2.4 Amostras
2.4.1 Caractersticas de vidros com pontos qu^anticos [18]
Os vidros dopados com CdT e t^em sido estudados nos ultimos anos devido a suas in- teressantes propriedades opticas e eletr^onicas, para aplicac~oes como dispositivos opticos, moduladores de luz e lasers [18]. A caracterstica principal destes vidros dopados e apre- sentar nanoestruturas semicondutoras com raios medios de 10 _A a 100 _A, o que e suciente para apresentar efeitos de connamento qu^antico como pontos qu^anticos. O interesse em estudar tais estruturas se deve ao fato de que gracas ao connamento qu^antico elas apresentam em geral n~ao linearidades altas e tempos de resposta rapidos. Em termos do controle das propriedades opticas de semicondutores atraves de connamento dimen- sional, os resultados mais concretos s~ao aqueles ligados aos pocos qu^anticos. O sucesso obtido nas investigac~oes com esse tipo de estrutura despertou um grande interesse no estudo das propriedades de estruturas semicondutoras que apresentam um grau maior de connamento dimensional, tais como os os qu^anticos (connamento bidimensional) e os
pontos qu^anticos. O efeito de connamento dimensional altera os nveis de energia e essa alterac~ao pode ser descrita em termos da densidade de estados, que mostra o numero de estados discretos permitidos de um eletron num intervalo xo de energia. A gura (2.5) ilustra como essa densidade de estados varia em func~ao do grau de connamento dimensional.
A energia necessaria para transferir um eletron da camada de val^encia para a de conduc~ao e a chamada energia do gap Eg que e simplesmente a diferenca entre os esta-
dos de maior energia da banda de val^encia e os estados de menor energia da banda de conduc~ao, tipicamente medida em eletrons-volts (eV).
A energia dos eletrons em cristais semicondutores e descrita pela teoria de bandas. Quando os atomos s~ao colocados juntos de forma organizada para formar um cristal, seus nveis de energia se somam para formar bandas de energia. No caso do semicondutor bulk (3-D),a densidade de estados (E) que os eletrons podem ocupar varia de um modo contnuo. Quando se colocam barreiras de potenciais limitando o seu movimento em uma das direc~oes dos portadores no material, verica-se que ocorre uma mudanca na densidade de estados de energia permitidos. Limitando um dos lados deste cubo tridimensional, os eletrons cam aprisionados em duas dimens~oes e a densidade de estados eletr^onicos se torna quantizada, conforme apresenta a gura (2.5). Estes s~ao os chamados pocos qu^anticos. Se continuarmos limitando as dimens~oes, teremos ent~ao os chamados os qu^anticos (1-D) e os pontos qu^anticos (0-D). A densidade de estados de pontos qu^anticos, diferentemente dos outros, e discreta e tem caractersticas similares a atomos.
Os pontos qu^anticos s~ao sistemas que podem ser utilizados para investigar o compor- tamento dos semicondutores em um regime de tamanho nito, t^em poucos nanometros de di^ametro e s~ao formados por poucos milhares de atomos.
A reduc~ao dos tamanhos nas tr^es direc~oes em pontos qu^anticos, alem de modicar a densidade de estados, faz com que os portadores de carga sofram um connamento qu^antico, aumentando a energia do gap. Sendo assim, o gap aumenta com o decrescimo do tamanho da partcula. Devido a este efeito os espectros de absorc~ao dos semicondutores se deslocam para energias mais altas conforme a diminuic~ao do tamanho das partculas.
O connamento dos portadores faz com que o espectro dos estados de energia nas bandas de conduc~ao e de val^encia seja formado por uma serie de linhas discretas. Alem disso, como podemos observar na gura (2.6), o efeito de connamento de eletrons e buracos faz com que a energia de transic~ao entre os seus primeiros estados connados (h; 1s e; 1s) na notac~ao da gura seja maior do que a energia do gap do semicondutor bulk (transic~ao em k = 0). Isto signica que o espectro de absorc~ao de um ponto qu^antico apresenta um limiar num valor de energia que e maior do que aquele apresentado pelo semicondutor bulk. A variac~ao em energia do limiar de absorc~ao, devido ao efeito de connamento qu^antico, depende do raio do nanocristal.
Em geral, quando se fala em fabricac~ao de nanoestruturas com connamento qu^antico, a primeira imagem que se usa e aquela que envolve sosticadas tecnologias de crescimento de cristais. Contudo, no caso particular dos pontos qu^anticos, os vidros dopados com semicondutores s~ao um dos poucos exemplos de materiais disponveis com este tipo de
Figura 2.5: Descric~ao esquematica das mudancas de densidade de energia em func~ao do connamento qu^antico
connamento qu^antico. Apesar da relativa simplicidade de sua fabricac~ao, nesses materi- ais encontramos cristais semicondutores com di^ametros que podem ser bem menores que 60 _A.
