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Características e Particularidades da Assistência Estudantil na Universidade Federal do Rio Grande do Sul

MAPA REGIÕES DE LOCALIZAÇÃO DAS IFES.

3.3.2 Características e Particularidades da Assistência Estudantil na Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Se a UFSM se constituiu como sendo a primeira IES pública localizada no interior, ou seja, fora do eixo das capitais do estado no Brasil na década de 1960, a UFRGS, cuja criação foi datada em 1895 por meio de instituições isoladas se constituiu como sendo a IES mais antiga das universidades públicas do RS.

A Universidade de Porto Alegre, assim denominada, foi criada pelo Decreto Estadual nº 5.758 de 28 de novembro de 1934, assinado pelo Interventor Federal do estado do Rio Grande do Sul, que visava fazer uma organização uniforme e racional ao ensino superior no estado: Elevar o nível da cultura geral, estimular a investigação científica e concorrer eficientemente para aperfeiçoar a educação do indivíduo e da sociedade.

Em 1947, a Universidade de Porto Alegre passa a ser chamada Universidade do Rio Grande do Sul. A mudança estratégica permitiu que a ela fossem integrados

os institutos do interior do estado. Vale ressaltar que foi por meio de um articulado e amplo movimento do interior do Rio Grande do Sul, liderado pelo Prof. José Mariano da Rocha Filho (fundador da UFSM), que foi incluído no texto da Constituição Estadual um parágrafo que transformava a Universidade de Porto Alegre em Universidade do Rio Grande do Sul, através da anexação das faculdades situadas no interior: Farmácia de Santa Maria e Direito de Pelotas.

Adentrando ao início da década de 1950, destaca-se o movimento estudantil que, no seu desenvolvimento, atingiu grande repercussão social, com uma greve que se prolongou durante quase três meses. Por iniciativa da União Estadual dos Estudantes, foram convocados todos os universitários para uma passeata de protesto contra a permanência do Reitor. Inscrições foram feitas na calçada do prédio da Universidade, exigindo demissão do Reitor. Os estimados trezentos alunos participantes estiveram no Palácio do Governo, na Assembléia Legislativa e realizaram um comício que foi divulgado nos veículos de comunicações locais (O Diário de Notícias).

O primeiro movimento de atenção ao aluno foi datado em 1958 através da construção de uma Colônia de Férias em Tramandaí, em terreno doado pela Prefeitura de Osório. O local era destinado aos estudantes e, por ocasião, aos funcionários e professores. Em 1960, foi fundada a Casa dos Estudantes das Faculdades de Agronomia e Veterinária (CEFAV), a qual se destinava exclusivamente a atender alunos dos cursos de Agronomia e Veterinária. Porém, antes da existência do prédio da CEFAV, já havia uma espécie de Casa de Estudantes para a Agronomia e Veterinária que funcionava numa cantina, a qual recentemente (2009) foi demolida.

Os recursos financeiros da casa eram advindos de verbas específicas da Reitoria ou através do CALC (Centro Acadêmico Leopoldo Cortês) ou atual DALC (Diretório Acadêmico Leopoldo Cortês). O regime interno da casa de estudante previa exclusão para os moradores que se fizessem acompanhar por pessoas do sexo feminino que não pertencessem à família e se não houvesse autorização prévia do Conselho Administrativo. Em 1979, houve ameaça de intervenção e penalização por parte da Pró-Reitoria da Comunidade Universitária (PRUNI), sob alegação de moradia irregular por ser do sexo feminino. Este fato marca o início da

luta pela aprovação de moradia mista na CEFAV, sendo que sua consolidação deu- se em 1982, quando a PRUNI reconheceu oficialmente a moradia mista.

Em 1983, no dia 09 de julho, um incêndio destruiu parte da CEFAV e fez com que a metade da mesma se tornasse inabitável. Com esse fato, muitos moradores deixaram a casa; outros, que inevitavelmente precisavam dela a fim de concluir seus estudos, continuaram a luta pela reconstrução. A Casa só voltou a ter condições plenas de ocupação em 1985.

Atualmente, a CEFAV é representada por uma Diretoria, formada por alunos regularmente matriculados na instituição e eleita por voto facultativo e aberto, com gestão de um ano. A Diretoria é composta de três Coordenadores Gerais e um grupo de Coordenadores de Comissões de moradores que constituem cada departamento (Secretaria, Núcleo, Alojamento, Cultural, Correio, entre outros). O objetivo básico da Diretoria é a integração e mobilização dos moradores em torno de objetivos comuns determinados em Assembléia Geral, órgão máximo da CEFAV. A seleção de moradores é feita por uma Comissão de Seleção eleita em Assembléia Geral a cada semestre. A cada ano é feita uma retriagem dos moradores pela Comissão de Retriagem, também eleita em Assembléia Geral.

