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3 O MÉTODO DELPHI

3.2 Características

Segundo Linstone e Turoff (2002), o Delphi pode ser caracterizado como um método para estruturar um processo de comunicação de um grupo, de modo que o processo seja efetivo em permitir que este, como um todo, lide com um problema complexo. O método Delphi pretende extrair e maximizar as vantagens que

apresentam os métodos baseados em grupos de especialistas e minimizar seus inconvenientes. Aproveita a sinergia do debate em grupo e elimina as interações sociais indesejáveis que existem dentro de todo grupo. Desta forma, busca obter um consenso o mais confiável possível.

O método Delphi apresenta um desenvolvimento prático, que consiste em interrogar o grupo de participantes, por meio de uma série de questionários, individualmente, com objetivo de identificar e gerar informações de consenso crescente. Ao se reunir vários especialistas para que emitam suas opiniões existem fatores diversos, inclusive psicológicos, que afetam o consenso. Alguns participantes podem ter maior clareza em suas considerações, serem mais persuasivos, terem melhores argumentos, sem que tenham a razão. Por isto, o método Delphi funciona evitando que os especialistas se reúnam. Toda a comunicação é feita mediante um coordenador ou moderador.

A caracterização de um Delphi, (segundo RATTNER 1979, WOUNDENBERG, 1991, GRISI 2003) só é completa quando ele atende às suas prerrogativas básicas. As principais são:

- Anonimato dos participantes, que segundo Kayo e Securato (1997) é a propriedade que melhor caracteriza o método. Nenhum especialista conhece a identidade dos outros componentes integrantes do grupo, a fim de que as opiniões sejam objetivas dentro das questões a serem elaboradas. Os que recebem o questionário não sabem quem são os outros entrevistados e nem qual tenha sido sua resposta individual. Desta forma é eliminado o possível predomínio de algumas opiniões sobre outras e evita-se a confrontação direta. Isto tem uma série de aspectos positivos, como segue:

- impede a possibilidade de que um membro do grupo seja influenciado pela reputação de outro membro e pelo peso que supõe opor-se à maioria. A única influência possível é a congruência dos argumentos;

- permite que um membro possa trocar suas opiniões sem que isso suponha uma perda da imagem;

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- o especialista pode defender seus argumentos com a tranqüilidade de saber que caso esteja errado, seu equívoco não será identificado pelos outros participantes.

- Feedback das respostas, interação e realimentação controlada. Para Wright e Giovinazzo (2000), uma rodada única descaracteriza a técnica Delphi.

Conforme Kayo e Securato (1997) até quatro rodadas são suficientes na maioria das pesquisas. A interação é conseguida por apresentar várias vezes às mesmas pessoas o mesmo questionário, apresentando os resultados percentuais das informações anteriores. Conhecendo os distintos pontos de vista, os especialistas podem ir modificando sua opinião caso os argumentos apresentados lhes pareçam mais apropriados.

A interação de argumentos impessoais a favor ou contra cada prognóstico contribui para formar estados de consenso que fazem mais nítidos os cenários emergentes. Tanto as posturas minoritárias como as majoritárias têm presença no painel. A iteração do questionário permite a retroalimentação das opiniões e facilita a interação entre os participantes. Assim é gerada a posição geral do grupo perante o tema analisado.

- Heterogeneidade: podem participar especialistas de diferentes ramos de atividade e conhecimento sobre as mesmas bases ou “regras do jogo”.

- Representação estatística da distribuição dos resultados: a informação é recolhida mediante um questionário cuja análise, embora tenha um caráter qualitativo, possibilita que se realize uma medição quantitativa, em forma estatística, do resultado. Tem-se assim uma resposta majoritária do grupo e o grau de consenso ou dispersão nela existente. A informação que se apresenta aos especialistas não é só um ponto de vista da maioria, mas um conjunto de todas as opiniões, indicando o grau de acordo que se tem obtido.

3.3 Modalidades principais

O intenso desenvolvimento tecnológico possibilitou que houvesse variabilidade no processo da metodologia Delphi. As duas formas de aplicação

principais, segundo Linstone e Turoff (2002), de processos estão referenciadas a seguir:

- a convencional, refere-se à versão original do método. Nessa modalidade, os especialistas, do painel de estudos, respondem manualmente ao questionário, formulado e controlado por um responsável. Aos participantes é garantido no mínimo uma chance de revisar e reavaliar suas respostas, tendo como apoio referencial o conjunto das respostas do grupo, sumarizadas. Esta forma é um misto de coleta e conferência, cujo esforço maior relativo à comunicação é do responsável pelo processo.

- a em tempo real, ou Conferência Delphi, foi introduzida com o advento da informática e dos sistemas de comunicação. O monitoramento é substituído por um computador on-line. Como os questionários estão informatizados, as tarefas de compilação e sumarização das respostas individuais são realizadas automaticamente. Com isto, é reduzido consideravelmente o tempo e os custos necessários às interações do processo.

Em qualquer de suas variantes, o método Delphi é regido por um simples princípio: ao possibilitar um número grande de pessoas interagindo anonimamente e de forma controlada, os resultados que se obtém ultrapassam bastante a simples soma algébrica dos conhecimentos individuais. O método, ao permitir a realimentação entre as interações, possibilita revisão e convergência de opiniões, as quais são difíceis de se conseguir em métodos convencionais de reuniões ou conferências. O anonimato praticamente acaba com as distorções ocasionadas pela insegurança, com as pressões políticas, com o medo de rever posições, a participação de indivíduos com personalidade impositiva e outras.

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