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Características e metodologia do modelo DPSEEA

1 ENQUADRAMENTO TEÓRICO E REVISÃO DA LITERATURA

1.2 Modelos de organização de indicadores em saúde ambiental

1.2.3 Características e metodologia do modelo DPSEEA

Este modelo parece apropriado para o estabelecimento de uma base racional capaz de expor, de forma estruturada, uma matriz de indicadores integrantes da cadeia relacional entre os determinantes socioambientais e eventos de saúde de interesse à vigilância em saúde ambiental. (24)

Conforme referido por Araújo-Pinto et al. este modelo partiu da adaptação do modelo PER, desenvolvido pela OCDE, que se baseia na análise da pressão exercida pelas atividades humanas sobre os indicadores de estado dos diferentes recursos naturais e grupos populacionais, visando a identificação de respostas específicas que garantam processos sustentáveis de desenvolvimento e prioriza a identificação e a organização de dados existentes na construção de indicadores vocacionados para a vigilância da saúde de populações e ambientes específicos, o que permite compreender os determinantes que desencadeiam efeitos negativos sobre o ambiente e a saúde humana. (39)

Para a WHO o modelo DPSEEA é útil na conceção de um sistema de indicadores de saúde ambiental dentro de um contexto de tomada de decisão. É um modelo que

Contexto Mais severo Menos severo Distal Proximal Condições sociais Condições económica Condições demográficas Ações Ações preventivas corretivas Ambiente envolvente Comunidade Habitação Bem-estar Morbilidade Mortalidade causas atribuíveis a Exposições Ações Resultados de Saúde

tem sido proposto para descrever e analisar as relações entre saúde, ambiente e desenvolvimento, e tem sido utilizado na análise da situação global desta temática. Em resposta às pressões, o estado do ambiente é frequentemente modificado. A deterioração do estado do ambiente, no entanto, apresenta riscos para o bem-estar só quando há interação entre as pessoas e os riscos do ambiente. A exposição é, portanto, raramente uma consequência automática à existência de um perigo: exige que as pessoas estejam presentes no local e no momento em que o perigo ocorre. A exposição aos riscos ambientais, por sua vez, leva a um amplo espectro de efeitos para a saúde, que podem ser agudos ou crónicos. Alguns riscos podem ter um efeito rápido após a exposição, enquanto outros podem necessitar de um longo período de tempo para produzir um efeito adverso à saúde. No modelo DPSEEA os componentes exposição e efeitos na saúde tem um maior significado numa perspetiva de saúde pública. O conceito de exposição é melhor desenvolvido em relação a poluentes ambientais. Estes podem penetrar no corpo humano através de várias vias: respiratória, digestiva e cutânea. A quantidade de poluente absorvido, ou seja, a dose, depende da duração e intensidade da exposição. Perante os problemas ambientais com consequências para saúde podem ser tomadas medidas para reduzir ou controlar o risco. Estas ações podem adquirir várias formas e focarem-se em diferentes fases do contínuo e ininterrupto sistema de saúde ambiental. As respostas mais eficazes a longo prazo são aquelas baseadas numa numa abordagem preventiva, que vise eliminar ou reduzir as forças que impulsionam o sistema. (23)

Uma das características específicas destes indicadores é originarem informação com bases científicas, estabelecendo uma relação entre ambiente e saúde. Os indicadores de saúde ambiental devem ser mensuráveis, poder ser monitorizados ao longo do tempo, ser assentes em ligações demonstradas entre ambiente/saúde, ser úteis e compreendidos por diferentes grupos, se informativos para os cidadãos e para a administração pública, ser focados em objetivos de saúde pública, ser orientadores da ação e, por último, ser integrados em definições uniformes. (32)

Quadro 2. Exemplos de indicadores de saúde ambiental organizados segundo o modelo DPSEEA (20)adapt.

Força Motriz

Taxa de crescimento populacional Taxa de crescimento urbano Taxa de emprego

PIB per capita e taxa de crescimento População abaixo da linha de pobreza Níveis anuais de consumo de energia

Pressão

Ar

Volume médio de tráfego rodoviário e densidade Níveis de consumo doméstico de gás, carvão e biomassa Número e tipo de indústrias poluentes

Água

Quantidade de águas residuais descarregadas linhas de água Consumo doméstico de água per capita

Níveis de recirculação de água na indústria

Resíduos

Tonelagem anual de resíduos perigosos produzidos

Quantidade produzida de resíduos urbanos, agrícola, industrial Percentual de resíduos domésticos recolhidos para reciclagem

Estado

Ar

Concentrações de monóxido de carbono e compostos orgânicos voláteis no ar urbano

Número de horas / dias por ano em que os poluentes excedem os níveis admissíveis

Níveis de poluição do ar interior

Água

Ultrapassagem dos valores limite: consumo humano, balneares, aquicultura, rega

Concentrações de nitratos, nitritos e fosfatos na água de consumo humano

Níveis de resíduos de pesticidas em água potável

Outros

Frequência de resíduos de pesticidas ilegais em alimentos e água Área de terreno / número de sítios contaminados por resíduos perigosos

Níveis de ruído ocupacional superior ao admissível

Exposição

Ar

Proporção da população que vive na proximidade de fontes de poluição do ar (tráfego, indústria)

Proporção de crianças expostas a altos níveis de fumo passivo Proporção de população exposta a qualidade do ar inferior ao aceitável

Água

Proporção da população sem acesso a água potável

Proporção da população cujas casas não estão ligadas a um sistema de abastecimento de água

Proporção da população cujo abastecimento de água potável não respeita os requisitos de saúde

Geral

Proporção da população com elevados níveis de chumbo no sangue Proporção de trabalhadores expostos a níveis elevados de poeiras, fumos ou gases no local de trabalho

Proporção da população sem ligação a coletor, fossa séptica ou outro meio higiénico de disposição de águas residuais

Efeitos

Morbilidade e mortalidade de cancros relacionados com o ambiente (por exemplo, cancro do pulmão em não fumadores)

Número de mortes por afogamento

Morbilidade e mortalidade associadas à asma

Ações

Percentagem do PIB gasto em saúde e saúde ambiental

Existência de legislação sobre a avaliação de impactos em saúde/saúde ambiental Número e natureza dos programas no ensino público em saúde ambiental

A metodologia do modelo eleito enfatiza o papel das questões sociais e dos macrodeterminantes ambientais e considera a exposição o evento central nas causas ambientais e na ocorrência da doença. Portanto, a exposição é o elemento-chave na vigilância em saúde ambiental. (8)

Kligerman et al. referem que o DPSEEA deve ser definido de uma forma ampla, como um paradigma de controlo, assumindo assim uma função estratégica, pois há um comprometimento com mudanças reais e é também articulado com a dinâmica da produção da realidade. (36)

Em síntese, DPSEEA é um modelo cuja metodologia permite organizar indicadores de saúde ambiental implementados num sistema de vigilância em saúde ambiental.