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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Características gerais dos Anais da FMR

O primeiro número dos Anais da Faculdade de Medicina do Recife foi lançado em 1934, numa produção da Cadeira de Anatomia Patológica da FMR, coordenada, na época, pelo professor Aggeu Magalhães, que dá nome à unidade pernambucana12 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), referência na pesquisa e ensino em saúde pública na atualidade no Estado.

Retomando uma observação feita no capítulo 2, historicamente, a patologia tem sido uma aliada da pesquisa clínica e da pesquisa epidemiológica clínica, auxiliando na descrição de doenças e agravos. Encarregada da análise de órgãos, tecidos e células, configura-se como fundamental no esclarecimento do diagnóstico de lesões, identificando a ação de agentes etiológicos, direcionando e avaliando tratamento (DANTAS 2003, citado por BRASIL, 2014). Por meio da observação direta nos exames de cadáveres, ou por histopatologia e citopatologia, com uso de microscópio e diferentes técnicas, patologistas detectam alterações em órgãos e tecidos humanos, alcançando a morfologia celular. Assim ajudam até hoje a esclarecer as dúvidas das ciências biomédicas.

Na primeira folha do primeiro número dos Anais da FMR aparecem os nomes de autores das principais publicações: professor Aggeu Magalhães, catedrático, A. (Aluízio) Bezerra Coutinho, chefe do Laboratório de Patologia, e R. (Raimundo) de Barros Coelho, assistente. Também consta nessa relação, que pode ser uma comissão editorial, o nome de Miguel Archanjo, como assistente. Em seguida são listados quatro doutorandos, todos auxiliares- técnicos do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO): “Lourinaldo Gouveia, I. De Souza Dantas, E. Cruz Gouveia e. Souto Maior”.

Desde esse primeiro número, a revista da Faculdade de Medicina do Recife é apresentada pelos editores como uma publicação com trabalhos inéditos de professores da referida escola, inicialmente associados à cadeira de Anatomia Patológica. Na apresentação, o referido número mostra a seguinte nota: “Em duas partes ficará dividido o Anuário, uma contendo trabalhos originais pelo professor e seus assistentes e outra destinada ao registro de casos, que pela sua raridade ou interesse científico, mereçam divulgação”. (ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DO RECIFE, 1934).

Os editores destacam o fato de a Cadeira de Anatomia Patológica da FMR dispor de material científico para pesquisadores nacionais e estrangeiros, seja com relatórios de necropsia

12 O Instituto Aggeu Magalhães foi inaugurado em 1950 e o nome presta homenagem ao cientista que lutou pela sua implantação no estado, mas acabou morrendo precocemente em 1949 (MAGALHÃES FILHO, 2000)

ou peças anatômicas, blocos e preparações microscópicas. Esse acervo potencial para estudo e observação, de acordo com a apresentação da publicação, resultaria, em grande parte, da iniciativa do então diretor de Saúde Pública do Estado de Pernambuco, Décio Parreiras, de contratar a Faculdade de Medicina do Recife para a verificação de óbitos ocorridos sem assistência médica na cidade. A análise dos corpos, a partir desse convênio, era feita exatamente pela equipe de Anatomia Patológica da escola.

A justificativa para realização das autopsias, ou seja, o não esclarecimento da causa mortis pelo fato de o óbito ter ocorrido sem assistência médica, contemplaria mortes súbitas, domiciliares ou em via pública. Mas poderia sugerir, também, a dificuldade de acesso à assistência médico-hospitalar de setores da população, principalmente as pessoas em situação de pobreza na capital e interior, diante da rede ainda limitada de instituições e da necessidade de pagar pelo atendimento em parte dos serviços.

Embora os exemplares do período estudado reportem principalmente produções da Cadeira de Anatomia Patológica, reúnem, no decorrer dos anos, textos assinados por professores de outras disciplinas, que foram se incorporando aos estudos desenvolvidos na escola médica.

Os sete primeiros números dos Anais da FMR reúnem 23 artigos assinados por 14 autores e 15 relatórios de necropsia. Esses artigos tratam de relatos de casos únicos e múltiplos, envolvendo um total de 1095 indivíduos, e de revisão de literatura. Os estudos reúnem achados da anatomia patológica, acompanhadas ou não de dados gerados em exames laboratoriais mais específicos, informações extraídas de prontuários ou obtidas com familiares dos doentes e mortos.

Os relatórios de necropsia, como o próprio nome diz, relatam observações de aspectos encontrados no cadáver, de características físicas gerais (sexo, idade, cor) e de alterações encontradas víscera por víscera, não se configurando como comunicação científica, mas apenas como um documento médico publicado na revista.

Depois da primeira edição, novos números foram publicados em intervalo de um e de dois anos. O segundo e o terceiro número dos Anais da FMR são datados de 1935 e de 1936, respectivamente. O quarto (1937) e o quinto (1938), entretanto, integraram uma edição conjunta, em 1938, assim como o sexto (1939) e o sétimo (1940), em 1940.

Todos os sete números iniciais, avaliados nesta pesquisa, e exemplares impressos até 2007 estão guardados na Coleção Especial da Biblioteca do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Recife. O material em análise foi digitalizado pelo referido setor e disponibilizado por e-mail e em drive compartilhado para atender a interesses do estudo apresentado nesta dissertação.

A exploração se deu inicialmente no acervo físico, com manuseio e leitura parcial dos exemplares, e posteriormente, de forma mais detalhada, nas páginas digitalizadas, acessadas a partir do computador. Formato, estilo de linguagem, temas, autores e as informações indicativas de condição social serão apresentados a seguir.

Cabe esclarecer que a revista, provável fonte única de determinadas descobertas ou de fases de pesquisas importantes para Pernambuco e para o país, adotou novas denominações no decorrer do tempo. Em 1954, com a instituição da Universidade do Recife, a publicação passou a ser chamada Anais da Faculdade de Medicina da Universidade do Recife (Anais da FMUR), escreve o professor Amaury Coutinho, diretor do Centro de Ciências da Saúde no editorial da publicação que reuniu os volumes 34, 35 e 36, referente aos períodos 1974-1975, 1976-1979 e 1980 e 1982 (ANAIS,1982).

A partir de 1966, com a instituição da Universidade Federal de Pernambuco, tornam- se Anais da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco. Desde agosto de 1975 constituem a publicação oficial do Centro de Ciências da Saúde da UFPE. Foram incorporados à imprensa científica do país, afirma Luiz Nascimento (2008), autor de levantamento sobre revistas e jornais pernambucanos. Costa e Pessoa (1985) também fazem referência à publicação da faculdade, quando listam 83 periódicos médicos editados em Pernambuco de 1842 a 1981.

Na seção a seguir, será exposto o detalhamento das publicações internas, com relação ao formato e estrutura para disposição das informações.