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Artigo 1 Satisfação conjugal ao longo do ciclo de vida

3. Desenho da investigação

4.2. Caracterização da Amostra

Os quadros que se seguem apresentam a caracterização da amostra.

Quadro 1 Caracterização da Amostra N % Fase da Relação Formação do Casal 30 16.2

Casais com filhos pequenos 40 21.6

Casais com filhos em idade escolar 26 14.1

Casais com filhos adolescentes 38 20.5

Casais com filhos que saíram de casa 8 4.3

Casais na velhice 18 9.7

Casais com filhos adultos que ainda vivem em casa 25 13.5

Total 185 100.0

Tipo de União Casamento 138 74.6

Coabitação 47 25.4 Total 185 100.0 Duração do casamento < 1 ano 1 0.7 1-5 anos 12 8.7 6-10 anos 26 18.8 11-15 anos 14 10.1 16-20 anos 21 15.2 > 20 anos 64 46.4 Total 138 100.0 Duração da Coabitação < 1 ano 2 4.3 1-5 anos 26 55.3 6-10 anos 8 17.0 11-15 anos 6 12.8 16-20 anos 2 4.3 > 20 anos 3 6.4 Total 47 100.0 Presença de filhos da relação actual Sim 150 81.1 Não 35 18.9 Total 185 100.0 Número de filhos da presente relação 1 filho 60 40.0 2 filhos 73 48.7 3 filhos 14 9.3 > 3 filhos 3 2.1 Total 185 100.0 Quadro 2

Idade, nível educacional e situação profissional Mulheres Homens N % N. % Idade < 30 anos 32 17.3 18 9.7 30-39 anos 55 29.7 60 32.4 40-49 anos 49 26.5 43 23.2 50-59 anos 44 23.8 59 31.9 69-70 anos 4 2.2 4 2.2 70-79 anos 1 .5 1 .5 Total 185 100.0 185 100.0

Min.= 20 Max.=80 Min.= 19 Max. =82 Média = 41.87 Desvio padrão = 12.70 Média = 44.50 Desvio Padrão = 2.69 Situação Profissional Reformado 18 9.7 22 11.9 Desempregado 4 2.2 6 3.2 Doméstico 8 4.3 0 0.0 Estudante 3 1.6 1 0.5

Empregado por conta própria / Profissional Liberal

11 5.9 30 16.2

Empregado por conta

de outrem 128 69.2 115 62.2

Empregado por conta própria e por conta de outrem 4 2.2 4 2.2 Trabalhador-Estudante 1 .5 4 2.2 Não respondeu 8 4.3 3 1.6 Total 185 100.0 185 100 Escolaridade Nível Primário 13 7.0 8 4.3 Nível Básico 8 4.3 13 7.0 Nível Secundário Unificado 24 13.0 34 18.4 Nível Secundário Complementar 50 27.0 49 26.5 Curso Médio 12 6.5 5 2.7 Bacharelato 5 2.7 16 8.6 Licenciatura 60 32.4 52 28.1 Mestrado 12 6.5 6 3.2 Doutoramento 0 0.0 1 0.5 Não respondeu 1 0.5 1 0.5 Total 185 100.0 185 100

Das 9 questões iniciais da MADS (8 das quais não serão exploradas neste artigo), uma delas revelou, para a nossa amostra, valores elevados de satisfação e felicidade global. Uma maior percentagem de homens refere ser feliz ou muito feliz (86.5%) e estar satisfeito ou muito satisfeito (92.4%), comparativamente com as mulheres que apresentam uma percentagem de 80.5% (felicidade) e 89.2% (satisfação). A diferença entre géneros encontra-se no limiar de significância (0.025 e 0.040 respectivamente).

4.3. Material

Questionário Sócio-demográfico: visou recolher uma quantidade alargada de informação sociológica sobre a amostra, permitindo a sua caracterização e divisão pelos grupos contemplados no estudo.

