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A dimensão populacional das regiões metropolitanas do Brasil pode sugerir a existência de fatores específicos que atraem mais pessoas para viverem nestes locais. O Censo do IBGE (2010) mostrou que cerca de 40% da população do país vive em áreas metropolitanas7. Além disso, a população dos 38 municípios com mais de 500 mil habitantes representou cerca de 30% da população do país, conforme a Tabela D.1 do Apêndice D. Isso mostra que existe uma forte concentração populacional em torno das áreas metropolitanas do país. A existência de economias de aglomeração que justifiquem tal escolha locacional precisa ser considerada nos estudos sobre os salários e a dinâmica do mercado de trabalho no Brasil. As economias de aglomeração precisam ser consideradas, mesmo na presença das desamenidades e custos (de congestão) associados à maior densidade urbana.

7 As regiões metropolitanas do Brasil são definidas, na Constituição Federal de 1988, como os agrupamentos urbanos de municípios limítrofes, instituídas pelas respectivas unidades federativas com o fim de organização, planejamento e execução de funções públicas de interesse comum. Considerando o período de análise deste estudo foram identificadas vinte e quatro RMs do Brasil na RAISMIGRA (1995-2008), a partir do IBGE.

A Figura 4 revela a relação entre os salários reais do trabalho formal e a densidade populacional nas áreas metropolitanas do Brasil, no ano de 2000. A densidade demográfica das RMs do Brasil está disponível na Tabela D.2 do Apêndice D. É possível perceber uma relação positiva e crescente entre a densidade urbana e os salários reais nas RMs do Brasil. As áreas de maior densidade populacional no Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, apresentam as maiores relações positivas. No extremo inferior da reta de tendência linear estão as RMs de Vale do Aço e Vale do Itajaí, abaixo da reta, e Norte/Nordeste Catarinense, acima. O ajuste da reta linear revela um padrão espacial geral em que as RMs da região Nordeste estão abaixo da reta, com salários reais relativamente menores, enquanto as RMs das regiões do Centro-Sul estão acima da reta, com salários reais mais elevados. Entretanto, a relação positiva entre a densidade demográfica e os salários reais foi mais forte nas RMs das regiões Norte e Nordeste do que na região Sul.

Figura 4 – Salário real do trabalho formal nas regiões metropolitanas (R$ de 2008) e densidade demográfica: 2000

Fonte: Elaboração própria, 2012 com base em BRASIL/RAISMIGRA, 2010a; IBGE, 2000 Nota 1: Valores nominais corrigidos pelo IPCA (IBGE);

Nota 2: A densidade demográfica foi calculada com base na população total de cada RM e na sua extensão territorial em km2.

A relação entre os salários reais e a densidade do emprego formal nas RMs do Brasil, em 2000, é apresentada na Figura 5. O comportamento apresentado para a densidade de empregos formais é similar à relação dos salários com a densidade populacional. Desse modo, existe uma tendência positiva e crescente na relação entre os salários reais e a densidade do emprego formal nas RMs. As RMs de São Paulo e Rio de Janeiro também apresentam as maiores relações positivas, enquanto as RMs de Vale do Aço, Vale do Itajaí e Norte/Nordeste Catarinense ainda apresentam as relações mais baixas.

0 500 1.000 1.500 2.000 0 250 500 750 1.000 1.250 1.500 1.750 2.000 2.250 2.500 S a ri o r ea l Densidade Demográfica São Luís Recife Belém Maringá Vitória N/NE Catarinense Campinas B. Santista POA Vale do Aço Vale do Itajaí Goiânia Londrina Natal Maceió Fortaleza Rio de Janeiro SãoPaulo Salvador

Figura 5 – Salário real do trabalho formal nas regiões metropolitanas (R$ de 2008) e densidade do emprego formal: 2000

Fonte: Elaboração própria, 2012 com base em BRASIL/RAISMIGRA, 2010a; IBGE, 2000 Nota 1: Valores nominais corrigidos pelo IPCA (IBGE).

Nota 2: A densidade do emprego formal foi calculada com base no número de empregos formais em cada RM e na sua extensão territorial em km2.

