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ESTADO MENTAL

3.3 Caracterização da Dependência no Autocuidado

A caracterização do tipo e nível de dependência no autocuidado das pessoas dependentes, em contexto familiar, foi realizada através da análise dos dados obtidos com a aplicação do formulário, concretamente com as escalas relacionadas com os onze domínios do autocuidado: Tomar Banho; Vestir-se e despir-se; Alimentar-se; Arranjar-se; Uso de sanitário; Elevar-se; Virar-se; Transferir-se; Usar cadeira de rodas; Andar; Tomar medicação. Assim, avaliou-se numa escala de tipo Likert de 1 a 4, o nível de dependência de cada uma das atividades que integram cada domínio do autocuidado, procedendo-se do seguinte modo:

- Dependente, não participa (score 1) – pessoa totalmente dependente, não sendo capaz de realizar a atividade em análise;

- Necessita de ajuda de pessoa (score 2) – pessoa cuidada inicia e/ou completa a atividade em análise com a ajuda de uma pessoa;

- Necessita de equipamento (score 3) – pessoa cuidada é capaz de realizar a atividade em análise, mas com auxílio de equipamento adaptativo, não necessitando de ajuda de qualquer pessoa;

- Completamente independente (score 4) – pessoa cuidada sem qualquer tipo de

dependência na realização da atividade em análise.

Após ter-se apurado a frequência do tipo de dependência por cada atividade do autocuidado, partiu-se para a computação do nível ou grau global de dependência das pessoas cuidadas, relativamente a cada domínio do autocuidado. Assim, consideraram- se os itens “não nulos” ou “aplicáveis” a cada um dos casos, e tendo em atenção os scores obtidos, foram aplicados os seguintes critérios, de forma sequencial, para computar-se o nível ou grau global da dependência de cada domínio de autocuidado:

- Dependente, não participa – casos que obtiveram score 1 em todos os itens

aplicáveis da escala;

- Completamente independente – casos que obtiveram score 4 em todos os itens aplicáveis da escala;

- Necessita de equipamento – casos não incluídos nos itens anteriores; que só necessitam de equipamento; apresentaram em alguns itens scores >2, podendo em alguns dos itens ter score 4;

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- Necessita de ajuda de pessoa – os casos que não foram categorizados em nenhuma das alíneas anteriores foram incluídas nesta.

Na Tabela 22, estão contemplados os níveis globais de dependência em cada um dos tipos de autocuidado, podendo observar-se que, na globalidade, as pessoas dependentes em contexto familiar, apresentam um alto nível ou grau de dependência no autocuidado. Fazendo o somatório das percentagens dos score 1 (dependente, não participa) e do score 2 (necessita da ajuda de uma pessoa), verifica-se, que mais de 90% das pessoas necessita da ajuda de uma pessoa para Alimentar-se, Tomar Banho, Vestir- se e despir-se e Andar. Mas, a leitura dos resultados, indica ainda, uma outra situação que é de facto, reveladora da grande dependência no autocuidado: nos autocuidados Transferir-se e Elevar-se, mais de metade das pessoas dependentes só poderá mover-se de um local para outro e levantar parte ou a totalidade do corpo, caso tenha a ajuda de uma pessoa e, cerca de 40% das pessoas dependentes não consegue Virar-se, ou seja, mover o corpo de um lado para o outro, a não ser com o auxílio do MFPC.

TABELA 22: Níveis globais de dependência em cada um dos tipos de autocuidado

Domínios do Autocuidado Dependente, não participa (1) Necessita da ajuda de uma pessoa (2) Necessita equipamento (3) Completamente independente (4) N % N % N % N % Alimentar-se 16 16,3 77 78,6 1 1,0 4 4,1 Tomar Banho 37 37,8 55 56,1 2 2,0 4 4,1 Vestir-se e despir 24 24,5 66 67,3 1 1,0 7 7,1 Andar 20 20,6 68 70,1 3 3,1 6 6,1 Arranjar-se 25 25,5 62 63,3 0 0 11 11,2

Usar cadeira de rodas 20 57,1 9 25,7 0 0 6 17,1

Tomar medicação 28 28,6 51 52,0 0 0 19 19,4

Uso de sanitário 23 23,7 47 48,5 3 3,1 24 24,7

Transferir-se 22 22,9 33 34,4 9 9,4 32 33,3

Elevar-se 22 22,4 33 33,7 11 11,2 32 32,7

Virar-se 20 20,4 20 20,4 2 2,0 56 57,1

No sentido de facilitar o reconhecimento imediato do tipo e grau de dependência no autocuidado das pessoas cuidadas, apresenta-se o gráfico 1. A representação dos dados no gráfico permite identificar prontamente que o nível de dependência no autocuidado é alto.

