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Segundo Baptista (1999), o Distrito Federal está inserido na Província do Cerrado onde o clima é tropical, com uma estação fria e seca (inverno) e outra chuvosa e verão (verão), classificado segundo Köppen sendo do tipo Tropical (Aw) e Tropical de altitude (Cwa, Cwb). O tipo climático Aw é característico das áreas com altitudes abaixo de 1000 m, compreendendo as bacias hidrográficas dos rios São Bartolomeu, Preto, Descoberto e Maranhão. A temperatura média para o mês mais frio é inferior a 18° C, como espacializado pela figura 4.

Figura 4: Cartograma de Clima do Distrito Federal, segundo classificação Köppen. Fonte: Baptista, 1999.

Segundo Baptista (1999), o tipo climático Cwa prevalece para as áreas cujas altimétricas encontram-se entre 1000 m e 1200 m. A temperatura média no mês mais quente é inferior a 22°. O tipo Cwb ocorre nas áreas que estão acima de 1200 m. O mês mais frio possui temperatura média inferior a 18°C, e a média do mês mais quente é inferior a 22°C. As precipitações variam entre 1.500 e 2.000 mm anuais, sendo a média em torno de 1600 mm, alcançando em janeiro o seu maior índice pluviométrico (320 mm/mês) e durante os meses de junho, julho e agosto, chegando à média mensal total da ordem de 50 mm.

Nos últimos anos é notado um aumento da temperatura e conseqüente diminuição da umidade relativa do ar no Distrito Federal. Os anos de 1995 e 1996, por exemplo, apresentaram uma redução no volume de chuvas e registrou-se a ocorrência de veranicos em plena estação chuvosa (BAPTISTA, 1999). Essa alteração no regime de chuvas pode estar contribuindo indiretamente para a redução dos níveis da reserva subterrânea de água, o que conseqüentemente interfere no reabastecimento dos rios e dos reservatórios públicos de abastecimento.

A Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Descoberto encontra-se, segundo Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN) (1984), na

região de clima CWA, que possui temperatura no mês mais frio inferior a 18°C e do mês mais quente com média superior a 22°C.

3.3.2 Geologia e Geomorfologia

A forma do relevo atual se dá a partir da ação de vários fatores abióticos, tais como clima (chuva e temperatura) e processos de intemperização físico-química sobre as rochas. E a ação da água sobre o solo é condicionada por essas características da paisagem. Tais ações podem ser entendidas como infiltração, escoamento superficial e sub-superficial. Assim, ao planejar a ocupação e uso do solo deve-se levar em consideração as limitações que derivam de características geológicas e geomorfológicas.

Segundo King (1957) e Braun (1971) o Distrito Federal situa-se em uma das porções mais elevadas do Planalto Central que corresponde a remanescentes dos aplainamentos resultantes dos ciclos de erosão Sulamericano e Velhas, que se desenvolveram entre o Terciário Inferior e Médio, e entre o Terciário Médio e Superior, respectivamente.

Segundo Ministério do Meio Ambiente (1998), o Distrito Federal é uma área de geologia pouco detalhada, onde as afirmações não são conclusivas do ponto de vista estrutural e estratigráfico, sendo que mascaramento dos litotipos por um manto de intemperismo espesso e extenso agrava o grau de incerteza. A região é parte integrante do setor central da província do Tocantins (ALMEIDA, 1968), situando-se a oeste do cráton do São Francisco e a leste do maciço mediano de Goiás.

Embora as correlações estratigráficas ainda não sejam completamente definidas, Barros et al. (1986) apud Ministério do Meio Ambiente (1998), sugerem que o Distrito Federal é constituído por rochas pertencentes à Formação Canastra e Grupo Paranoá de idade Pré-Cambriana Média a Superior, além da cobertura detrito-laterítica de idade Terciária-Quartenária e de aluviões recentes do Quartenário. Essa cobertura Cenozóica capeia parcialmente a área do Distrito Federal e tem espessura variável de região para região. Segundo Barros (1994, apud MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 1998), em Brazlândia, por exemplo, próximo ao lago do Descoberto, uma perfuração mostrou espessura de 60 metros.

Segundo Ab’Saber (1977), as características geomorfológicas da paisagem do domínio morfoclimático do Cerrado resultam de uma prolongada interação de regime climático tropical semi-úmido com fatores litológicos, edáficos e bióticos.

O Distrito Federal, de acordo com as características do relevo, foi dividido em 5 compartimentos: Chapadas Elevadas ou Planaltos, Rebordos, Escarpas, Planos Intermediários e Planícies (MARTINS e BAPTISTA, 1998), como mostrado pela figura 5.