Managing Affect and Differences Scale - MADS (Arellano & Markman, 1995), adaptada à população portuguesa: EGAD: Escala de Gestão do Afecto e das Diferenças - por Abreu-Afonso e Leal, (2016), que tem como finalidade aceder às competências de comunicação e gestão do conflito de uma forma muito concreta. A escala EGAD é composta por 109 itens que se organizam em 13 sub-escalas: “Expressividade Emocional e Comunicação Positiva”, “Negatividade/Escalada Negativa”, “Clarificação”, “Disponibilidade e Expressão Afectiva”, “Focar/Parar”, “Seleccionar/Validar”, “Retirada”, “Feedback” e “Comunicação Através do Tempo”, sendo a escala de resposta num intervalo de 1 (Discordo Francamente) a 5 (Concordo Francamente).

Esta especificidade é o que distingue a escala de outras que se propõem estudar as mesmas dimensões. O instrumento procura aceder à forma como o casal fala sobre questões problemáticas, o tipo de comunicação específica utilizada e as estratégias de gestão de conflitos, fazendo uma boa diferenciação entre capacidades verbais construtivas e destrutivas.

Para além daqueles 109 itens, a escala possui 9 questões iniciais que fornecem várias informações sobre os casais.

4.4. Procedimento

Os dados foram recolhidos em diversos serviços públicos e privados da área metropolitana de Lisboa, através de um sistema de “bola de neve”, durante 18 meses. A amostra inicial foi composta por 596 questionários válidos e correspondia a 298 casais. Contudo, tendo por base os dados demográficos e os grupos definidos, apenas foram elegíveis 185 casais. O trabalho foi aprovado pelo comité de ética do ISPA-IU e foi pedido o consentimento informado a todos os participantes.

O tratamento de dados foi realizado com recurso ao SPSS versão 21.0. A estatística de inferência utilizada foi:

Teste de Amostras Emparelhadas: teste paramétrico t student para amostras dependentes – Para comparar entre os membros do casal nas dimensões da escada de comunicação e gestão de conflitos. Usámos este teste porque as dimensões têm uma escala quantitativa e são normais (examinadas pelo teste de Shapiro) ou possuem um ligeiro desvio à norma (Skweness <3 and Kurtose <7).

Utilizámos também o teste não paramétrico de Wilcoxon para comparar os dois elementos do casal nos itens da MADS com escala qualitativa, tipo ordinal, e o teste não paramétrico McNemar para comparar os dois elementos da díade nos itens dicotómicos da escala.

Testes para amostras independentes: MANOVA – Este teste não paramétrico foi utilizado para comparar grupos em diferentes fases da relação, nas dimensões de gestão de conflito, pois a normalidade necessária foi atingida ou os desvios de normalidade foram pouco severos nos diferentes grupos, assim como as dimensões possuíam correlacção entre si. Usámos os testes t student para amostras independentes para comparar dois grupos nas dimensões de gestão do conflito.

5. Resultados

Os quadros 3 e 4 apresentam os resultados da nossa análise em resposta à primeira questão em estudo - De que forma as estratégias de comunicação e gestão do conflito variam, nos homens e nas mulheres, ao longo do ciclo de vida?

Assim, o quadro 3 mostra, para o género feminino, as estratégias de comunicação usadas ao longo do tempo.

Quadro 3

MANOVA: Fase da relação vs. Estratégias de Comunicação e Gestão de Conflito (Resultados Significativos) - Género Feminino

Género Feminino Grupo Média

Desvio Padrão N MANOVA Expressividade Emocional / Comunicação Positiva Formação do Casal 4.0732 .47913 30 F (6) = 4.177 p = 0.001*** Casais com filhos pequenos 3.6536 .52579 40

Casais com filhos em idade escolar 3.6829 .51316 26 Casais com filhos adolescentes 3.6681 .71318 38 Casais com filhos adultos que saíram

de casa

3.0302 .81297 8

Casais na velhice 3.6575 .42264 18

Casais com filhos adultos a viver em

casa 3.5364 .65663 25

Clarificar

Formação do Casal 4.1930 .47435 30

F (6) = 2.203 p = 0.045* Casais com filhos pequenos 3.9753 .55075 40

Casais com filhos em idade escolar 3.9000 .64436 26 Casais com filhos adolescentes 3.9189 .48239 38 Casais com filhos adultos que saíram

de casa

3.8500 .53452 8

Casais na velhice 3.8164 .66682 18

Casais com filhos adultos a viver em casa 3.6539 .70439 25 Disponibilidade/ Expressão Afectiva Formação do Casal 4.6065 .35925 30 F (6) = 4.284 p = 0.000*** Casais com filhos pequenos 4.2451 .52797 40