Realça-se que, a menor percentagem corresponde a mais de 1/3 de pessoas que necessita de ajuda para Virar-se, o que quer dizer que, pelo menos, este número de pessoas participa na realização de muitas poucas atividades em todos os autocuidados e que, uma em cada duas pessoas não consegue, por si só, elevar-se e transferir-se. Poder-se-á afirmar que este número de pessoas estará “acamada”.

O autocuidado que assume maior percentagem é o Alimentar-se, em que 94,8% do total das pessoas têm que ter o apoio de uma pessoa para poderem Alimentar-se, ou

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seja, embora até algumas delas possam levar o alimento à boca, dependem, no entanto, de alguém para o acesso ao alimento.

O autocuidado Usar cadeira de rodas apresenta uma percentagem elevada (82,80%), o que poderá estar relacionado com um menor número de casos.

GRÁFICO 1: Percentagem de pessoas com necessidade de ajuda de pessoas, parcial ou total, por tipo de autocuidado

A tabela 23 mostra o nível global e agregado de dependência, obtido pelo mesmo procedimento utilizado para a computação dos níveis globais de dependência em cada um dos tipos de autocuidado, considerando todos os itens dos autocuidados.

Da leitura da tabela 23, sobressai que as 98 pessoas que constituem a totalidade da amostra deste estudo sobre o fenómeno da dependência em contexto familiar, do concelho da Maia, apresentam um elevado nível global de dependência, pois precisam da ajuda do MFPC para o cumprimento de uma quantidade considerável de atividades de autocuidado, havendo oito pessoas que estão completamente dependentes em todos os autocuidados. Nota-se, igualmente, que não há nenhuma pessoa que recorra a equipamento no sentido de possibilitar a sua autonomia em atividades de autocuidado, reforçando assim, o alto grau de dependência que as pessoas têm para a realização do seu autocuidado.

Perante esta situação, coloca-se uma questão muito premente no tipo de resposta que os serviços de saúde deverão dar para colmatarem as necessidades em cuidados de saúde das famílias que integram pessoas dependentes no autocuidado.

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TABELA 23: Nível global e agregado de dependência

Scores N %

Score 1 – Dependente não participa 8 8,2

Score 2 – Necessita de ajuda de pessoas 90 91,8

Score 3 – Necessita de equipamento 0 0

Score 4 – Completamente independente 0 0

Total 98 100

Decidiu-se, também, aferir o valor médio do autocuidado geral. Para tal, fez-se a computação do score geral de cada caso baseado na média de todos os itens das diversas escalas de avaliação da dependência no autocuidado. Com base na média dos scores de cada domínio do autocuidado chegou-se ao valor médio do autocuidado geral que é de 2,19. O valor encontrado realça, mais uma vez, o nível elevado de dependência no autocuidado. Nota-se que os autocuidados Tomar banho (1,72), Vestir-se e despir-se (1,90), Alimentar-se (1,93), Andar (1,96), Arranjar-se (1,97), Tomar a medicação (2,07) apresentam valores inferiores ao valor médio do autocuidado geral, enquanto os autocuidados Usar sanitário (2,30), Elevar-se (2,53), Transferir-se (2,54) e Virar-se (2,94) mostram valores superiores ao do autocuidado geral (Gráfico 2). Embora os últimos autocuidados referidos, atinjam valores superiores ao valor do autocuidado geral, é necessário destacar que tal circunstância remete para a existência de um conjunto de pessoas que, além de ser dependente nos restantes autocuidados, permanece continuamente na cama sem ter sequer capacidade para alterar a sua posição no leito. Significa isto, que há um número substancial de pessoas que não tem capacidade para sair da cama, ou seja, que requer cuidados de forma contínua e sistemática.

Prevê-se ser crucial que a intervenção profissional dos enfermeiros se faça de uma forma mais intensa, quer em cuidados diretos às pessoas dependentes quer no apoio aos MFPC. O enfermeiro em contexto domiciliário tem uma ação fundamental na instrução e supervisão dos MFPC para a prevenção de potenciais complicações relacionadas com os processos corporais do DF e para promover o equilíbrio na saúde do familiar cuidador.

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GRÁFICO 2: Distribuição das médias de scores por domínio de autocuidado

Ao observar-se o gráfico 3, constata-se que o nível global e agregado de dependência é igual ou superior a 90%. Revela-se, assim, que uma parte substancial das pessoas dependentes de todos os concelhos requer cuidados de enfermagem.

GRÁFICO 3: Nível global e agregado de dependência de autocuidado por concelho

Recorrendo-se ao nível global de dependência de cada domínio de autocuidado e, tendo em atenção os quatro autocuidados que agregam maiores percentagens, verifica- se como pode ler-se na Tabela 24, que existe uma similitude nos quatro concelhos. É, também de salientar que no autocuidado Virar-se, os valores percentuais rondam entre os 20% e 40% dos casos e não têm capacidade para Elevar-se e Transferir-se entre 30% e 60% dos dependentes.

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TABELA 24: Nível global de dependência por domínio de autocuidado e por concelho