• Nenhum resultado encontrado

A primeira categoria analisada foi o sexo do primeiro autor. A partir desta análise foi identificada a predominância do sexo feminino nos artigos. São sete autores do sexo feminino e dois do sexo masculino.

Acredita-se que a predominância do sexo feminino nas publicações esteja relacionada a questão de gênero. As mulheres são as maiores vítimas da violência baseada no gênero e com graves repercussões a sua saúde, nesse sentido também desperta a sensibilização para a organização e produção de objetos científicos.

Além das implicações e consequências da violência sexual contra a mulher, outro fator pode contribuir para a tendência do sexo feminino ordenar objetos científicos acerca dos estudos de gênero, a colaboração do movimento de mulheres, que por sua vez alcança maior incorporação do que os pesquisadores homens.

Aquino (2006) constata a liderança do sexo feminino nas tendências da produção cientifica no Brasil:

Os grupos de pesquisa têm forte presença feminina (73,3% dos pesquisadores e 73,8% dos estudantes), sendo liderados majoritaria, mas não exclusivamente por mulheres (67,3%). Entretanto, considerando que 65,5% dos grupos têm um segundo líder, dentre os quais 80,5% são mulheres, isso pode indicar a reprodução de hierarquias de gênero na organização do trabalho acadêmico mesmo nesse campo temático, marcado

em suas origens pelo feminismo. (AQUINO, 2006, p. 4).

Quanto ao tipo de artigo, as publicações se dividiram em quatro artigos originais, dois artigos de revisão, dois relatos de experiência e um artigo de reflexão. De acordo com Pizzani et al (2012), os artigos originais são classificados como fontes primárias que consistem em teses universitárias, livros, relatórios técnicos, artigos em revistas científicas e anais de congressos. São trabalhos com informações e pontos de vista novos, que mostram problemas existentes sob novas perspectivas, publicados pela primeira vez. Nos artigos originais os estudos descrevem seus métodos, resultados e a discussão do tema.

Compreende-se que todos os tipos de artigos contribuem para a produção de conhecimento e que cada tipo gera informações relevantes e significativas para a literatura. Porém, acredita-se que este resultado esteja relacionado a busca por novos conhecimentos, a partir da identificação de um objeto, construindo uma

análise, que por sua vez pode estabelecer relações com teorias já publicadas direcionando para a conclusão das hipóteses. Atribui-se também ao fato de que as revistas estejam mais interessadas em publicar artigos originais, por tratar-se de uma pesquisa com novos determinantes.

Os artigos originais enriquecem a literatura dessa temática, promovendo o debate de novos olhares, novas conclusões, construindo novas propostas. Contudo, os artigos de revisão também são mais comuns dada a sua facilidade em reunir e acessar os periódicos já publicados.

Em relação a vinculação institucional, todos artigos estão articulados com instituições da esfera pública. Entre as instituições, quatro pertencem a um centro de referência à saúde da mulher, três foram realizados em maternidades municipais e dois pertencem ao programa de pós-graduação do curso de enfermagem de universidades federais.

Acredita-se que a razão da predominância dos artigos estarem vinculados a instituições de esfera pública esteja relacionado ao fato da violência sexual contra a mulher ser uma questão de saúde pública, reconhecida pela OMS e, por assim, demandar para o Estado respostas de enfrentamento. Cabem nessas respostas os serviços de atendimento às mulheres em situação de violência o que torna essas instituições também campo para observação, pesquisa e produção quanto à temática.

A Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres estabelece como um dos seus objetivos:

Garantir o atendimento humanizado e qualificado às mulheres em situação de violência por meio da formação continuada de agentes públicos e comunitários; da criação de serviços especializados (Casas-Abrigo/Serviços de Abrigamento, Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor, Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Defensorias da Mulher, Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher); e da constituição/fortalecimento da Rede de Atendimento (articulação dos governos – Federal, Estadual, Municipal, Distrital e da sociedade civil para o estabelecimento de uma rede de parcerias para o enfrentamento da violência contra as mulheres, no sentido de garantir a integralidade do atendimento. (BRASIL, 2011, p. 14). Quanto aos centros de referência, acredita-se que por estarem em sua maioria vinculados às universidades facilitam a produção dos artigos, pois, se tornam um campo de pesquisa para reflexões quanto ao seu atendimento,

produzindo periódicos para auxiliar e qualificar os profissionais que atuam nesse local:

Realizar um atendimento humano e de qualidade é sua obrigação. Colaborar, juntamente com todos os demais setores, para a prevenção deste crime e de suas consequências. Quanto mais profissionais estiverem capacitados para realizar o atendimento, melhores serão as condições de se oferecer uma atenção digna e desburocratizada. Assim, a capacitação das equipes deve incluir tanto conhecimentos técnicos quanto a reflexão sobre suas atitudes, seus conceitos de violência e o contato direto com as vítimas de agressão. (BENDONE; FAÙNDES, 2007, p. 467).

