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Satisfação Conjugal, Motivação para a Conjugalidade, Género e Ciclo de Vida O estabelecimento e enraizamento da confiança conjugal dependem também

Artigo 5. Coesão, Adaptabilidade e Género ao longo do Ciclo Conjugal Figura 1 O Modelo Circumplexo dos Sistemas Conjugais e Familiares

II. O Estado da Arte 1 Satisfação Conjugal, Ciclo de Vida e Género

4. Satisfação Conjugal, Motivação para a Conjugalidade, Género e Ciclo de Vida O estabelecimento e enraizamento da confiança conjugal dependem também

muito das crenças sobre a motivação do parceiro, influenciando fortemente o sucesso da relação. Existe uma clara associação entre a qualidade da relação conjugal e o estilo de motivação apresentada pelos parceiros (Bernstein, 1990, Blais, Sabourin, Boucher e

Vallerand 1990, Deci & Ryan, 2000, 2008, Gaine & LaGuardia, 2009, Knee, Patrick, Vetor, Nanayakkara, & Neighbors, 2002, Kogan, Impett, & Oveis, 2010, Patrick et al., 2007, Rempel, Holmes, & Zana, 1985). A motivação pode ser encarada como o que leva uma pessoa a agir, pensar e progredir, podendo ser definida como “uma tendência disposicional ou uma orientação específica do contexto” (Gaine & La Guardia, 2009, p.184). Pode influenciar a escolha do parceiro, a qualidade dos comportamentos relacionais quotidianos, o desenvolvimento e a ruptura das relações. Também se revelou útil para compreender a satisfação conjugal (Aimé, Sabourine, & Valois, 2000; Bernstein, 1990, Blais, et al., 1990, Deci & Ryan, 2000, 2008, Gaine & La Guardia, 2009, Impett, Gable, & Peplau, 2005, Impett et al., 2010, Knee et al., 2002, Kogan, et al., 2010, Patrick et al., 2007, Rempel et al, 1985).

Considera-se que a motivação pode ser intrínseca ou extrínseca. O início de uma relação romântica pode ser motivado por compensações intrínsecas, adquiridas directamente no parceiro ou na relação, tais como o prazer com as actividades diárias. Quando intrinsecamente motivado, o sujeito está envolvido numa relação íntima pelo prazer das actividades de dia-a-dia do casal (Blaise t al., 1990, Rempel et al., 1985). Kogan et al., (2010) sublinharam que, quando as pessoas se sentem motivadas a responder às necessidades dos outros sem esperar receber benefícios em troca, o sacrifício é sentido como intrinsecamente recompensado.

Por outro lado, a motivação extrínseca implica o envolvimento de recompensas extrínsecas à relação, mas mediadas por ela, tais como o status social, as relações sociais ou negócios (Rempel et al., 1985). Rempel et al. (1985) e Seligman et al. (1980) demonstraram que os membros de um casal que estão com o seu parceiro por razões extrínsecas referem menos amor, quando comparados com os que o fazem por motivação intrínseca. Para estes autores, é mais provável que uma relação perdure e seja satisfatória quando a motivação é mais intrínseca que extrínseca.

O trabalho de Aimé et al., (2000) mostrou que casais compostos por indivíduos que apresentam estilos motivacionais auto-determinados e congruentes apresentam níveis de satisfação conjugal mais elevados.

As mulheres parecem ter um papel chave nas relações românticas, com uma responsabilidade acrescida quanto à satisfação e motivação. O estilo motivacional feminino aparentou-se, nalguns estudos, como o único que influencia a satisfação das mulheres, sendo também um bom preditor da satisfação masculina, tendo assim um papel

claramente importante no desenvolvimento e manutenção da qualidade da relação (Blais et al., 1990). Por diversas razões, as mulheres dependem menos das implicações da motivação interna (Rempel et al., 1985).