Casais com filhos em idade escolar 4.1813 .57768 26 Casais com filhos adolescentes 4.2023 .51415 38 Casais com filhos adultos que saíram

de casa

4.0000 .30619 8

Casais na velhice 4.0427 .52725 18

Casais com filhos adultos a viver em casa 4.0071 .57337 25 Focar / Parar Formação do Casal 2.9933 .71916 30 F (6) = 2.701 p = 0.016* Casais com filhos pequenos 3.1675 .66810 40

Casais com filhos em idade escolar 2.9462 .84769 26 Casais com filhos adolescentes 3.4316 .74909 38 Casais com filhos adultos que saíram

de casa

3.6750 .51200 8

Casais na velhice 3.3361 .76884 18

Casais com filhos adultos a viver em

casa 3.4182 .51773 25

* Significante a 0,05; ** significante a 0,01; *** significante a 0,001

Na dimensão Expressividade Emocional/ Comunicação Positiva, as mulheres sem filhos diferem significativamente das restantes, revelando resultados mais elevados. Contrariamente, o grupo de mulheres cujos filhos saíram de casa apresentam os valores mais baixos, diferindo significativamente de todos os outros grupos.

No que diz respeito à Clarificação, as mulheres sem filhos apresentam valores mais elevados e diferem significativamente das mulheres com filhos adolescentes, com filhos adultos em casa e na velhice. Por sua vez, mulheres com filhos adultos em casa, diferem das mulheres sem filhos, com filhos pequenos e em idade escolar, sendo o grupo com valores mais baixos desta dimensão.

Os valores referentes à Disponibilidade/ Expressão Afectiva mostram que as mulheres sem filhos diferem das restantes, apresentando os resultados mais elevados nesta dimensão.

A dimensão Focar/ Parar apresenta diferenças significativas entre as mulheres sem filhos, que apresentam valores mais baixos que as dos grupos com filhos adolescentes, filhos adultos que saíram de casa e com filhos adultos em casa. As mulheres com filhos em idade escolar diferiram também das mulheres com filhos adolescentes, com filhos adultos que saíram de casa e com filhos adultos em casa e apresentaram os valores mais baixos de todos os grupos.

O quadro 4 mostra, para o género masculino, as estratégias de comunicação usadas ao longo do tempo.

Quadro 4

MANOVA: Fase da relação vs. Gestão de Conflito (Resultados Significativos). Género Masculino

Género Masculino Grupo Média

Desvio Padrão N Expressividade Emocional / Comunicação Positiva Formação do Casal 4.1066 .49474 30 F (6) = 4,334 p = 0,000*** Casais com filhos pequenos 3.7537 .41288 40

Casais com filhos em idade escolar 3.8183 .41013 26 Casais com filhos adolescentes 3.5758 .57454 38 Casais com filhos adultos que saíram

de casa

3.4866 .49104 8

Casais na velhice 3.6834 .51250 18

Casais com filhos adultos a viver em casa 3.5984 .53032 25 Seleccionar / Validar Formação do Casal 3.8333 .45275 30 F (6) = 2,185 p = 0,047* Casais com filhos pequenos 3.6000 .47860 40

Casais com filhos em idade escolar 3.8718 .51706 26 Casais com filhos adolescentes 3.6526 .52587 38 Casais com filhos adultos que saíram

de casa

3.7247 .57614 8

Casais na velhice 3.8889 .52394 18

Casais com filhos adultos a viver em casa 3.9333 .28868 25 Retirada Formação do Casal 2.3000 .67438 30

Casais com filhos pequenos 2.3375 .72647 40 Casais com filhos em idade escolar 2.4551 .67587 26 Casais com filhos adolescentes 2.4912 .85507 38

Casais com filhos adultos que saíram de casa

2.7661 .69769 8 F (6) = 2,142 p = 0,051*

Casais na velhice 2.9423 .86060 18

Casais com filhos adultos a viver em casa

2.6667 .64550 25

*Significante a 0,05, ** significante a 0,01, *** significante a 0,001

Na Expressividade Emocional/Comunicação Positiva, os homens sem filhos, tal como acontece com as mulheres, diferem significativamente dos restantes grupos, revelando valores mais elevados.

