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CAPÍTULO 2 ANÁLISE ARQUITECTÓNICA, CARACTERIZAÇÃO CONSTRUTIVA

2.2. Enquadramento Histórico

A Quinta ou Aldeia de Picões, propriedade dos Morgados de Vilartão, situa-se no extremo nordeste do concelho de Valpaços e pertence à freguesia de Bouçoães.

Foto 1: Aldeia de Picões (Santos, Michaël, 2015).

O Morgadio de Vilartão foi instituído em 1644, por Álvaro de Morais Soares, Governador do Castelo de Monforte de Rio Livre, onde o morgadio era considerado dos melhores da província de Trás-os-Montes. Álvaro de Morais Soares mandou construir o Morgadio de Vilartão devido às poucas condições que o Castelo de Monforte de Rio Livre apresentava já na altura [2.7].

O morgadio de Vilartão e a quinta de Picões estiveram sempre ligados à família Morais Soares, bem o como a governação do Castelo de Monforte de Rio Livre esteve ligado também à família [2.7].

REABILITAÇÃO DE EDIFICIOS HISTÓRICOS DE PICÕES, VALPAÇOS: Propostas de intervenção e salvaguarda

20 Mestrado em Engenharia Civil, UTAD, 2015 Michaël Santos

Foto 2: Castelo de Monforte de Rio Livre (Santos, Michaël, 2015).

A quinta de Picões era destinada à produção agrícola, onde viviam apenas os caseiros que trabalhavam e cuidavam dos terrenos, pastos e crias da quinta. Na quinta também existiam os lagares de vinho e azeite, o moinho, mas havia também o forno para o fabrico de telha pertencente ao mesmo proprietário. Também existe uma capela na quinta, mandada construir por António de Sá Pereira do Lago, descendente dos Morgados de Vilartão, entre 1730 e 1738, dedicada ao culto Antonino [2.7].

Contudo a Quinta de Picões não foi estabelecida juntamente com o Morgadio de Vilartão, segundo alguns registos, Picões existe desde os tempos dos Romanos. O fabrico da telha em Picões foi iniciado já com os romanos. Além de ter deixado o forno de telha como vestígio da sua presença, a quinta de Picões era atravessada por uma via romana de Braga a Astorga. Em abono da questão da via romana, o Padre João Vaz de Amorim referia em 1939, citada pela Maria Aline Ferreira:

“Nas faldas da serra de Esculca, em Picões, rio Rabaçal era atravessado por uma ponte romana de dois arcos, cujos vestígios ainda se encontram patentes a cerda de 500 metros da ponte nova de Rebordelo, construída no sítio conhecido por Rebentão”.

Também refere que “ na Quinta de Picões, propriedade dos Morgados de Vilartão,

próximo do rio Rabaçal, há vestígios de construções romanas. Logo um pouco abaixo é o sítio das pontes velhas, já destruídas. Uma delas era do tempo das legiões romanas. Semelhante a outra, perto de Valtelhas, e eis portanto a razão da existência das construções romanas. Ali, por certo, residiam os que guardavam e vigiavam as passagens da Velha Ponte”.

Também sobre este assunto, as Memórias Paroquiais de 1758 diziam, citada pela Maria Aline Ferreira: “Da quinta de Picões que fica ao nascente da matriz hum quarto de

légoa e tem sete moradores. Fica junto ao rio chamado Rabaçal, caudaloso, corre todo o ano de Norte a Sul. Houve ahí huma ponte de pedra que levou o rio, averá duzentos anos. Depois se fez huma de pau, que teve o mesmo fim. E não se tornou a renovar por incúria dos ministros das terras, sendo tão necessária esta ponte. E se tem afogado neste rio Rabaçal desde o tempo que falta a ponte mais cincoenta pessoas por passarem em huas pedras que estão no meio deste rio a que chamam o salto de Picões e poucos corpos dos que se afogam aparecem por ser o rio muito arrebatado e de muita pedraria forte. Em tempo do Sereníssimo Senhor Dom João Quinto, que Sancta Glória haja, se pôs a pergam a ponte deste rio mas não teve efeito a arrematação pellos interessados quererem comer a metade da arrematação. Esta ponte hé muito necessária para o bem comum desta província e ainda para a Fazenda Real se transportar de Chaves para Bragança”.

Segundas estas descrições, pode-se concluir que a ponte já se encontrava destruída no século XVI, e que a via romana que atravessava Picões tornar-se-ia mais tarde o “caminho real” e até à primeira década do século XX, a estrada principal de Chaves-Vinhais. Hoje em dia a ponte romana encontra-se submersa pelas águas da mini-hídrica do rio rabaçal [2.8].

REABILITAÇÃO DE EDIFICIOS HISTÓRICOS DE PICÕES, VALPAÇOS: Propostas de intervenção e salvaguarda

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Segundo relatos e testemunhos da população local, consta-se que o Morgado de Vilartão, proprietário da quinta de Picões não deixou romper uma nova estrada pelo curso da antiga, em 1915, pelo que originou o abandono das terras. A construção da nova estrada tem o traçado aproximadamente parecido à atual EN 315 [2.8].

Há cerca de 60 anos que a aldeia encontra-se abandonada. Até há bem pouco tempo, Manuel do Rio, deslocava-se a pé todos os dias de Rebordelo a Picões para matar saudades da sua Terra, onde cresceu e viveu a maior parte da sua vida. Hoje em dia, o Sr. Manuel desloca- se raramente a Picões devido aos seus longos e muitos anos, mas faz questão de ainda se deslocar à sua amada Terra, onde é considerado o último guardião de Picões [2.8].

Atualmente, o núcleo da quinta de Picões encontra-se já em ruinas, restando apenas alguns edifícios “intactos”. O edifício que se encontra em melhor estado de conservação, mas fora do núcleo da quinta, é a capela da quinta de Picões, denominada como a Capela de Stº António, a qual já foi alvo de reparação, mas que já mostra sinais de necessitar de um restauro.

Foto 4: Capela de Stª António, em Picões (Santos, Michaël, 2015).

Outrora a Quinta de Picões, repleta de gente, foi uma pequena localidade de grande atividade agrícola e o sustento de muitas famílias, hoje é apenas mais uma de muitas aldeias abandonadas pelo país fora, ao qual restam apenas as ruínas dos edifícios e a beleza da mãe

natureza, que tem estado a salvo dos inúmeros incêndios que têm assombrado o nosso pais ao longo destes anos.

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