Sobre a origem geográfica, os artigos estão divididos em seis da região sudeste, dois da região sul e um da região centro-oeste. Pode-se notar uma distribuição desigual em relação a região sudeste. Essa região apresenta maior concentração de publicações acerca da violência sexual.

Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que na região sudeste estão os centros de estudos e universidades mais desenvolvidos do país. Segundo Barros (2000), no país 82% dos grupos atuantes em pesquisa estão nas regiões Sudeste e Sul, o que revela grande disparidade de desenvolvimento entre as regiões brasileiras. A base técnica-cientifica está instalada nessas regiões onde sua expressão se torna mais potente e recebe maiores investimentos por parte do Estado.

A este resultado pode-se somar também o fato de que a região sudeste é a que possui maior índice de vítimas de estupro, despertando maior interesse da região na produção de artigos que abordem a temática. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2016), no ano de 2014 foram registrados 50.438 casos de estupros no Brasil. Somente em São Paulo foram registrados 10.026 e 5.676 no Rio de Janeiro, a região sudeste possui os maiores números por estado. A região Sul aparece logo após com os números de 4.298 no Paraná e 3.176 no Rio Grande do Sul. Enquanto na região Centro-oeste os números são menores, com 1.414 no Mato Grosso do Sul, 1.300 no Mato Grosso e 605 em Goiás. Assim, esses números podem indicar que a região sudeste possui maior preocupação com a violência sexual contra à mulher produzindo mais artigos relacionados ao tema.

Com referência ao ano de publicação dos artigos, sete estão compreendidos na década de 2000 e apenas dois artigos foram publicados no ano

de 2011 e 2014.

Observa-se que durante a década de 2000 houve maior publicação sobre a violência sexual contra a mulher. Segundo Lima e Deslandes (2014), a década de 2000 foi aberta com o reconhecimento ministerial da violência como um problema de saúde pública e a institucionalização da Área Técnica de Saúde da Mulher no organograma do MS.

Entre os anos de 2003 a 2007 houve uma significativa promoção do tema acerca da violência sexual, pois foram anos que se estabeleceram diretrizes, prioridades e metas para a saúde das mulheres. O enfretamento à violência contou com a elaboração de planos, políticas e organizações de serviços, a criação da SPM e a força do governo eleito (LIMA; DESLANDES, 2014).

Acredita-se que as publicações se concentraram na década de 2000 pois houve grande ação do governo e do MS para o enfrentamento da violência contra a mulher, disponibilizando serviços de atendimento às mulheres, bem como a implementação de planos e políticas de promoção integral da sua saúde.

Contribuíram também para a concentração na década de 2000 a Lei 11.340/06, conhecida popularmente como “Lei Maria da Penha” e a criação da Norma Técnica sobre Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes, criada em 1999 e revisada nos anos subsequentes.

Sobre a área do conhecimento, os artigos foram classificados em: três da Enfermagem, dois da Saúde Coletiva, um da Ginecologia e Obstetrícia, um da Saúde Pública, um da Psicologia, um das Ciências Biológicas. Observa-se maior publicação nas áreas da Enfermagem e Saúde Coletiva.

Compreende-se que a Enfermagem possui um papel muito importante nos serviços de saúde de atendimento à mulher em situação de violência sexual, pois, como destaca Faúndes et al (2006), é o profissional que habitualmente presta o primeiro atendimento a essas mulheres.

Acredita-se que a Enfermagem esteja em maior destaque nas publicações devido à necessidade de aprofundamento do conhecimento acerca da violência sexual e das abordagens profissionais para um atendimento adequado e humanizado, qualificando os enfermeiros na compreensão do fenômeno por inteiro e não somente em relação as lesões físicas causadas, afastando dos aspectos

biomédicos e inserindo a compreensão biopsicossocial.