Vale mencionar que o órgão responsável pela assistência estudantil e outras questões relacionadas aos discentes na UFRGS era a Superintendência de Assuntos da Comunidade Universitária, a qual foi extinta em 2000. Em substituição, foi criada a Secretaria de Assistência Estudantil (SAE) cuja finalidade é atender exclusivamente a PAE.

Assim como na PRAE (UFSM), a SAE (UFRGS), também visa, na maioria das vezes, a uma atenção maior para as necessidades econômicas dos discentes, pois ambas acreditam que esse é um dos fatores predominantes que impedem os estudantes de prosseguirem seus estudos. E é por meio desses setores que há intencionalidade de promover uma política assistencial através dos programas de moradia, alimentação, saúde, lazer, transporte, como forma efetiva de garantir a permanência dos estudantes na instituição.

Assim, os alunos que acessam esses programas têm suas necessidades sociais e econômicas avaliadas e ponderadas pelos profissionais responsáveis

(assistentes sociais) ao consentimento do BSE, podendo serem disponibilizados os seguintes programas aos alunos beneficiados:

 Programa de Moradia Estudantil – são oferecidas três CEUs: a CEU, CEFAV e a Casas de Estudantes da Universidade Federal do RS (CEUFRGS). Todas são destinadas para ambos os sexos que sejam oriundos de outras localidades fora de Porto Alegre, sendo que atualmente elas abrigam 590 alunos (2010).

 Restaurante Universitário (RU) – oferece refeições diárias de almoço (em todos os cinco RUs), janta (nos RU1, RU2 e RU3) e café da manhã (somente para os moradores das Casas de Estudantes no RU1 (Centro) e RU4 (Agronomia) ao custo para alunos com benefício SAE de R$ 0,50 para cada refeição; para aqueles que não os têm, o valor é de R$ 1,30. Esses valores são mantidos desde o ano de 1995.

 Assistência a Saúde – esse tipo de assistência utiliza os mesmos critérios de seleção dos demais programas. São disponibilizadas consultas ambulatoriais com profissionais do Hospital Universitário que atendem nas áreas de dermatologia, endocrinologia, nutrição e odontologia. Há também uma verba destinada para auxiliar na saúde mental dos discentes, a qual corresponde ao valor de R$ 250,00 (cota única) e contribui para que quarenta e oito alunos busquem atendimento na rede de apoio externa à instituição.

 Bolsa Permanência (BP) – contrapartida financeira mensal no valor de R$ 360,00, que objetiva complementar o processo de aprendizagem e propiciar o desenvolvimento de atividades em setores da Universidade.  Programa Saúde (PS) – oferece atendimento ambulatorial (algumas

especialidades) somente com encaminhamento do clínico geral, com exames laboratoriais e atendimento odontológico.

 Auxílio Transporte (AT) – auxílio financeiro mensal referente ao período letivo no valor de R$ 61,25 que visa contribuir com parte das despesas de deslocamento do aluno para atividades acadêmicas regulares.

 Auxílio Creche (AC) – auxílio financeiro mensal no valor de R$ 75,00 que tem o objetivo de custear parte das despesas dos estudantes no acompanhamento de seus dependentes até os três anos a idade.

 Auxílio Material de Ensino (AME) – auxílio financeiro no valor de R$120,00 (cota única), que tem o objetivo de custear parte das despesas dos alunos com material de ensino pedagógico para participação dos mesmos nas atividades acadêmicas.

Com base na sistematização dos programas e projetos de PAE que vêm sendo desenvolvidos pela UFRGS e UFSM, pode-se constatar que estes apresentam similaridades e, especialmente, revelam o atendimento de demandas junto a um conjunto articulado de políticas, o que caracteriza a complexidade da política e a necessidade de garantia da sua implementação.

A articulação da PAE com as demais políticas públicas podem ser vislumbradas no quadro a seguir, em que demonstra a necessidade da interface não apenas com outras políticas, mas também, com outros programas sociais.

Quadro 8 - A interface da política de assistência estudantil com outras políticas públicas. POLÍTICAS (Interface) UFSM Projetos/Programas UFRGS (Projetos/Programas) Alimentação RU1- campus;

RU2- centro. RU1- campus centro; RU2- campus saúde; RU3- campus do vale; RU4- camp. Agronomia; RU5- Esef.

Habitação CEU I- Centro;

CEU II- Campus. CEU- Centro; CEFAV- Campus do vale; CEUFRGS- C. Viamão. Saúde Médico-Laboratorial; Odontológico; Atendimento psicológico. Médico-Laboratorial; Odontológico; Nutrição; Acomp. Psicológico. Transporte Subsídio parcial/ semestral nas

passagens Subsídio parcial/ mensal nas passagens Cultura/ Lazer Espaço Cinema Colônia de Férias

4 DIREITO À ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA PERSPECTIVA DOS USUÁRIOS E