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Factores sociológicos e psicológicos

3. O comportamento dos contribuintes em relação ao cumprimento ou não cumprimento

3.2. Factores sociológicos e psicológicos

As normas sociais e psicológicas têm-se desenvolvido ao longo da evolução humana. O cérebro, por sua vez, tenta acompanhar essas mesmas normas. A evolução social e biológica muitas vezes incute normas existentes em determinados grupos sociais, que acabam por ser acatadas por quem se identifica com esses grupos. O cérebro humano contém as ferramentas básicas e essenciais para o indivíduo se adaptar a um determinado contexto social. As normas sociais e psicológicas têm, por isso, influência no comportamento fiscal.

Um indivíduo tem expectativa sobre o modo de actuar dos outros, de forma a ele também poder actuar de forma idêntica. Existe uma certa tendência para agir de forma semelhante ao contexto em que se encontra inserido.

As ideias e atitudes em relação ao sistema fiscal resultam de comportamentos colectivos, de padrões de conduta social. Por exemplo, se num determinado povo existe a ideia de evadir em certo aspecto, este facto pode ser tão ou mais forte que as normas de

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Utilizadas para averiguar uma série de conformidades. Segundo Cunha Guimarães (1998) a auditoria fiscal visa essencialmente a verificação do cumprimento da legislação fiscal por parte do sujeito passivo do imposto e do seu correspondente relato nas demonstrações financeiras.

cumprimento de tributação. Assim, cada povo regista o seu próprio civismo tributário, sendo os impulsos humanos dominados pela cultura em que se vive. Vejamos por exemplo o caso da Europa, onde os países do norte da Escandinávia possuem tipos de atitudes cívicas bastante diferentes dos países do sul da Europa.

Numa sociedade em que se acredita que a evasão fiscal é um comportamento normal, mais tendência terá o contribuinte para não cumprir. As orientações sociais podem funcionar como elemento dissuasor à evasão fiscal, indo de encontro à fuga de impostos. O contexto social e económico em que vivemos, a qualidade de vida também é condicionada pelos serviços que são prestados pelo Estado nos domínios da saúde, da educação, da justiça e segurança públicas, da segurança social e da criação de infra-estruturas essenciais ao desenvolvimento económico.

As normas sociais podem apontar a evasão como algo positivo. O mesmo se passa com as normas pessoais. A um indivíduo, e para um determinado contexto, podem estar atribuídos sentimentos de vergonha e culpa, ou eventualmente sentimentos de orgulho. A identidade social passa não apenas por uma questão de aprendizagem, mas também por uma questão de influência dos outros. A forma de como as pessoas se vêem a si mesmas, é muitas vezes influenciado pelos outros.

Numa experiência efectuada (Cialdini, 1996), mostrou-se o poder que as normas têm para influenciar o comportamento. O objectivo desta experiência era analisar se as pessoas fariam mais poluição num ambiente poluído, comparativamente a um ambiente limpo. Colocaram-se panfletos debaixo dos pára-brisas dos carros, de forma a averiguar se os motoristas os deitavam ou não para o chão. Estes panfletos foram colocados em dois parques de estacionamento distintos, um sujo e outro limpo. A conclusão obtida vai no sentido de existir muito mais lixo para o ambiente já poluído. No parque limpo, poucos panfletos foram colocados no chão. Este facto permite averiguar que o cidadão comum tende a seguir o comportamento dos outros, mesmo que isso não seja o mais correcto. O mesmo se passa com os impostos e as correspondentes tarefas fiscais.

Aos factores sociais associados às tarefas fiscais surgem inevitavelmente as questões psicológicas. Nem todos os contribuintes têm a mesma tendência natural para aceitar o cumprimento tributário. Se, por um lado, existem contribuintes que aceitam normalmente, por outro, existem contribuintes que se tornam mais agressivos. Alguns tentam resistir à pressão fiscal do Estado, pela própria motivação e orgulho que têm em não cumprir. Esta

vontade de obter sucesso indica que quanto maior é a quantia envolvida, o factor motivação deixa de ser meramente económico e passa a ser de natureza psicológica e sociológica.

O sentimento generalizado de tolerância social para com a fraude e evasão fiscal conduz a um clima psicológico favorável à fuga de impostos. O facto deste comportamento não ser socialmente reprovável, sendo por vezes até admirado, traduz um clima favorável ao não cumprimento fiscal.

Representando os impostos uma diminuição de riqueza46, e procurando o individuo maximizar o seu bem-estar, existirá naturalmente uma predisposição intrínseca ao ser humano de fuga aos impostos. Esta predisposição tende a aumentar quanto maior for a sensação de que os benefícios em troca são insuficientes ou quase inexistentes.

Para muitos contribuintes, a obrigação de cumprir alguns dos mais simples deveres fiscais, tal como o preenchimento da declaração de rendimentos, para além do natural incómodo, representa um custo significativo. Existe no espírito de muitos contribuintes um certo custo psicológico, que, por vezes, torna-se superior ao próprio montante do imposto a pagar. Surgem, assim, as causas psicológicas como fonte motivacional para a fuga ao pagamento de impostos47.

As atitudes de resistência fiscal são muitas vezes pessoais, sendo o reflexo de experiências individuais de vida. O contribuinte, ao entregar parte da sua riqueza nos cofres do Estado pode sentir que esta imposição não faz o menor sentido e só a cumprir sob ameaça. A ameaça de uma futura punição assume uma intrínseca motivação para o pagamento dos impostos. A pessoa é orientada pela sua própria consciência, porém, uma pressão externa pode produzir o comportamento desejado. De outra forma pode sentir como cumprimento de um dever cívico, embora pouco agradável, mas necessário ao bem-estar comum.

A imagem criada no cérebro humano de cada cidadão, acerca dos decisores fiscais também pode afectar a conduta dos contribuintes. As percepções relativas à justiça e equidade, ao nível da carga fiscal, ao balanço entre impostos pagos e serviços públicos recebidos, até ao grau de confiança na eficiência e honestidade da administração nas receitas arrecadadas influenciam o comportamento. É comum os contribuintes se sentirem angustiados e

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Consequentemente obstáculo à poupança.

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Lobo, Maria Luísa Delgado (2001), “Sociologia y Psicología Fiscales. La Cultura Fiscal dos Españoles”,

Conferência proferida no XXI Curso de Instituciones y Técnicas Tributárias, Instituto de Estudios Fiscales,

deprimidos quando têm de se deslocar junto das finanças, mesmo da sua área de residência, afim de resolverem alguma questão mais complexa relacionada com impostos.

Importa também realçar o nível atingido pela chamada “pressão fiscal psicológica”, já que certos impostos são considerados irritantes, enquanto outros, que até podem proporcionar uma receita fiscal equivalente, são anestesiantes.48 Estas ideias de pressão fiscal, de mentalidade ou de comportamento, têm impulsionado os governos a tomar orientações no sentido de realçar o papel da educação no cumprimento e pagamento de impostos.