Figura 5: Compartimentação Geomorfológica do DF. Adaptado de Martins e Baptista, 1998.

A APA do Rio Descoberto está situada nas compartimentações do tipo Planos intermediários (em sua maior parte), nos Planaltos e Rebordos (menor porção), quando considerando a figura 5.

3.3.3 Hidrografia

O Distrito Federal (figura 6) é considerado o terceiro pior Estado brasileiro em disponibilidade de recursos hídricos per capita por ano (REBOUÇAS et al., 1999). Possui área de 5.814 km2, com cerca de 60% das terras “altas”, colaborando para que a água absorvida pelo solo seja drenada para os rios de três importantes bacias hidrográficas: Prata, Araguaia-Tocantins e São Francisco (BAPTISTA, 1997). Essa característica, por si só, tem gerado constante preocupação com o uso de água na região.

Figura 6: Mapa Hidrológico do Distrito Federal. Adaptado de Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal, 2007.

A Área de Proteção Ambiental do Descoberto localiza-se acima de 1000 metros de altitude e apresenta-se como dispersora de águas para a bacia Platina. Com base na classificação empírica por formas (HOWARD, 1967 apud MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 1998), a Bacia Hidrográfica do Rio Descoberto apresenta-se como centro dispersor de drenagem subdendrítico.

O Lago Descoberto representa o principal manancial hídrico da APA tendo em vista ser o responsável por mais de 60% da água que abastece o Distrito Federal, compreendendo uma área de 452 km², 14,8 km² de espelho d’água, comprimento máximo de 25,5 km², profundidade máxima de 32 m, largura máxima de 8 km e volume de 560 x 106 m³. O reservatório, cujo enchimento iniciou-se em 1973, foi construído pelo represamento do rio Descoberto, dos ribeirões Rodeador e das Pedras e dos córregos Rocinha, Coqueiro, Olaria, Chapadinha e Engenho Queimado (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 1998).

A Bacia do Rio Descoberto limita o Distrito Federal aos municípios goianos de Padre Bernardo, Cocalzinho, Águas Lindas do Goiás e Santo Antônio do Descoberto (margeando o território até desaguar no Rio Corumbá). Essa bacia hidrográfica

compreende uma área de 825 km², e 14% dela corre em terras do Distrito Federal. A área estudada está situada na porção superior da Bacia do Rio Descoberto e vai desde sua montante até a barragem do Lago do Descoberto. Compreende uma área de 452 km² que é equivalente a 54,79% do total da bacia do Descoberto (figura 7) (REATTO, 2003).

Figura 7: Mapa hidrográfico da bacia do Alto Descoberto. Fonte: Adaptado de Reatto, 2003.

Aparentemente há uma diminuição nas vazões médias ao longo do ano, como é o caso do rio Descoberto à jusante da barragem. Em 1981, a vazão máxima foi de 46 m³/s e a média foi de 9,62 m³/s, enquanto que em 1995 esses valores foram de 30,8 m³/s e 5,3 m³/s (MMA, 1998).

Segundo o IBGE (2000), a disponibilidade hídrica do Distrito Federal está abaixo do ideal. Com um notado crescimento populacional da ordem de 2,82% ao ano para o período de 1991 a 2000, estima-se que a capacidade de atendimento estará esgotada em um prazo de nove anos, a contar a partir da data do estudo. Com a construção da usina hidrelétrica de Corumbá IV, em Luziânia, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal - CAESB espera garantir água para a população por pelo menos mais cem anos.

3.3.4 Solos

Os solos do DF (figura 8) representam bem os solos da região do cerrado (Cline & Buol 1973). A melhor fonte de informações sobre os solos encontrados no DF é o trabalho realizado pelo Serviço Nacional de Levantamento de Solos (EMBRAPA, 1978), de onde se obteve o mapa pedológico do DF, na escala 1:100.000. Segundo levantamento da EMBRAPA (1978), no DF predominam os latossolos vermelho-escuro (38,68%), vermelho-amarelo (15,84%) e cambissolo álico (31,02%). Ainda no mesmo estudo foram identificados, na área da APA do Descoberto, quatro tipos de solos: Latossolos vermelho-escuros – LVE; Latossolos vermelho-amarelos; Solos hidromórficos (Hi) e Cambissolos.

Figura 8: Mapa de Solos do DF (EMBRAPA, 2004).

