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ESTADO MENTAL

3.7 Recursos Utilizados

Ao nomear-se Recursos, a nível da saúde, estes referem-se a um conjunto de meios, quer humanos quer materiais que, ao serem utilizados, vão favorecer uma melhor qualidade de vida das pessoas que deles precisam ao dar-lhes resposta às necessidades específicas em cuidados de saúde. Assim, na situação das famílias que integram dependentes no autocuidado, a utilização dos serviços de saúde e de serviços de apoio social, de financiamento, de produtos de apoio pode ajudar a promover a reconstrução da autonomia da pessoa dependente no autocuidado, assim como, a facilitar o desempenho no exercício do papel de membro de família prestador de cuidados.

Consideraram-se, nesta investigação, como recursos necessários e utilizados pelas pessoas dependentes no autocuidados e pelos familiares cuidadores, os seguintes:

- Recursos – equipamentos: integram os produtos de apoio que melhoram a funcionalidade e a integração da pessoa dependente no autocuidado e simplificam a prestação dos cuidados dos MFPC. Dão-se como exemplo para a pessoa dependente o “rebordo para prato”, e o “alteador de sanita” e para o MFPC “disco de rotação” e “cama articulada”;

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- Recursos complementares: abrangem um conjunto de materiais como os aparelhos para viabilizar a comunicação como o “telemóvel/telefone” e o “dispositivo de chamada”, assim como, outros dispositivos para proporcionar a autonomia como “pinça para alcançar objetos” e “enfia agulhas”;

- Recursos – serviços de apoio: incluem os serviços de apoio quer de âmbito profissional, como são os casos dos apoios do médico, do enfermeiro, quer de âmbito não profissional, como os relativos à ajuda de familiares, vizinhos, por exemplo. Incluem- se, igualmente, nesta área os serviços de apoio relacionados com a prestação de cuidados de higiene, confeção de refeições, entre outros;

- Recursos financeiros: prendem-se com o que as famílias auferem sob o ponto de vista económico, ou seja, com os rendimentos provenientes da pensão/reforma, subsídios e outros, e com os quais têm de gerir as despesas do agregado familiar.

3.7.1 Recursos - Equipamentos

A análise deste tipo de recursos foi realizada por domínio de autocuidado, tendo por base dois aspetos: “necessário” e “utilizado”. O recurso assinalado como “necessário” resultou do juízo profissional do enfermeiro, de acordo com os défices nas atividades de autocuidado da pessoa dependente. A validação de “utilizado” foi feita quando, simultaneamente, o recurso estava a ser efetivamente usado e a sua utilização ser congruente com as limitações apresentadas pela pessoa dependente.

Para obter-se a taxa de utilização de equipamentos considerados necessários por domínio de autocuidado, procedeu-se do seguinte modo: por cada um dos casos constituintes da amostra, analisaram-se os valores absolutos e relativos de cada um dos equipamentos necessários, o número total de pessoas que necessitavam e utilizavam cada um desses equipamentos, seguindo-se o cálculo da taxa de utilização de cada equipamento para o total dos casos que necessitavam desse equipamento. A taxa global de utilização do equipamento considerado necessário, por autocuidado, resultou do cálculo da média dos valores obtidos nas taxas individuais de utilização de cada um dos equipamentos considerados necessários.

A taxa global de utilização dos equipamentos considerados necessários foi calculada tendo por base os valores das taxas de utilização dos equipamentos considerados necessários de todos os autocuidados, sendo o seu valor de 45,31%.

