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3 O CONTROLE BIOLÓGICO DA ELÓDEA NA LAGOA DA BAGAGEM: UMA

3.3 Caracterização da Bacia da Lagoa da Bagagem

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Figura 1: Trator retirando Elódea da Lagoa da Bagagem. Fonte : Acervo Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Pará

A Lagoa da Bagagem pertence a bacia do Córrego Buriti e localiza-se a 2,7 Km a jusante da nascente primária, às margens da área urbana de São Gonçalo do Pará – MG. O próximo trecho, com cerca de 1,75 Km, percorre a malha urbana do município e recebe os mais variados tipos de lançamentos de esgotos domésticos e industriais sem tratamento. O terceiro trecho recebe como afluente o córrego do Pinto e deságua no Rio Pará, por zona rural por uma distância aproximada de 5,0 Km (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2015). A bacia do Córrego Buriti pode ser observada neste recorte do mapa do IBGE desde a montante até a sua jusante, no rio Pará (Figura 2).

A Lagoa da Bagagem tem uma área aproximada de 5,8 hectares de espelho d’água. De acordo com relatos de moradores, a Lagoa natural sempre existiu, porém menor, e no seu entorno havia uma área pantanosa onde se plantava arroz. Havia também na beira da Lagoa uma fábrica de beneficiamento de mandioca para produção de farinha e polvilho que a utilizava para liberação de seus rejeitos. Com a abertura da estrada para a comunidade dos Venâncios, na década de 1960, houve o aterramento das encostas e limpeza da área pantanosa, contribuindo com o aumento da área da lagoa com consequente aumento do seu nível de água, formando o reservatório tal qual conhecemos hoje.

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Figura 2: Recorte do Mapa Estatístico Municipal – São Gonçalo do Pará – MG Fonte: IBGE, 2010. A Lagoa da Bagagem é abastecida por diversas nascentes advindas de propriedades rurais circunvizinhas. O uso do solo nessas propriedades é voltado para a exploração pecuária, com predominância de pastagens. A mata nativa é pouco preservada e ocorre somente no entorno das nascentes principais e ao longo do curso do Córrego Buriti onde predomina brejos, conforme pode ser observado em foto de satélite (Figura 3).

No entorno imediato da Lagoa da Bagagem, observam-se pequenas propriedades rurais, sítios com área até 2,0 hectares, que tem como principais explorações agropecuárias a pecuária leiteira, culturas anuais como milho e capim, pomar e pequenas hortas. A Lagoa da Bagagem é utilizada pelas propriedades para irrigação e dessedentação de animais. Observa- se que, historicamente, a ocupação e uso do solo de seu entorno até os dias atuais contribui para que a lagoa receba constantemente carga de nutrientes oriundos da lixiviação dos solos.

A Lagoa da Bagagem é um componente natural importante no contexto urbano do município de São Gonçalo do Pará. Abriga diversas espécies de plantas e animais e possui efeito termorregulador influenciando o microclima local. A presença de corpos hídricos em espaços urbanos é um dos fatores que contribui para minimizar as temperaturas nestes ambientes. A variação da temperatura tem relação direta com o tamanho, distribuição e concentração da lâmina d’água. Contudo, elas são mais amenas em ambientes urbanos que possuem corpos hídricos comparados aos locais em que estes são inexistentes (OLIVEIRA, ASSIS, FERREIRA, 2011).

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Figura 3: Imagem de satélite - Localização espacial da Lagoa da Bagagem e suas principais nascentes Fonte: Google Earth Pro, 2016.

A lagoa também é um importante atrativo natural de interesse turístico para o município, principalmente pela sua beleza cênica e localização, cerca de um quilômetro do centro da cidade, podendo ser explorada para várias atividades desse ramo (PEREIRA, BRAGA, 2005).

Existe um forte apelo emocional, por fazer parte da história de vários cidadãos são- gonçalenses. “Os recursos naturais, em especial as áreas verdes, são utilizados como fatores físicos e psicológicos da manutenção do bem-estar social” (GOMES, 2007, p.43).

A elódea, assim como diversas outras macrófitas, como taboa, aguapés, pinheirinho d’água e rabo de raposa sempre coexistiram na Lagoa da Bagagem. Porém, a partir de janeiro de 2014, começou-se a observar um expressivo aumento da massa da elódea nesse corpo d’água. Nesta época o volume de chuvas diminuiu na região. O nível de água na lagoa baixou, apesar de ter sido mínimo, principalmente quando comparado aos demais corpos d’água do município, dos quais muitos chegaram a secar, comprometendo, inclusive o abastecimento público. A administração pública decretou situação de emergência causada por estiagem (SÃO GONÇALO DO PARÁ, 2014). (Anexo A).

Nas imagens 3 e 4 pode-se observar que a Lagoa da Bagagem não teve diminuição significativa do seu nível de água, a ponto de comprometer a existência dos organismos de seu ecossistema. Contudo, de acordo com a literatura supracitada, há indícios que mesmo mínima, essa diminuição do nível da água corroborou para expor a elódea na lâmina d’água que, juntamente com o excesso de nutrientes, propiciaram a essa espécie melhores condições

41 biológicas para realização de fotossíntese e reprodução, consequentemente aumentando sua biomassa nesse corpo d’água.

Na Figura 4 e Figura 5 observa-se que manchas brancas se formaram no espelho d’água da Lagoa da Bagagem, resultado da superpopulação da elódea. Essa macrófita, apesar de submersa, tem a flor emersa, que deu essa tonalidade a superfície da Bagagem.

Figura 4: Imagem de satélite - Localização espacial da Lagoa da Bagagem e suas principais nascentes

Fonte: Google Earth Pro, 2013

Figura 5: Imagem de satélite: Vista da Lagoa da Bagagem em 23 de agosto de 2014

após a explosão populacional da elódea Fonte: Google Earth Pro, 2014.

Os comentários e especulações que surgiram no município a partir de então evidenciaram o desconhecimento da população local sobre as macrófitas, especificamente, sobre a elódea. Entre estas especulações destacaram-se que a elódea seria fruto acúmulo de lodo, alga, lixo, aguapé, mais comumente associando as causas ao esgoto. Isso gerou um

42 desconforto geral na população, temerosa que “a mancha” causasse algum dano à saúde dos moradores.

Portanto, o interesse, a curiosidade e o desconhecimento coletivo sobre o evento da superpopulação repentina da macrófita aquática Egeria densa, conhecida popularmente como elódea, na Lagoa da Bagagem, ocasionou o desenvolvimento de um programa de manejo integrado, através da remoção mecânica e controle biológico desta planta. Paralelamente, foi desenvolvido um projeto de educação ambiental nas escolas, objetivando a construção participativa do conhecimento agroecológico.

Figura 6: Vista da Lagoa da Bagagem em 23 de agosto de 2014, após a explosão populacional da elódea. Fonte: Acervo da autora

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