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Propriedades modelares de indicadores de saúde ambiental

1 ENQUADRAMENTO TEÓRICO E REVISÃO DA LITERATURA

1.1 Performance em saúde ambiental

1.1.4 Propriedades modelares de indicadores de saúde ambiental

Embora se tenha referido que os indicadores são uma representação simplificada da realidade, deve ter-se presente que a sua construção nem sempre é uma operação simples. É exigido que os indicadores sejam desenvolvidos com base em termos bem definidos a partir da escolha precisa dos dados necessários para sua construção e interpretação, afinal, quando são adequadamente concebidos, os indicadores representam ganho de tempo, além de redução de custos, e resultam em informações que são ferramentas para os gestores e tomadores de decisões. (24)

Segundo o Ministério do Planeamento, Orçamento e Gestão do Brasil, os indicadores devem ter diversas propriedades para que possam ser considerados adequados. Quanto à sua importância para a formulação de políticas estes devem observar representatividade, simplicidade, sensibilidade a mudanças, possibilidade de comparações a nível internacional, um desígnio abrangente e uma disponibilidade de valores de referência. Em matéria que assegure uma análise adequada os indicadores devem reunir as características de fundamentação científica, ser baseados em padrões internacionais, reunir consenso sobre a sua validade e aplicabilidade em modelos económicos, de previsão e em sistemas de informação. A mensurabilidade dos indicadores deve ser solidificada através da viabilidade em termos de tempo e recursos, documentação adequada e atualização periódica. É referido ainda no documento elaborado por esta entidade que as características dos indicadores se organizam em dois grupos: propriedades essenciais (utilidade, validade, confiabilidade e disponibilidade) e propriedades complementares (simplicidade, clareza, sensibilidade, desagregabilidade, economicidade, estabilidade, mensurabilidade e auditabilidade). O primeiro grupo deve ser levado em conta em qualquer fase, seja de avaliação, monitorização ou vigilância, enquanto o segundo, apesar de ser igualmente importante poderá suscitar alguma dificuldade ou conflito em situação de escolha.(29)

Para Niutta, os indicadores ambientais são medidas numéricas facilmente obtidas a baixo custo a partir de informações que são reunidas. Os indicadores que se destinam a ser utilizados fora da agência que os define, devem ter em conta propriedades que garantam que sejam compreensíveis pelo público em geral e facilmente apresentáveis pelos média.(30)

No documento da Direção-Geral do Ambiente Proposta para um Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável indicadores são parâmetros selecionados e considerados isoladamente ou combinados entre si, sendo de especial pertinência para refletir determinadas condições dos sistemas em análise (normalmente são utilizados com pré-tratamento, isto é, são efetuados tratamentos aos dados originais, tais como médias aritméticas simples, percentis, medianas, entre outros).(31)

Schirnding refere diversas características que considera essenciais para os indicadores de saúde ambiental. O autor refere no que respeita à sua relevância geral os mesmos devem estar relacionados com uma questão específica ou um assunto preocupante, ser relacionados com a saúde e ligados ao ambiente ou fatores de desenvolvimento, ser sensíveis às mudanças na matéria em apreço e fornecer rapidamente alertas de alteração. Relativamente à sua expressão científica devem ser imparciais e representativos, credíveis, fiáveis e válidos, basear-se nos melhores dados disponíveis, ser robustos e resistentes a pequenas alterações de método ou escala e, por fim, coerentes e comparáveis ao longo do tempo. O autor menciona ainda três características quanto à utilidade dos indicadores para os utilizadores referindo que devem ser relevantes para a gestão e definição de políticas, ser de fácil compreensão e utilização, aceites pelos stakeholders e construídos com base em dados disponíveis ou que possam ser recolhidos e monitorizados com um investimento razoável. (20)

Também Januzzi apresenta um quadro de propriedades desejáveis para os indicadores.

Quadro 1. Propriedades desejáveis dos indicadores (24)adapt.

Relevância social Historicamente determinada. Resultantes da agenda de discussão política de cada sociedade.

Validade Capacidade de refletir o conceito abstrato que o indicador se propõe a operacionalizar.

Confiabilidade Qualidade dos dados usados na construção de um indicador e a credibilidade da instituição que produz as estatísticas.

Cobertura Grau de cobertura espacial e populacional do indicador. Sensibilidade

Capacidade de mostrar se ocorreram mudanças significativas nos fatores que afetam as condições sociais, ambientais e de saúde ao longo do tempo.

Especificidade

Grau de associação existente entre os dados utilizados para a construção de um indicador. Deve refletir as alterações estritamente ligadas às mudanças relacionadas à dimensão de interesse.

Inteligibilidade Transparência da metodologia empregada na sua construção. Comunicabilidade Facilidade dos agentes envolvidos entendem os critérios

objetivos usados.

Periodicidade Regularidade de atualização. Factibilidade Custo aceitável de obtenção.

Desagregabilidade

Possibilidade que um indicador apresenta de ser relacionado com grupos populacionais de interesse, espaços geográficos definidos, composições sociodemográficas ou vulnerabilidades sociais específicas.

Historicidade Possibilidade de se dispor de séries históricas e comparáveis.

Para Freitas et al. é inegável que todas essas propriedades são importantes para que um indicador seja mais efetivo em relação ao objetivo para o qual foi desenvolvido, contudo, Jannuzzi alerta para o fato de que é improvável que se possam produzir estatísticas com a frequência e a representatividade amostral necessárias a todos os interesses e ações políticas, devido às dificuldades metodológicas, à limitação de recursos e a outros tantos fatores. (24)

Por fim, Vickers e Lease referem que os indicadores de saúde ambiental devem: - Prever com segurança a relação entre a saúde humana e o meio ambiente;

- Fornecer um resumo relevante e significativo das condições de interesse; - Ser regularmente recolhidos;

- Ter definições consensuais e recolhas de dados padronizadas. (32)

Neste estudo focado nos indicadores de saúde ambiental para o Sul da Austrália, os autores referem que os indicadores devem passar por ser mensuráveis, válidos, confiáveis, monitoráveis ao longo do tempo, entendidos por diversas populações, informativos (para a população e para a administração pública), vinculados a objetivos de saúde pública e orientados para a ação. Terminam apontando oito critérios de seleção para os indicadores de saúde ambiental adotados pelo Projeto de Indicadores de Saúde Ambiental de Victorian de 2006:

- Proeminente (refletir as preocupações da comunidade); - Simples (claro a medir um item);

- Compreensível (para usuários, público, decisores políticos);

- Cientificamente sólido (ligação bem estabelecida entre a exposição e efeito); - Sensível à mudança que se destina a monitorizar;

- Mensurável (comparável, quantificáveis); - Viável (para a recolha).

- Robusto (capaz de ser atualizado regularmente). (32)