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Da análise do gráfico 8, Taxa de utilização de equipamentos considerados necessários por domínios do autocuidado, face à taxa global, sobressai que os autocuidados Tomar medicação (78,78%), Andar (67,93%), Recursos complementares (62,9%), Usar sanitário (62,67%), Alimentar-se (59,94%) são aqueles que apresentam uma taxa superior à da média global. Pode interpretar-se, mediante estes resultados que, nas atividades essenciais do quotidiano para a preservação da vida e do bem-estar, as pessoas dependentes e os familiares cuidadores tivessem recorrido a dispositivos para manter a autonomia da pessoa dependente. Compreende-se assim, que a taxa do Tomar a medicação seja umas das mais altas, pela importância que assume o regime terapêutico prescrito na manutenção e no equilíbrio da condição de saúde. Entende-se, igualmente, que a pessoa deseje ser independente na sua locomoção, assim como, na sua eliminação e bastar-se a si própria para alimentar-se, valendo-se, por isso mesmo, da utilização de artefactos, determinando deste modo, que as taxas, nestes domínios, venham a mostrar-se mais elevadas. Sabendo-se que os Recursos Complementares contemplam, entre outros, o telefone/telemóvel e o dispositivo de chamada, percebe-se que este seja, também, um dos equipamentos que apresente uma taxa alta, visto ser inerente à pessoa a necessidade de comunicar.

No que se refere aos restantes domínios de autocuidado deteta-se, em todos eles, valores inferiores à taxa global, sendo o Vestir-se e despir-se (7,67%) o que tem valor mais baixo seguido de Arranjar-se (16,66%), resultados que remetem para a substituição da pessoa dependente pelo MFPC na realização destas atividades. Quanto aos Transferir-se (27,23%), Elevar-se (33,26%), Tomar Banho (40,1%) e Virar-se (41,34%) a não utilização dos recursos indicados como necessários terá implicado que o MFPC realizasse sempre em esforço as atividades correspondentes e com a probabilidade de menor conforto e segurança para o DF.

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GRÁFICO 8: Taxa de utilização de equipamentos considerados necessários por domínios do autocuidado, face à taxa global

Da análise da taxa utilização dos equipamentos considerados necessários nos concelhos de Lisboa, Paços de Ferreira, Porto e sub-regiões do Cávado e do Ave, respetivamente, verificou-se que são comuns os três domínios de autocuidados com maior taxa de utilização: Andar, Recursos complementares e Tomar medicação (Costa, 2013), Andar, Tomar medicação e Usar sanitário (Leonardo, 2011), Andar, Tomar a medicação e Usar o sanitário (Maia, 2012), Recursos Complementares, Andar, Tomar medicação (Petronilho, 2013). Os quatro domínios de autocuidado com menor taxa de utilização mais comuns são Vestir-se e despir-se, Arranjar-se, Transferir-se e Virar-se.

Como pode observar-se no gráfico 9, a razão que os MFPC elencam, em primeiro lugar, para não utilizarem os equipamentos considerados necessários, relaciona-se com o desconhecimento da forma de funcionamento dos dispositivos de apoio, revelando a inexistência, por parte da equipa de saúde, de informação e instrução adequada sobre os benefícios do uso desses meios para o auxílio na prestação dos cuidados ao DF e, simultaneamente, para a promoção da autonomia do DF. Em segundo lugar, surgem as limitações da residência como impeditivo do uso dos equipamentos, o que seria de esperar-se, pois só em 2001 é que foi aprovada legislação sobre o desenho universal, o que significa que os edifícios construídos anteriormente não tinham de respeitar o princípio da acessibilidade. Não desejar utilizar recursos é, por ordem decrescente, a terceira razão indicada. Ao pensar-se que os MFPC estão, em média, no exercício do

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papel há cerca de 7 anos é compreensível que não pretendam alterar a sua forma de prestar os cuidados, pois já estão habituados a fazê-lo daquela maneira. A última razão apontada é a económica, o que não deixa de revelar-se dissonante tendo em atenção que o rendimento per capita/mês do agregado familiar é, em média, de 342 euros. GRÁFICO 9: Razões para a não utilização de equipamentos considerados necessários

Desconhece a forma de funcionamento

Limitações da residência

Não deseja Desconhece a forma de aceder ao recurso

Económica

Razões para a não utilização de equipamentos