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Características da pesquisa

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CAPÍTULO III PERCURSOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE DOS DADOS DA

3.2 Características da pesquisa

Ao traçar o percurso metodológico de uma pesquisa, tenta-se colocá-la em uma categoria que melhor descreva suas análises, suas particularidades e suas especificidades quanto ao assunto tratado, uma vez que se descobre, ao longo do percurso, que “pesquisar não é apenas procurar a verdade; é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos” (LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 15).

Dentro desta perspectiva vê-se que a pesquisa não é algo simples, exige reflexão, ação, aprofundamento bibliográfico e apreciações que convergem com o problema levantado e os dados colhidos em campo. Dentro dessa perspectiva, este trabalho se enquadra em uma abordagem quantiqualitativa, pois fundamenta as discussões utilizando esses dois paradigmas23 (quantitativo e qualitativo), desconfigurando as percepções de que as duas concepções não podem ser utilizadas em um mesmo trabalho ao mesmo tempo (KIRSCHBAUM, 2013).

A escolha entre métodos quali e quanti é em geral subordinada à discussão entre paradigmas de construção de conhecimento nas ciências sociais, levando frequentemente a dogmatismos: “Pior ainda do que as críticas infundadas ou parciais de que quantitativo-qualitativo é um binômio antitético, perante o qual é preciso optar” (CANO, 2015, p. 115). Pois, as pesquisas quali são tradicionalmente associadas a interesses de pesquisa tipicamente subjetivistas. Em contraste, pesquisas quanti geralmente respondem às exigências do paradigma “positivista”, cujo interesse de pesquisa é centrado no estabelecimento de leis causais. (KIRSCHBAUM, 2013, p. 179-180).

Desse modo, a opção por combinar essas duas abordagens foi feita porque a pesquisa qualitativa, enquanto exercício de pesquisa, “não se apresenta como uma proposta rigidamente estruturada, ela permite que a imaginação e a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que explorem novos enfoques” (GODOY, 1995, p. 21). Esse tipo de pesquisa questiona e “põe em dúvida o valor da generalização, diferenciando da pesquisa comum feita em ciência”, além de buscar observar intensamente os fenômenos no ambiente com registros precisos e detalhados (RAMPAZZO, 2005, p. 58).

A pesquisa qualitativa é “desafiadora, instigante e agradável”, porque estimula o pesquisador a parar mais tempo em campo para investigar. É preciso que toda análise seja feita e refeita até que se atinja uma “consistência e densidade” significativa quanto ao que esta

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Conceito das ciências e da epistemologia (a teoria do conhecimento) que define um exemplo típico ou modelo de algo. É a representação de um padrão a ser seguido (DICIONÁRIO INFORMAL. Paradigma. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/paradigma/>. Acesso em: 2 jul. 2017).

sendo pesquisado e falado pelos sujeitos pesquisados. Pois quando é possível identificar padrões simbólicos, práticas, sistemas classificatórios, categorias de análise da realidade e visões de mundo do universo em questão, e a recorrências atinge-se neste tipo de pesquisa o que se convencionou chamar de “ponto de saturação” e dá-se por finalizado o trabalho de campo, sabendo-se que se pode (e deve) voltar para esclarecimentos (DUARTE, 2002, p. 144).

Dessa forma, a pesquisa qualitativa é exaustiva, porque não pode pautar-se na superficialidade das informações e deve ser “minimamente compreendida”. Sem esgotar suas especificidades, a pesquisa qualitativa, segundo Chizzotti (2003, p. 228), busca vincular sua investigação com “os problemas ético-políticos e sociais”, e os pesquisadores qualitativos “declaram-se comprometidos com a prática, com a emancipação humana e a transformação social” (CHIZZOTTI, 2003, p. 228). Por outro lado, a pesquisa quantitativa representa, em princípio, a intenção de “garantir a precisão dos resultados, evitar distorções de análise e interpretação, possibilitando, consequentemente, uma margem de segurança quanto às inferências” (RICHARDSON, 2010, p. 70).