No que diz respeito à dimensão Seleccionar/Validar, os homens com filhos pequenos diferem dos homens sem filhos, com filhos em idade escolar, com filhos adultos a viver em casa e na velhice. Quando os filhos são pequenos, os homens apresentam valores mais baixos em relação aos outros grupos.

Na dimensão Retirada, os homens na velhice apresentam valores mais elevados, diferindo significativamente de todos os grupos, à excepção dos homens com filhos adultos (quer estes já tenham saído, quer ainda vivam em casa dos pais).

Para responder à segunda questão - De que forma as estratégias de comunicação e gestão do conflito variam de uma primeira para uma segunda relação conjugal? - procedeu-se à comparação entre estes os casais. Os resultados da análise, por género, constam nos quadros 5 e 6.

Quadro 5

T-student: Comparação entre o primeiro e segundo casamento na comunicação e gestão de conflitos (mulheres) Género Feminino Primeiro Casamento/ União N Média Desvio Padrão t student Expressividade Emocional/ Comunicação Positiva Sim 169 3.7336 .51366 t = -1.929 p =0.055ls Não 16 3.8554 .56663

Negatividade/ Escalada Negativa Sim 169 2.6783 .66311 t = -0.508 p =0.612 Não 16 2.5546 .77124 Clarificação Sim 169 3.7735 .50575 t = -1.033 p =0.303 Não 16 3.8313 .58048 Disponibilidade/ Expressão Afectiva Sim 169 4.1440 .50875 t = -1.558 p =0.121 Não 16 4.3560 .53811

Focar/ Parar Sim 169 3.1755 .64758 t = -0.878

p =0.381

Não 16 3.3531 .65865

Seleccionar/ Validar Sim 169 3.7609 .47823 t = 0.435

p =0.664

Não 16 3.8125 .59590

Retirada Sim 169 2.5272 .75894 t = 0.507

p =0.613

Feedback Sim 169 3.6320 .66514 t = -0.810 p =0.419

Não 16 3.6250 .90164

Comunicação através do tempo Sim 169 3.5979 .70700 t = -0.909 p =0.364

Não 16 3.7500 .58452

ls- limiar de significância

Nas mulheres não se encontraram diferenças significativas nas estratégias comunicação e de gestão de conflitos entre a primeira e a segunda relação. Contudo, sublinhe-se a existência de valores no limiar de significância para a Expressividade Emocional/Comunicação Positiva: as que se encontram numa segunda união apresentam valores mais elevados nesta dimensão.

Quadro 6

T-student: Comparação entre o primeiro e segundo casamento na comunicação e gestão de conflitos (homens) Género Masculino Primeiro Casamento/União N Média Desvio Padrão t student Expressividade Emocional/ Comunicação Positiva Sim 169 3.7336 .51366 t = -0.899 p =0.370 Não 16 3.8554 .56663

Negatividade/ Escalada Negativa Sim 169 2.6783 .66311 t = 0.703 p =0.483 Não 16 2.5546 .77124 Clarificação Sim 169 3.7735 .50575 t = -0.431 p =0.667 Não 16 3.8313 .58048 Disponibilidade/ Expressão Afectiva Sim 169 4.1440 .50875 t = -1.585 p =0.115 Não 16 4.3560 .53811

Focar/ Parar Sim 169 3.1755 .64758 t = -1.047

p =0.296

Não 16 3.3531 .65865

Seleccionar/ Validar Sim 169 3.7609 .47823 t = -0.403

p =0.687 Não 16 3.8125 .59590 Retirada Sim 169 2.5272 .75894 t = 1.511 p =0.133 Não 16 2.2292 .69622 Feedback Sim 169 3.6320 .66514 t = .039 p = 0.969 Não 16 3.6250 .90164

Comunicação através do tempo Sim 169 3.5979 .70700 t = -0.833 p =0.406

Não 16 3.7500 .58452

Para o género masculino não foram encontradas diferenças significativas na comunicação e na gestão de conflitos, nem no limiar de significância, entre a primeira e segunda relação.

Os quadros 7 e 8 apresentam, respectivamente para o género feminino e masculino, os resultados referentes à terceira questão em estudo - De que forma as estratégias de comunicação e gestão do conflito variam com o estado civil (casamento vs. coabitação)?