Uma caracterstica desejavel num sistema ideal de pontos qu^anticos e que todos os pon- tos tenham um so tamanho, pois com isso seria possvel reduzir o alargamento inomog^eneo introduzido pela distribuic~ao de tamanhos. Outra caracterstica importante em qualquer material semicondutor e que o cristal crescido apresente o menor numero de impurezas
Figura 2.6: Esquema do espectro de energia de um semicondutor (esquerda). As energias de eletrons e buracos num ponto qu^antico est~ao representadas no lado direito da gura e defeitos. Por serem fabricados com uma tecnica que n~ao permite exercer um controle muito preciso desses par^ametros, os vidros dopados com semicondutores ainda n~ao podem ser considerados como um sistema ideal de pontos qu^anticos. Assim, mesmo n~ao sendo um sistema ideal de pontos qu^anticos, os vidros dopados com semicondutores representam hoje uma das poucas alternativas para se avancar na compreens~ao das propriedades deste tipo de sistema.
possuem a forma de uma esfera de raio R. Chamaremos um nanocristal semicondutor de ponto qu^antico se:
Ic << R = ab (2.8)
onde Ic e o par^ametro de rede do semicondutor e ab e o raio de Bohr dos portadores
fotoexcitados. Ou seja, em comparac~ao com uma celula unitaria, um ponto qu^antico tem um tamanho macroscopico, mas em qualquer outra escala macroscopica ele e considerado pequeno. Se um eletron e excitado da banda de val^encia para a de conduc~ao de um semicondutor, deixando um buraco na banda de val^encia, o eletron e o buraco podem criar um estado ligado por interac~oes coulombianas. Este estado ligado, conhecido como exciton, tem uma energia de recombinac~ao um pouco menor do que a energia do gap entre as bandas. O raio de Bohr do exciton (ab) e dado pela seguinte equac~ao:
ab = 401~ 2 m0e2 1 m e + 1 m h (2.9) onde 1 e a constante dieletrica relativa do meio para alta frequ^encia e me e mh s~ao
as massas efetivas do eletron e do buraco, respectivamente (ambas em func~ao de m0) e
m0 e a massa do eletron em repouso. O raio de Bohr resultante para os excitons em
semicondutores e muito maior do que o de um atomo de Hidrog^enio, uma vez que as massas efetivas dos portadores s~ao consideravelmente menores que a massa de um eletron em repouso, e 1 e consideravelmente maior do que 1 para um semicondutor. Valores
(CdSe) por exemplo, est~ao no intervalo de 1 a 10 nm.
No caso do ponto qu^antico, o modelamento e feito assumindo-se um potencial de connamento qu^antico innito com a condic~ao de contorno de que a func~ao de onda do eletron ou do buraco se anule na superfcie do ponto. Tendo o gap da matriz vtrea um valor aproximado de 3,5 eV, enquanto que o CdT e tem um gap de 1,5 eV, e sendo este hospedeiro um material amorfo, esta aproximac~ao ate que e bem valida.
Uma quest~ao central e entender como o espectro optico do semicondutor evolui com o tamanho do nanocristal. Enquanto nos semicondutores bulk, a temperatura ambiente (300 K), o espectro de absorc~ao e um contnuo acima do gap do material, nos pontos qu^anticos o espectro e altamente estruturado. Esta estrutura e devida ao connamento do par eletron-buraco pelas condic~oes de contorno do ponto. Em princpio, a forca do oscilador bulk esta concentrada em uma serie discreta de transic~oes similares as at^omicas. Por esta raz~ao, os pontos qu^anticos s~ao chamados algumas vezes por \atomos articiais". Entretanto, enquanto este comportamento at^omico seria muito util em dispositivos opticos semicondutores, tais como o chaveamento optico, na pratica este comportamento n~ao e totalmente id^entico ao at^omico. A quest~ao que surge e se esta inabilidade de representar o comportamento at^omico por completo e inerente a fsica dos pontos qu^anticos e seu uso como rotulos luminescentes em sistemas biologicos.
Devido a versatilidade qumica destas superfcies, os pontos qu^anticos podem ser dis- persos em uma variedade de materiais hospedeiros, como polmeros, solventes e outros semicondutores. Recentemente, sistemas ordenados de pontos qu^anticos t^em sido fabri-
cados, apresentando toda uma nova classe de materiais para nanocristais. Com o intuito de eliminar os efeitos do alargamento inomog^eneo (devido a distribuic~ao de tamanhos de nanocristais), recentemente foi demonstrado que e possvel medir o espectro de emiss~ao de pontos qu^anticos individualmente.
Alem dos efeitos de connamento qu^antico, outros efeitos podem in uenciar as pro- priedades opticas destas nanopartculas. Um dos efeitos e o surgimento de estados de energia de superfcies diferentes daqueles dos outros atomos no cristal. Estes estados t^em uma grande in u^encia nas propriedades opticas, pois podem agir como centros de decai- mento n~ao-radiativo. Entretanto, estes mesmos centros podem estar relacionados com transic~oes radiativas. Na literatura este tipo de material e denominado de compositos de- vido ao fato de conter dois tipos de estruturas, neste caso, uma estrutura vtrea (matriz) e outra estrutura cristalina (nanocristal semicondutor). A gura (2.7) ilustra de maneira esquematica estas estruturas.