Ou seja, neste trabalho, as duas abordagens deram segurança às informações coletadas. Nesse caso, a pesquisa quantitativa auxiliou no “estabelecimento da validade de estudos originalmente qualitativos” e ajudou na identificação de momentos e locais que foram o foco de análises qualitativas complementares, aumentando a validade do estudo e não necessariamente — e é importante frisar isso — sua generalização (KIRSCHBAUM, 2013, p. 187-188).

Quanto ao objetivo da investigação, vale destacar que esta pode ser considerada como uma pesquisa exploratória, pois, além de analisar, busca descrever a representação e a prática social dos jovens universitários em relação às diversas manifestações da sexualidade, em especial, a homossexualidade. Dentro da concepção de Moscovici (2015), a compreensão dessas questões nos permite “entender como chegamos a conhecer, como formamos conceitos e ideias em nossas mentes” acerca de determinados assuntos, e nos permite compreender suas implicações no processo de desenvolvimento, julgamentos e formação de opiniões.

Tal entendimento de como se dá a construção da representação e da prática social sobre a diversidade sexual pode possibilitar um trato mais humanista quanta à temática, possibilitando a diminuição no processo de discriminação social do sujeito quanto às diversas identidades de gênero, porque traz novos dados sobre o assunto inerente à subjetividade humana. Andrade (2010 p. 112) explica que a pesquisa exploratória é o primeiro passo de

todo o trabalho cientifico: “são finalidades de uma pesquisa exploratória, sobretudo quando bibliográfica, proporcionar maiores informações sobre determinado assunto”.

De acordo com esta investigação, este trabalho se caracteriza também como uma pesquisa de campo, tendo em vista que discorre sobre a representação e sobre a prática social dos jovens universitários, na Universidade Estadual de Goiás (UEG) e na Faculdade Metropolitana de Anápolis (FAMA), em relação a sexualidade e gênero, conceitos esses subjacentes ao contexto social e ao contexto cultural (e decorrentes desses contextos) nos quais o sujeito se desenvolve.

De acordo com Gonsalves (2001, p. 170), a pesquisa de campo “pretende buscar a informação diretamente com a população pesquisada”. Ela requer um encontro direto entre o pesquisador, o fenômeno a ser observado e os participantes. Os impactos dessa representação e prática social sobre a diversidade sexual nos cursos de graduação dessas duas instituições se situam em um contexto complexo, tendo em vista as inúmeras críticas e os grandes desafios que envolvem essa temática dentro e fora da sala de aula.

Para realizar esta pesquisa, utilizamos como instrumento de coleta de dados um questionário com 47 questões, estruturado com perguntas abertas e fechadas. Nas perguntas fechadas, instituímos a categoria outros para que os entrevistados pudessem expressar-se de forma livre e espontânea sobre suas percepções e vivências sobre corpo, sexualidade e gênero, pois a livre expressão, na fenomenologia, segundo Gil (2010, p. 137), “é essencial tanto para descrição quanto para a interpretação da experiência vivida”. As perguntas abertas também foram relevantes quanto às percepções e possibilitaram manter o foco no que estava sendo investigado. Acredita-se que essa foi uma ferramenta rica em informações, principalmente porque os discentes utilizaram a opção outros para complementar ou adicionar informações relevantes. A interpretação e a análise de dados levantados foram feitas mediante descrições e narrativas dos atores envolvidos na pesquisa.

Assim, também utilizamos para análise de dados o levantamento bibliográfico, isto é, “um levantamento de toda a bibliografia já divulgada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita”. Sua finalidade foi colocar o pesquisador em contato direto com o material que foi escrito sobre o tema. Esse levantamento de dados passou por uma série de etapas, que incidem nos seguintes passos: “escolha do tema, levantamento bibliográfico preliminar, formulação do problema, elaboração do plano provisório de assunto, busca das fontes, leitura do material, fichamento, organização lógica do assunto; e redação do texto” (LAKATOS; MARCONI, 2010; GIL, 2010, p. 45).

3.3 Contextualização dos aspectos sociodemográficos dos sujeitos da pesquisa e do

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