Com base nos dados recentes sobre os salários e educação foi possível concluir, parcialmente, que houve uma redução nas desigualdades entre as UFs do Brasil. No entanto, persiste uma distribuição espacial dos salários e educação desigual entre as regiões, que favorece as áreas mais dinâmicas do Centro-Sul do país. As análises apresentadas sobre a dinâmica recente do mercado de trabalho do Brasil sugerem a existência de ganhos de aglomeração urbana sobre os salários. Esses ganhos seriam mais revelados nas áreas metropolitanas. A razão salarial das regiões metropolitanas com as suas respectivas unidades da federação sugere que os ganhos relativos, associados à localização em uma área metropolitana, são mais intensos para os trabalhadores da região Nordeste. Isso seria um indício preliminar de que, relativamente, faz mais diferença para os trabalhadores da região Nordeste estar em uma área metropolitana. Cabe avaliar se o possível prêmio salarial das grandes áreas urbanas do país é mais intenso nas regiões mais dinâmicas, o que contribuiria para reforçar o padrão regional desigual. Por outro lado, se o prêmio salarial ocorrer em direção oposta, as disparidades tenderiam a ser reduzidas.

Dentro desse contexto, as características dos trabalhadores que residem nas áreas urbanas densas do Brasil parecem favorecer o aprendizado, o acúmulo de experiências e a elevação da produtividade, o que afetaria mais positivamente os seus ganhos no mercado de trabalho. Os trabalhadores das áreas metropolitanas do país possuem escolaridade acima da média das UFs correspondentes. Logo, os maiores ganhos nas áreas metropolitanas podem apenas manifestar

0 500 1.000 1.500 2.000 0 100 200 300 400 500 600 700 800 S a ri o r ea l

Densidade do Emprego Formal

Salvador Recife Maringá Vitória Campinas N/NE Catarinense Curitiba BH B. Santista Vale do Aço Vale do Itajaí Maceió Fortaleza Goiânia Natal Rio de Janeiro São Paulo

os maiores retornos aos atributos de seus trabalhadores. A presença de externalidades locais, que afetam distintamente os espaços, pode garantir retornos diferenciados para cada ano adicional de escolaridade. A investigação desse fenômeno requer teorias provenientes da Nova Geografia Econômica, da Economia Urbana e da Economia do Trabalho. Considerando a possível existência de economias de aglomeração urbana nas regiões metropolitanas do Brasil, o problema de pesquisa que se coloca é: as economias de aglomeração determinam algum padrão de distribuição espacial do prêmio salarial urbano e dos retornos à educação no mercado de trabalho formal, entre as regiões metropolitanas do Brasil? A resposta a esta pergunta permite a avaliação da distribuição espacial dos retornos à educação no Brasil. Além disso, permite avaliar se o padrão de desigualdade também age sobre as decisões dos trabalhadores formais mais habilidosos para se localizarem espacialmente no território brasileiro, ou seja, como se daria a atração de trabalhadores formais habilidosos.

As economias de aglomeração urbana decorrem da existência de externalidades positivas nas áreas urbanas densas, tais como o acúmulo acelerado de capital humano (learning), os

spillovers de conhecimento e as possibilidades de matching no mercado de trabalho, as quais

podem gerar ganhos de produtividade e salários. É possível que alguma proporção do ganho salarial associado à educação represente o efeito da localização em áreas urbanas densas. Os ganhos de aglomeração (prêmio salarial urbano) podem acentuar os retornos à educação nos locais de capital humano elevado, em virtude das externalidades positivas da educação. Por sua vez, a atração de indivíduos mais habilidosos, para estas áreas urbanas, gera maior retorno salarial, o qual poderia ser confundido com os ganhos de aglomeração.

Neste sentido, é necessário compreender qual a participação dos ganhos de aglomeração urbana sobre os maiores salários evidenciados para os trabalhadores formais em cada região metropolitana do país e se existe um diferencial nos retornos à educação decorrente de tais ganhos. Para tanto, revela-se a necessidade de uma análise específica, a partir de um referencial teórico, para lidar com as economias de aglomeração e retornos à educação, considerando a existência de forças para a concentração geográfica de agentes e atividades econômicas nas grandes áreas urbanas. É necessário definir, ainda, a relevância dos fatores locais na determinação da produtividade e respectivos ganhos para os trabalhadores, no mercado de trabalho. Desse modo, a próxima seção procura definir um referencial teórico que permita solucionar, a princípio, teoricamente, o problema de pesquisa apresentado no presente capítulo.