III. Objectivos

Apesar das grandes taxas de divórcio, onde Portugal tem a mais alta da Europa, 70.4% (Fundação Francisco Manuel dos Santos [FFMS], 2017), alguns casais superam de um modo saudável os períodos de crise que marcam a transição entre as etapas da vida conjugal. A partir do seu estudo pretendemos perceber os factores que funcionam como promotores dessa resiliência, permitindo-lhes manter a qualidade das suas relações, bem como os de maior risco, ainda que essa qualidade relacional possa ser mantida. Queremos também investigar a existência de um padrão nos relacionamentos, para diferentes tempos conjugais, nomeadamente nos pontos nodais de crise/mudança do ciclo vital do casal, avaliando ainda o comportamento da variável género neste eventual padrão. Adicionalmente, identificar-se-á a etapa ou etapas que representa um maior risco de perda da satisfação e felicidade conjugal.

A pesquisa nas bases de dados Ebsco, PubMed, CAIRN, Scielo e Redaylyc, e Centro de Documentação do ISPA-IU, levou a uma recolha inicial de mais de 650 referências, recolhidas, entre os anos 60 e a actualidade, das quais 372 foram, seleccionadas numa primeira fase, culminando nas 192 referenciadas na tese. A produção de literatura na área tem sido vasta, se bem que, especificamente nas nossas variáveis, o período mais rico fosse o das décadas de 90 e 10. Observámos, contudo, o que nos parece ser uma limitação em muitos dos estudos que investigaram períodos cronológicos anteriores a partir do momento presente, ficando sujeitos a enviesamentos vários, tal como a idealização dos primeiros anos de vida conjugal avaliados retrospectivamente. Há ainda a considerar, em muitos dos trabalhos revistos, limitações que nos pareceram importantes, nomeadamente na constituição das amostras, bem como um número considerável de pesquisas com resultados díspares e contraditórios.

Assim, movidos pelo interesse em perceber a relação conjugal nos seus diferentes períodos e crises ao longo do tempo, e pela nossa experiência como terapeutas de casal, desenvolvemos uma proposta de trabalho que tem como questão central a compreensão

da organização da díada em cada momento de transição no ciclo de vida, tendo em conta as diferenças de género.

Na ausência de modelos explicativos das dinâmicas destes períodos, organizámos metodologicamente a investigação tomando por base um conjunto de conceitos e variáveis psicológicas que, influenciando a qualidade e a estabilidade conjugal, podem ser determinantes para o sucesso das relações. Conceitos esses que a clínica e a literatura têm, como vimos, descrito como muito relevantes.

Em concreto, partimos para este trabalho com o objectivo de perceber como varia a Satisfação, a Comunicação e a Gestão de Conflitos, a Coesão e Adaptabilidade Conjugal, de acordo com o género. Queremos também saber como estas variáveis evoluem, nos homens e nas mulheres, ao longo do ciclo de vida. Pretendemos ainda identificar as diferenças e semelhanças entre homens e mulheres em cada fase do ciclo conjugal. Adicionalmente, queremos estudar diferenças na Comunicação e Gestão de Conflitos, na Coesão e na Adaptabilidade, entre os casais casados e os casais em união de facto, bem como saber de que forma a Satisfação e a Felicidade conjugal dos homens e mulheres variam ao longo do ciclo vital e são influenciadas pelo Amor e o Funcionamento conjugal, a Comunicação e Gestão de Conflitos, a Motivação, a Coesão e a Adaptabilidade. Outro objectivo, finalmente, é comparar a primeira com a segunda relação conjugal, assim como os casais com e sem filhos, nas respectivas estratégias de comunicação.

Assim, esperamos com esta investigação, poder dar um contributo consistente, ainda que modesto, para o conhecimento da dinâmica da vida conjugal. A nossa contribuição tem como objectivo, não apenas um enriquecimento teórico para a área, mas sobretudo servir a intervenção clínica e a prevenção. Daí termos optado por um desenho de investigação transversal, exploratório, comparativo e correlacional.

IV. Estrutura do Projecto de Investigação