Considera-se também sobre a predominância da Enfermagem as oportunidades dos cursos de pós-graduação, investimento em pesquisas, formação profissional, capacitação profissional, bem como o espaço nas revistas para as referidas publicações. A importância da capacitação para o atendimento não deve ser somente da área da Enfermagem, mas sim dos profissionais de saúde como um todo.

Com referência a metodologia adotada nos artigos, as abordagens das pesquisas se dividiram em: sete qualitativas, uma quantitativa e uma quali- quantitativa.

As pesquisas com abordagem qualitativa são capazes de dar significado que vão além da magnitude do fenômeno, ou seja, compreender as suas representações, manifestações, sentimentos e relações. O método qualitativo consegue superar a superficialidade da estatística para conhecer, refletir e aprofundar sobre um determinado objeto.

Esse resultado indica o rompimento da ideia de que apenas as ciências sociais são capazes de realizar pesquisas de abordagem qualitativa, pois, embora a saúde se inscreva nas ciências humanas, também produzem artigos com essa abordagem.

Para Turato (2005), as revistas cientificas da área da saúde passaram a se interessar por artigos com pesquisas qualitativas, o que gerou demanda para programas de pesquisa institucional e aumento das publicações.

Acredita-se que a abordagem qualitativa no campo da saúde promove maior aproximação com o que está além do resultado do fenômeno, ou da mera aparência, enriquecendo a interpretação do que está oculto. Isto é, o método pode levar a uma compreensão dos dados sem ignorar aspectos essências e sem generalizar os resultados de forma técnica.

Sobre o campo empírico dos artigos, observou-se que: quatro não realizaram suas pesquisas em nenhum campo, três realizaram no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e dois foram realizados em maternidades municipais distintas.

empírico está associada à escolha de seus procedimentos metodológicos, ou seja, por tratarem-se de pesquisas bibliográfica, documental ou estudo teórico não se debruçaram em nenhuma instituição para campo de pesquisa.

Quanto a realização de três artigos estarem vinculados ao CAISM, acredita-se que esta instituição seja referência dos centros de atendimento à saúde da mulher, despertando o interesse em observar os processos e protocolos de atendimento da mesma.

Segundo Bedone e Faúndes (2007), o CAISM é um hospital terciário que oferece atendimento às mulheres em diversas áreas, tais como: Ginecologia, Obstetrícia, Oncologia (ginecológica e mamária) e atende mulheres em situação de violência sexual desde a sua criação, em 1986. Esse atendimento passou por reformulações devido ao aumento da demanda de mulheres que procuravam a unidade após a violência e tornou-se referência local e regional, sendo considerado um serviço modelo neste atendimento.

Quanto a análise dos participantes abordados, sete artigos optaram por outras formas de levantamento e não incluíram participantes em suas pesquisas, um artigo entrevistou enfermeiros que realizavam o acolhimento no atendimento e um artigo destinou-se a abordar os profissionais de saúde envolvidos no cuidado direto à gestante na assistência pré-natal.

Acredita-se que este resultado possa estar associado a dois eixos: ao despreparo dos profissionais de saúde em lidar com a violência sexual no sentido de não a compreender como parte constitutiva da relação desigual entre os gêneros, sem inserir a violência como uma grave violação do direito da mulher e circunscrevendo no sentimento de dor, compaixão e sofrimento. E o outro, ao processo de revitimização da mulher fazendo-a reviver a violência sofrida se for abordada para participação em pesquisas.

Cavalcanti; GOMES; MINAYO (2006) contextualizam bem a representação dos profissionais de saúde quanto a esse ponto:

O sofrimento, como uma idéia associada à violência sexual, é mais freqüente entre os (as) enfermeiros (as) e as médicas. Esse sofrimento a que se referem os profissionais entrevistados, por envolver dor e trauma, é visto por meio de um olhar biomédico que reconhece a violência sexual como uma experiência corporal feminina, podendo ser compreendida por intermédio de signos e sintomas passíveis de diagnóstico e tratamento. Tal ênfase se relaciona ao fato de a área da saúde, tradicionalmente,

concentrar esforços em atender aos agravos que a violência sexual provoca. (CAVALCANTI; GOMES; MINAYO, 2006, p. 33).

Desta forma, compreende-se que esses dois eixos dificultam a participação do grupo de interesse na obtenção de dados, caminhando para escolha de outros métodos de levantamento de dados e construção de resultados.

7 VIOLÊNCIA SEXUAL E POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE: ASPECTOS

Documentos relacionados