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CAPÍTULO 2 ANÁLISE ARQUITECTÓNICA, CARACTERIZAÇÃO CONSTRUTIVA

2.5. Caracterização arquitetónica dos edifícios

Os edifícios, objetos de estudo desta dissertação que formam um complexo edificado rural na quinta de Picões, devem datar de cerca de 1645, enquanto a Capela de Santo António data de 1730, segundo os registos encontrados.

Em geral os edifícios em Picões, os que se encontram na parte central da quinta, seguem o traçado da arquitetura tradicional portuguesa, enquanto a Capela de Santo António da Quinta de Picões apresenta dois estilos diferentes, o barroco e o estilo manuelino.

A arquitetura tradicional portuguesa é um dos mais significativos e relevantes aspetos da humanização da paisagem em que emergem numerosos condicionalismos, desde geográficos, económicos, sociais, históricos e culturais. É claro considerar, a arquitetura tradicional portuguesa um produto da relação do homem com o meio natural que o rodeia [2.9].

A quinta de Picões apresenta um aglomerado compacto de edifícios, constituído de casas contiguas e uniformes e de feição rústica. Verifica-se a existência de uma casa grande,

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Mais abaixo desse pequeno aglomerado verifica-se também uma casa de andar. Visto de longe, o aglomerado de casas parece um único edifício.

Os edifícios da Quinta de Picões, geralmente, têm apenas um piso, verificando-se apenas dois edifícios de andar. No seu conjunto, a quinta é constituída pelas casas de habitação, Capela de Santo António, estábulos, adegas e pátios interiores. O andar térreo, englobando o rés-do-chão das habitações e da capela, tem uma área aproximada de 2218 m2, tratando-se do piso com maior diversidade de divisões, desde salas, quartos, cozinhas, estábulos, telheiros, adegas, lagares e anexos. O primeiro piso apresenta uma área de 206 m2 formada por compartimentos diferentes: salas, quartos, cozinhas e anexos.

Nas figuras 14 e 15, desenvolveu-se organograma funcional dos edifícios da Quinta de Picões, ao nível do rés-do-chão e ao nível do andar, que se aproxima da hipotética organização espacial e funcional dos edifícios originais; mas devido ao grau de deterioração derivado e ao abandono da quinta não é possível identificar qual era a verdadeira função de todas as divisões com clareza e precisão.

Figura 15: Ornograma funcional dos edifícios da Quinta de Picões, ao nível do andar (Santos, Michaël, 2015).

A casa grande, como já foi referido, possuía um pátio grande que leva o nome de “curral” ou “curralada” [2.9], que fica no meio da casa, rodeado por três fachadas. O portal de aceso rasga-se no muro sul da casa. Nas casas pequenas, contíguas e arruadas, a curralada, normalmente, não existe, mas nesta quinta verifica-se em duas casas a existência da curralada. O material de construção predominante é o granito, formado por pequenos blocos de faces aparelhadas, e outros silhares de feição irregular.

Nas duas pequenas casas, mencionadas anteriormente, com curralada, verifica-se a existência de escadas que são exteriores, e feitas de pedra que conduzem a um patamar de entrada ao piso superior. Estas duas casas são de dois andares.

Os telhados predominantes em Picões são de duas águas, compridas e poucas inclinadas. Também se verifica a existência de telhados de quatro águas, na casa grande. As casas em Picões aparentam ter um telhado seguido, quase único, características da arquitetura tradicional, que as recobre a todas ou parte delas, e onde se verifica um pátio aberto

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quadrangular irregular no telhado. Esse pátio aberto quadrangular acusa a existência de uma curralada [2.9].

A cobertura é toda feita de telha. Devido a degradação da maioria dos telhados em Picões, não se pode verificar a existência de chaminés e de decorações. Na arquitetura tradicional em Trás-os-Montes os telhados não mostram quaisquer elementos decorativos e as chaminés são raras [2.9]. Daí poder-se concluir, que provavelmente, não deveriam existir chaminés no telhado. Sendo assim, os telhados ficavam em telha-vã ou em forro que deixa um espaço aberto sobre o lar, por cima do qual levantam algumas telhas para a saída de fumos [2.9].

A varanda, verifica-se apenas na casa grande, onde apenas restam três pilares grossos em granito, e um pilar já em ruínas, foto 5 e 6, que provavelmente serviria de suporte a essa varanda. Quando se verifica a curralada no meio da casa, a varanda geralmente corre ao longo das três fachadas [2.9], mas neste caso, a varanda corre apenas numa fachada.

Foto 6: Pilar grosso em granito em ruínas (Santos, Michaël, 2015).

No entanto, não se verifica a existência da escada de acesso à parte do vestíbulo do andar térreo [2.9]. Nas casas contiguas não há existência de varandas.

Na casa grande verifica-se a existência de um pilar, foto 7, que devia servir de base de suporte para cobertura juntamente com outros pilares, foto 9, que já se encontram em ruínas.

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Foto 8: Vista do intradorso da fachada sul dos edfificios destinados ao morgadio de Vilartão e de um Pilar grosso em granito no pátio central (Santos, Michaël, 2015).

Foto 9: Pilar grosso em granito em ruínas (Santos, Michaël, 2015).

Interiormente, as casas não apresentam quaisquer particularidades distintivas. A divisão essencial da casa é a cozinha, onde decorria a parte mais importante da vida familiar. Nas casas de andar, a cozinha, geralmente, situa-se no andar superior [2.9].

A capela de Santo António, em Picões, trata-se de uma construção arquitetónica manuelina e barroca.

Introduzida em 1520, a arquitetura manuelina, tem um delineação de difícil definição, mas em termos gerais é caracterizada por uma certa sofisticação intelectual, pelo aumento da originalidade e das representações individuais, pela energia e complexidade das suas formas, e pelo artificialismo no trato dos seus temas, com o objetivo de atingir uma maior emoção, elegância, poder e tensão [2.2].

Do estilo Manuelino apenas se verifica uma característica e pormenor construtivo desse estilo que é a galilé, uma construção arquitetónica na entrada da capela situada no exterior, sendo constituída por cobertura, que protege a entrada da Capela, decorada com arcos.

A construção arquitetónica barroca, introduzida em Portugal em 1640 e chegando mais tarde ainda às zonas periféricas dos grandes centros culturais, é caracterizada pela complexidade na construção do espaço e pela busca de efeitos impactantes e teatrais, uma predileção por plantas axiais ou centralizadas, pelo uso de contrastes entre cheios e vazios, entre formas convexas e côncavas, pela exploração de efeitos dramáticos de luz e sombra, e pela inclusão entre a arquitetura e a pintura, a escultura e as artes decorativas em geral [2.5].

As pilastras presentes na capela de Picões que apresentam capitéis toscanos, as bases das pilastras e das cornijas são de perfil reto, os balaústres, a talha do altar e as formas onduladas presentes por cima da galilé e da entrada da capela são todas características e pormenores construtivos do Barroco.

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Foto 11: Formas onduladas presentes no frontão que cobre a galilé (Santos, Michaël, 2015).

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