O tipo de solo influencia diretamente no processo de infiltração e percolação da água. Tal processo é influenciado também pelo tipo de ocupação e uso do solo. Apesar de o Distrito Federal de ter 100% de sua área legalmente protegida, o manejo inadequado trouxe conseqüências negativas que afetam o seu próprio território e áreas adjacentes (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, 2007). Mais recentemente, a utilização em áreas rurais e urbanas, da bacia hidrográfica como

unidade de planejamento e gestão já se configura em diversas experiências nas mais variadas cidades e regiões brasileiras. A APA do Descoberto é um exemplo, onde o direcionamento legal foi estabelecido para a Bacia Hidrográfica do Rio Descoberto, mesmo não se notando tão claramente o cumprimento de tais normas

De acordo com Reatto (2003), a área da Bacia Hidrográfica do Rio Descoberto possui os principais tipos de solo e a porcentagem em relação à área total da bacia (42.021,4 ha), segundo a tabela 6 e figura 9.

Tabela 6: Tipos de solo e porcentagem de ocupação da Bacia Hidrográfica do Rio Descoberto

Tipo de Solo % de ocupação na área da bacia

Latossolo Vermelho Latossolo Vermelho-Amarelo Nitossolo Hálpico Cambissolo Neossolo Quartzênico Gleissolo Hálpico Gleissolo Melânico Plintossolo Neossolo Flúvico 34,09% 36,58% 0,24% 13,8% 0,17% 3.38% 1,58% 1,11% 0,50%

Figura 9: Classes de solo para a Bacia do Alto Descoberto. Fonte: Adaptado de Reatto, 2003.

3.3.5 Vegetação

O ecossistema cerrado, que ocupa a maior parte do Planalto Central do Brasil, constitui o berço dispersor das águas, tornando-se uma região estratégica para onde devem ser direcionados todos os esforços no sentido da conservação e recuperação dos seus sítios naturais formadores de bacias hidrográficas importantes (EITEN, 1994).

Para a bacia do Alto Descoberto, Reatto (2003) chegou aos seguintes valores para as principais fitofisionomias, em porcentagem de área: Cerrado típico 43,02%, Cerrado Ralo 31,97%, Cerrado Rupestre 5,04%, Campo Limpo 3,67%, Vereda 1,47%, Campo Sujo com Murunduns 1,47%, Campo Sujo 1,28%, Mata de Galeria 1,15%, Cerrado Ralo e Cerrado Rupestre 0,32%, Floresta Tropical Subcaducifólia 0,89 e Cerradão com 0,10%.

Figura 10: Fitofisionomias de cerrado para a área da bacia hidrográfica do Alto Descoberto. Fonte: Adaptado de Reatto, 2003.

O regime hídrico é diretamente afetado pela dinâmica e manejo da vegetação, que podem contribuir tanto para sua perfeita manutenção e circulação no planeta ou ainda para sua indisponibilidade (VIEIRA, 2000). Diante desse quadro, a Bacia Hidrográfica do Rio Descoberto, que possui intenso processo de ocupação, decorrente dos fluxos migratórios, do crescimento populacional e do desenvolvimento sócio-econômico sofreu mudanças na dinâmica da vegetação, onde ações antrópicas têm feito com que inúmeros impactos sejam desencadeados ao longo do tempo, influenciando diretamente tanto na qualidade, quanto na quantidade dos recursos hídricos.

3.3.6 Fauna

O levantamento da fauna do Distrito Federal é recente e, a cada dia, novas espécies são acrescidas a essas listas. Rocha et al. (1994) apud Ministério do Meio Ambiente (1998), por exemplo, mostra que o acervo do DF é representado por 30 espécies de mamíferos, mais de 400 aves, 45 de répteis, 39 de anfíbios e mais de

16 filos de invertebrados, incluindo um grande numero de insetos. Apesar de poucos estudos desenvolvidos na área, é provável que grande parte da fauna do DF não seja representada na APA do Descoberto, tendo em vista uma degradação da vegetação, o adensamento populacional, as vias de acesso aos diferentes pontos e a presença de chácaras com produção agropecuária.

A fauna da região é um misto de influência das bacias hidrográficas do Paraná e do Maranhão. As características hidrográficas, geomorfológicas e fitofisioeconômicas sugerem a ocorrência de constantes migrações de fauna por corredores aquáticos representados pelas matas de galeria e áreas vizinhas dos cursos d’água que nascem nas chapadas do DF e deságuam nos afluentes das bacias mencionadas. Nesse contexto é importante ressaltar que a APA do Descoberto faz fronteira com a APA da Cafuringa, e o Parque Nacional de Brasília os quais abrigam, de maneira bem preservada, os diferentes tipos fisionômicos de vegetação e representantes típicos da fauna do bioma Cerrado (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 1998).

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