 1985)

Slavin (1985) considera que a aprendizagem cooperativa tem bons resultados em classes homogêneas, mas é particularmente vantajosa em aulas em que os alunos apresentam uma grande diversidade nos seus níveis de desempenho visto que essa diversidade pode ser utilizada como um recurso, em vez de uma dificuldade.

Joaniquet (2004) considera que os alunos com capacidades médias e altas são favorecidos pondo à prova não só os seus conhecimentos, mas também as estruturas necessárias para saber explicá-los reforçando assim o seu processo de aprendizagem. Para o aluno de baixo rendimento representa a possibilidade de pedir ajuda dentro de um grupo reduzido e pode recebê-la de uma maneira mais próxima e imediata. Deste modo, todos os alunos têm as mesmas responsabilidades dentro do grupo de uma maneira real e rotativa, sem que as diferentes capacidades sejam um impedimento para se relacionarem.

Pujolás (2001) considera que os grupos homogêneos apresentam vantagens dado que facilitam a intervenção do professor, pois este se dirige a um grupo de alunos com características semelhantes, ao contrário dos grupos heterogêneos que dificultam a intervenção do professor. Mas, para este autor, os grupos homogêneos têm graves inconvenientes, pois se as características dos alunos são maioritariamente negativas, o clima do grupo pode ser pouco favorável e pouco motivador para a aprendizagem, criando nos professores expectativas baixas relativamente a esta estratégia. Por outro lado, os grupos homogêneos não

proporcionam interações positivas entre alunos diferentes, fator imprescindível para educar valores como a tolerância, a solidariedade e a cooperação.

Ainda segundo Pujolás (2001), os grupos heterogêneos ajustam-se mais à realidade social que naturalmente é heterogênea. Estes grupos não escondem as diferenças possibilitando interações positivas entre os seus membros fazendo com que os alunos aprendam uns com os outros, regulando a sua própria aprendizagem.

No que diz respeito ao aproveitamento dos alunos não há de considerar que um aumento da heterogeneidade dos grupos cooperativos implique necessariamente o aumento do aproveitamento de todos os alunos, pois a partir de certo limite a heterogeneidade pode dificultar o processo de aprendizagem. O importante é que o professor seja capaz de encontrar o equilíbrio entre o número de alunos situados nos extremos de uma escala de aproveitamento (SANCHES, 1994).

Conforme Johnson e Johnson (1999 b), o que determina a produtividade de um grupo não é quem são os seus membros, mas em que medida trabalham bem juntos. Contudo, há vantagem na utilização de grupos heterogêneos pelas razões que a seguir se apresentam:

- aumenta o conflito de ideias, perspectivas e métodos da resolução de problemas;

- aumenta o conflito de ideias o que provoca maior desequilíbrio cognitivo estimulando a aprendizagem, a criatividade e o desenvolvimento cognitivo e atitudinal;

- proporciona um pensamento mais elaborado, dão e recebem explicações, aumentando a qualidade de raciocínio e o rigor da retenção a longo termo.

b) Dimensão do grupo

Johnson e Johnson (1999 b) consideram que o número de elementos por grupo depende de vários fatores nomeadamente da idade dos alunos, da experiência que têm em trabalho de grupo e dos objetivos definidos para o trabalho a realizar. Estes autores defendem que os grupos cooperativos devem ter entre dois a quatro elementos dizendo mesmo que, quanto menor for o grupo, melhor. Para eles, num grupo pequeno é fácil observar o desempenho dos alunos e, por isso, os

alunos são mais responsáveis pelos seus atos, o que garante desde logo uma aprendizagem mais ativa, sendo também mais fácil resolver conflitos que possam surgir dentro do grupo. Se os alunos não têm experiência na aprendizagem cooperativa, grupos grandes podem fazer com que eles se percam em discussões infrutíferas, resultando numa menor coesão grupal e um apoio pessoal menor.

No entanto, Johnson e Johnson (1999 b) consideram que aumentando a quantidade de elementos do grupo cooperativo, maior será a diversidade de pontos de vista, maior é o número de interações e maior será a quantidade de práticas interpessoais e grupais necessárias para concretizar essas interações.

Kagan (1989 apud FREITAS; FREITAS, 2002, p. 20) considera que a participação ativa, base da aprendizagem cooperativa, é melhor conseguida quando se formam grupos de quatro elementos argumentando que muitas vezes em vários métodos promove-se o trabalho em pares dentro do grupo, que em grupos de 3 elementos muitas vezes só interagem 2 elementos marginalizando-se um deles e que num grupo de 4 elementos será possível encontrar diferenças de desenvolvimento que potenciam maior progresso baseado na interação.

c) Duração do grupo

A longevidade de um grupo depende, tal como a sua dimensão, da proficiência alcançada em competências de cooperação e do tipo de atividade, do tipo de grupo de aprendizagem que se está a utilizar, conforme referenciado a seguir.

Para alunos que não tenham experiência em aprendizagem cooperativa, o grupo deve manter-se o tempo necessário para que se desenvolvam as competências cooperativas dentro do grupo e este atinja um bom resultado. Muitas vezes, os alunos habituados ao trabalho individual, oferecem resistência ao trabalho cooperativo, pois não estão habituados a trabalhar com colegas pelos quais não sentiam qualquer apetência. Neste caso é importante que a duração do grupo permita resolver esses conflitos. Desfazer um grupo de trabalho que revela dificuldades no seu funcionamento é contraproducente, pois não permite que os alunos aprendam as competências necessárias à resolução de problemas, podendo mesmo surgir a ideia errada de que quando surge um conflito o melhor caminho é a

desistência da resolução desse conflito. A resolução de um conflito dentro do grupo com o empenho de todos os elementos aumenta a coesão e a maturidade do grupo (JOHNSON; JOHNSON 1999 a).

A este propósito, Putnam (1990 apud FREITAS; FREITAS, 2002, p. 43) refere que os alunos num grupo devem permanecer juntos o tempo suficiente para que o grupo ganhe identidade. Em qualquer caso, não será desejável manter os grupos durante um período demasiado longo, pois a primeira finalidade da aprendizagem cooperativa é aproximar, criar oportunidades de compreender diferentes pontos de vista dependendo, como é óbvio, das competências de cooperação adquiridas.