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Caracterização da amostra e dos métodos estatísticos utilizados

CAPÍTULO III – Apresentação e discussão de resultados

2. Caracterização da amostra e dos métodos estatísticos utilizados

2.1 Recolha de dados

Estando o tema central deste estudo relacionado com os aspectos sociais e psicológicos do cumprimento fiscal, a análise incidiu sobre o Imposto sobre o rendimento (IRS), nomeadamente sobre a entrega da declaração Modelo 3, entre Fevereiro a Maio de 2011. Para além de ser um imposto menos complexo quando comparado por exemplo com o IVA, trata-se de um imposto único e individual.92 As atitudes e os comportamentos são aspectos específicos associados às características de cada ser humano individualmente. Por isso, o IRS vai de encontro ao nosso objectivo.

Recorremos, como método de recolha de informação, ao questionário por aplicação directa de entrevista. Este questionário é dirigido aos contribuintes individuais, do distrito de Leiria. Os contribuintes foram abordados numa esplanada na zona central e comercial da cidade de Leiria, na Praça Rodrigues Lobo, local onde habitualmente circulam muitas pessoas. A distribuição foi feita de forma presencial, ou seja, com a presença do investigador, no intuito de responder junto dos inquiridos a eventuais questões colocadas e também para percepcionar como reagem os contribuintes a esta questão das tarefas fiscais. Para um maior número de respostas foi ainda necessário assegurar a confidencialidade dos dados, uma vez que existe sempre alguma resistência dos contribuintes em responder a questões relacionadas com rendimentos, sobretudo quando se coloca a pergunta do valor anual auferido pelo agregado familiar (pergunta 7 do questionário). Para além do elevado número de respostas, outro aspecto positivo foi a rapidez na obtenção de respostas. Com a solicitação presencial e no local da resposta automática ao inquérito, não houve necessidade de se aguardar pelo envio posterior, o que permitiu poupar algum tempo. Note-se que muitas vezes, se os inquéritos forem solicitados, por exemplo, por correio ou internet, poderão demorar imenso tempo a chegar ao respectivo investigador (chegando inclusive muitas deles a não aparecer, uma vez que a taxa de resposta é muito reduzida) o que dificulta a análise neste tipo de trabalhos.

Os contribuintes foram entrevistados em Abril de 2011, altura da entrega da declaração de rendimentos, sensivelmente, ao fim de semana. Optou-se por este período para se inquirir

92

O conceito de individual aqui apresentado respeita à tributação única de um rendimento de uma determinada pessoa ou agregado familiar. Embora exista no IRS a tributação de um agregado familiar, o sentido é contraditório ao IRC. Neste último tributam-se rendimentos que podem envolver diversas pessoas.

os contribuintes porque, regra geral, existe maior disponibilidade de tempo, e consequentemente, uma maior predisposição para responder.

Em matéria de estudo piloto, importa assinalar que efectuámos, em 2008, um questionário provisório, no sentido de este funcionar como teste para análise da receptibilidade, ou não, dos contribuintes em responder a este tipo de questões.

Os contribuintes foram entrevistados em viagens de comboio, uma vez que supostamente seria um local em que os mesmos se sentiam tranquilos e com alguma disponibilidade para às questões colocadas. O estudo piloto foi efectuado, em Junho de 2008, em viagens entre Pombal e Aveiro, no comboio Inter Cidades e no Alfa Pendular (ambos na 2ª categoria). Obtivemos algumas respostas e comentários interessantes, no entanto, deparámo-nos com três problemas essenciais. O primeiro, esteve relacionado com o facto de não termos licença para efectuar o referido estudo. Fomos informados pelo funcionário que se encontrava a cobrar os bilhetes, que para efectuar este tipo de investigação teríamos de possuir licença, sendo que esta poderia demorar muito tempo por parte dos Comboios de Portugal e na maior parte das vezes apenas era concedida a entidades públicas governamentais e/ou supervisoras (por exemplo: INE/Banco de Portugal). O segundo, esteve relacionado com a preocupação dos contribuintes ao sentirem que se estava a aproximar a sua vez de saída. Desta forma, alguns questionários acabavam por não ser preenchidos na totalidade. Este problema agravou-se na viagem efectuada no Inter

Cidades. A última dificuldade relacionou-se com os factores económicos e de tempo. Para

uma amostra razoável teriam de ser efectuadas diversas deslocações de comboio, o que implicaria grande disponibilidade horária e monetária.

De referir, ainda, que inicialmente pensou-se em replicar este questionário, com pequenas alterações para os funcionários da Administração Fiscal, nomeadamente Direcção de Finanças de Leiria, de forma a analisar até que ponto, também eles incorrem em custos psicológicos com a aplicação do sistema fiscal. No entanto, não obtivemos uma resposta positiva.

Por fim, importa realçar que após a entrega do questionário foi curioso analisar os comportamentos e atitudes dos contribuintes após o preenchimento do mesmo. De uma forma geral, percebeu-se que todos os contribuintes sentados naquela esplanada abordavam o tema dos impostos, nomeadamente, do preenchimento da declaração de IRS, sendo o

tema das deduções à colecta e o tema do preenchimento por parte dos contabilistas, os mais comentados.

Para análise e tratamento de dados foi utilizado o software de análise Statistical Package

for The Social Sciences (SPSS), versão 18.0.

2.2. Objectivos do estudo empírico

Com o estudo empírico procurámos responder a algumas questões, relacionando ainda algumas variáveis, que vão de encontro aos objectivos da nossa investigação. Assim, foram efectuados alguns testes e respondidas a algumas perguntas, no sentido de analisar os comportamentos e atitudes dos contribuintes, relativamente à entrega da declaração de rendimentos das pessoas singulares.

Na parte empírica inicial, com a análise da estatística descritiva, pretendemos analisar não somente o tipo de amostra que temos, mas essencialmente, averiguar se os contribuintes gostam ou não de cumprir, de acordo com o período de entrega, e quais as razões que os levam a entregar, ou não, a declaração de IRS. As respostas a estas questões são apresentadas nas perguntas 17. - Costuma entregar a declaração de IRS, 17.1. – Se entrega

no início qual a razão, 17.2 – Se entrega no fim qual a razão e 18. – Qual a razão que o

leva a entregar a sua declaração de IRS.

Na segunda parte empírica, onde apresentamos a inferência estatística, procuramos responder a três objectivos, relacionando variáveis. No primeiro, procuramos averiguar se existe relação entre as categorias e os rendimentos, com o cumprimento e incumprimento fiscal e as razões para estas atitudes. O nosso segundo objectivo é averiguar a correspondência entre os factores pessoais e os sentimentos assumidos pelos contribuintes. O nosso último objectivo prende-se com a análise da relação que existe entre os sentimentos, enquanto associados a custos psicológicos, e os comportamentos de cumprimento ou incumprimento fiscal que daí possam resultar.