Quadro 7

T-Student: Comparação entre Casamento e Coabitação na comunicação e gestão de conflitos (Mulheres) Género Feminino Tipo de União N Média Desvio Padrão t-student Amostras Independentes Expressividade Emocional/ Comunicação Positiva Casamento 138 3.6099 ,62567 t = -2.961 p =0.003** Coabitação 47 3.9107 .52370

Negatividade/ Escalada Negativa Casamento 138 2.7023 .65543 t = -0.066 p = 0.947 Coabitação 47 2.7098 .71840 Clarificação Casamento 138 3.8645 .59527 t = -2.400 p =0.017* Coabitação 47 4.0991 .52556 Disponibilidade/ Expressão Afectiva Casamento 138 4.1306 .53882 t = -4.228 p =0.000*** Coabitação 47 4.4962 .42200 Focar/ Parar Casamento 138 3.2493 .74108 t = 0.469 p =0.640 Coabitação 47 3.1915 .69527 Seleccionar/ Validar Casamento 138 3.6312 .64658 t= -1.037 p = 0.301 Coabitação 47 3.7411 .56872 Retirada Casamento 138 2.7463 .86597 t = 1.425 p =0.156 Coabitação 47 2.5319 .96223 Feedback Casamento 138 3.5620 .65281 t = -0.616 p = 0.539 Coabitação 47 3.6312 .70277

Comunicação através do tempo Casamento 138 3.5771 .89779 t = -0.650 p = 0.517 Coabitação 47 3.6755 .89673

*Significante a 0,05, ** significante a 0,01, *** significante a 0,001

Existem diferenças significativas entre as mulheres casadas e as que vivem em coabitação nas dimensões Expressividade Emocional/Comunicação Positiva, Clarificação, Disponibilidade/ Expressão Afectiva. As mulheres que vivem em união de facto apresentam valores mais elevados.

Quadro 8

T-Student: Comparação entre Casamento e Coabitação na comunicação e gestão de conflitos (Homens) Género Masculino Tipo de União N Média Desvio Padrão t-student Amostras independentes Expressão Emocional/ Comunicação

Positiva

Casamento 138 3.6826 .51223 t = -2.821 p =0.005** Coabitação 47 3.9248 .49689

Negatividade/ Escalada Negativa Casamento 138 2.6680 .66081 t =0.014 p =0.989 Coabitação 47 2.6664 .71010

Clarificação Casamento 138 3.7457 .49522 t = -1.499

p =0.136 Coabitação 47 3.8747 .54959

Disponibilidade/ Expressão Afectiva Casamento 138 4.1095 .50555 t = -2.433 p =0.016* Coabitação 47 4.3176 .50968

Focar/ Parar Casamento 138 3.2048 .65596 t = 0.499

p =0.618 Coabitação 47 3.1500 .63185

Seleccionar/ Validar Casamento 138 3.7604 .48615 t = -0.240 p =0.811 Coabitação 47 3.7801 .49771

Retirada Casamento 138 2.5779 .78030 t = 2.388 p =0.018* Coabitação 47 2.2766 .63823 Feedback Casamento 138 3.6122 .67397 t = -0.653 p =0.515 Coabitação 47 3.6879 .72367

Comunicação através do tempo Casamento 138 3.6284 .69802 t = 0.577 p =0.564 Coabitação 47 3.5603 .69975

*Significante a 0,05, ** significante a 0,01.

Existem diferenças significativas entre os homens casados e os que vivem em coabitação em três dimensões: Expressividade Emocional/Comunicação Positiva, Disponibilidade/Expressão Afectiva, e Retirada. Os homens que vivem em coabitação apresentam valores mais elevados na Expressividade Emocional/Comunicação Positiva, Disponibilidade/Expressão Afectiva. Por sua vez, os homens casados possuem valores mais elevados na Retirada.

6. Discussão

Propusemo-nos inicialmente verificar de que forma as estratégias de comunicação e gestão de conflito variam ao longo do ciclo vital do casal, comparando os elementos do mesmo género ao longo das etapas. Os resultados permitiram confirmar que aquelas estratégias se modificam durante o casamento, o que deverá ocorrer devido à necessidade de adaptação e de fazer face aos desafios e mudanças de períodos específicos da vida conjugal reflectidos nos diferentes grupos da amostra, e/ou ao aumento do conhecimento sobre o outro e sobre as suas formas de comunicar ao longo do tempo, tal como sugerido por outros autores (Parr, Boyle, & Tejada, 2008).

Os nossos resultados mostram maiores transformações nos padrões comunicacionais na fase da transição para a parentalidade e nas fases posteriores à maioridade dos filhos. Vejamos: No que diz respeito ao género feminino (quadro 3), quatro das nove estratégias consideradas no instrumento, sofrem alterações significativas ao longo dos vários estádios – Expressão Emocional/Comunicação Positiva, Disponibilidade/Expressão Afectiva, Clarificação e Focar/Parar (duas de comunicação e outras duas de gestão de conflitos).

Os resultados mostram um maior uso de Expressão Emocional/Comunicação Positiva e Disponibilidade/Expressão Afectiva pelas mulheres sem filhos. Assim, parece que o

nascimento do primeiro filho acarreta uma diminuição na expressão e disponibilidade emocional. As mulheres sem filhos apresentaram também um maior recurso à Clarificação quando comparadas com as mulheres com filhos adolescentes, filhos adultos em casa, e na velhice.

Mulheres sem filhos e com filhos em idade escolar utilizam menos a estratégia Focar/Parar, comparativamente com as que têm filhos adolescentes e filhos que saíram de casa ou que têm filhos adultos ainda a viver em casa. Deste modo, acções como discutir um tema de cada vez e/ou parar uma discussão porque o conflito escalou, adiando-a para mais tarde, são estratégias mais usadas pelas mulheres em fases mais avançadas do ciclo de vida, já com filhos mais velhos, a partir da sua adolescência.

Os resultados masculinos (quadro 4) apresentam alterações em apenas três estratégias ao longo do tempo (uma de comunicação e duas de gestão de conflitos – Expressão Emocional/ Comunicação Positiva, Validar/ Seleccionar e Retirada).

Homens sem filhos utilizam mais Expressão Emocional/Comunicação Positiva quando comparados com os dos outros grupos. Por outro lado, homens com filhos pequenos utilizam menos Seleccionar/ Validar do que os homens dos restantes grupos com excepção da etapa correspondente à saída dos filhos de casa.

Para esta questão, confirmámos haver uma alteração nas estratégias de comunicação e manejo do conflito, no contexto das transformações verificadas no sistema conjugal na entrada para a parentalidade, nomeadamente a necessidade de integração de um novo membro, o acumular de tarefas - parentais, domésticas, profissionais - e a inevitabilidade de realinhar a relação, quer com o parceiro quer com a família alargada. Assim, os nossos resultados parecem sugerir que o aparecimento das crianças tem um impacto menos positivo na comunicação da díade. Homens e mulheres vão procurar forma de resolver os dilemas internos e interpessoais, que surgem na transição para a parentalidade, com que se depararam (Levy-Shiff, 1994), sendo que, no caso dos nossos sujeitos observamos um decréscimo na utilização de algumas estratégias construtivas. Diminui em ambos a expressão de emoções, que inclui manifestar valor, elogiar ou confortar e, no caso das mulheres, diminui também a quantidade de amor e afecto que é expressa relativamente ao parceiro.

Após o nascimento dos filhos a mulher irá, provavelmente, diminuir a sua disponibilidade para o companheiro. Alguns estudos sugerem que este tipo de resultados pode ser a tradução de um aumento de trabalho para a mulher, acentuando a disparidade dos papéis de género, o que pode dar origem a sentimento negativos direccionados ao companheiro (Belsky, Lang, & Huston, 1986). Alguns trabalhos citados por Levy-Shiff (1994) apontam ainda que as alterações na comunicação feminina podem estar relacionadas com o incumprimento das expectativas em relação ao comportamento e à ajuda do parceiro, levando a efeitos negativos na comunicação. Antes do casamento, podem existir expectativas idealizadas, posteriormente incumpridas (Bonds-Raacke et al., 2001). Por outro lado, com a formação da díade mãe-bebé, o pai poderá sentir-se relegado para segundo plano (Levy-Shiff, 1994), quer na sua função de marido, quer na sua função de pai o que pode fazê-lo sentir-se menos confortável com a expressão de emoções à parceira.

Em termos da vivência do casal, estas alterações são muito relevantes pois estamos a falar de estratégias que expressam o grau de conforto com sentimentos e emoções que se poderia esperar crescerem com a convivência, o maior conhecimento e a partilha de intimidade, acontecendo, aparentemente, o inverso.

Belsky et al., (1986), revendo a literatura, sugerem que na etapa do nascimento dos filhos há um aumento do conflito. A análise dos nossos resultados não permite afirmar que existe um acréscimo de conflito com a chegada dos filhos, mas podemos dizer que há alterações significativas nesta fase da vida, a avaliar pelo uso das estratégias de gestão de conflito medidas pelo nosso instrumento. A Clarificação, nas mulheres, decresce com a parentalidade, enquanto o Selecionar/ Validar (homens) e o Focar/Parar (mulheres), apesar de oscilarem, decrescem também. Assim, na nossa amostra, podemos confirmar um empobrecimento nas estratégias de comunicação positivas.

A análise do comportamento feminino ao logo do casamento permite-nos ainda verificar nas mulheres cujos filhos saíram de casa, comparadas com os restantes grupos, um menor recurso da estratégia Expressão Emocional/ Comunicação Positiva, sugerindo que para elas a saída dos filhos de casa tem impacto na comunicação com o parceiro. De facto, já depois da maioridade dos filhos, o casal volta a ser confrontado com outras necessidades de adaptação, quer a entrada e saída de elementos da família e o realinhamento das relações, quer ao nível pessoal, com a reforma, a mudança de papeis, e mesmo o processo de envelhecimento cada vez

mais evidente. Todas estas alterações, coincidentes com o reaprender a viver a dois, convergem para mudanças nos padrões comunicacionais. Tal como aconteceu com a chegada dos filhos, à sua saída há um decréscimo da expressão de sentimentos, emoções e pensamentos, assim como da discussão clara dos mesmos, e um maior uso de comportamentos que envolvem parar a discussão, concordando em adiá-la ao mesmo tempo que se procura discutir um tema de cada vez.

Por seu lado os resultados mostram ainda, nos homens do grupo mais velho, um aumento da Retirada. Neste grupo, o afastamento físico e emocional das discussões apresenta- -se como a forma preferencial de lidar com as diferenças. Os resultados de Duba, Hughey, Lara e Burke (2012), sugerem que os casais na velhice, apesar de a relação ter perdurado no tempo, apresentam decepções e insatisfações, nomeadamente na resolução de conflitos, apontando para uma inabilidade em discutir tópicos sensíveis. Outros autores sublinham que com aumento da idade, as pessoas tendem a usar estratégias que limitam a experiência de afectos negativos, mesmo durante o conflito (Carstensen, Gottman, & Levenson, 1995). O aumento da Retirada, por parte dos homens da nossa amostra, pode, pois, traduzir a fuga a estes afectos negativos ou à inabilidade de discutir tópicos sensíveis.

A nossa segunda questão contemplava as diferenças nas estratégias de comunicação e gestão do conflito presentes nas primeiras e nas segundas uniões (quadro 5). Neste estudo não se verificam diferenças significativas, em nenhum dos géneros, do primeiro para o segundo casamento. Contudo, na segunda união, as mulheres parecem utilizar ligeiramente mais a Expressividade Emocional/ Comunicação Positiva.

Por último procurámos averiguar de que forma as estratégias de comunicação variam com o estado civil - Casamento vs. Coabitação (quadro 6). Nos resultados de outros autores (Kline et al., 2004), a interacção dos casais que viveram em união de facto é mais negativa, de menor qualidade e com maior tendência para rupturas. Os nossos resultados também apresentam diferenças significativas entre estes grupos, mas, contrariamente ao que seria de esperar, ambos os parceiros em união de facto tendem a utilizar mais vezes estratégias que envolvem a expressão de afectos e emoções. Foram ainda encontradas diferenças nos valores masculinos de Retirada, sendo que os homens casados utilizam mais frequentemente esta estratégia. Note-se que, ao contrário de outros trabalhos que contemplaram casais que viveram em coabitação antes de se casar e cujas informações foram recolhidas após o casamento (Kline

et al., 2004, Rhoades, Stanley, Markman, & Allen, 2015), a nossa amostra incluiu um conjunto de casais que vive presentemente em união de facto, o que pode ter influenciado a diferença