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Caracterização da infraestrutura e do ambiente no entorno

3. Regularização Fundiária na Vila Brandina

3.5 Caracterização da infraestrutura e do ambiente no entorno

O sítio onde se encontra a Vila Brandina I é uma encosta sem restrição de uso por declividade, mas em pelo menos dois pontos da comunidade, nas ruas “H” e “F”, há terrenos em que parte deles apresenta declividades superiores a 45º. Há também, tanto na Vila Brandina I como na Vila Brandina II, a presença de pelo menos 10 nascentes expostas nas áreas conservadas e, pelo relato dos moradores, outras duas nascentes foram canalizadas, essas nas áreas de ocupação.

Algumas áreas apresentam a situação de combinação de significativas declividades com cortes de vertentes e por isso apresentam histórico de deslizamentos de terra (CASTELLANO,

Gastam até 20%; 8 Gastam entre 20% e30%; 9 Gastam entre 30% e 50%; 5 Gastam acima de 50%; 3

2010), sendo que foi necessária uma intervenção, com a construção de muros de arrimo. Esses muros, no entanto, não atingiram todas as áreas sujeitas a deslizamento e, atualmente, há ainda algumas áreas com esse risco. Por causa das nascentes, algumas casas também foram interditadas e as famílias removidas para outras áreas da cidade.

Importante destacar o papel da comunidade na conservação das áreas verdes, tanto aquela próxima ao núcleo Vila Brandina I, ao sul, como a área ao lado da Vila Brandina II. Em ambas as áreas foram feitos pela comunidade o trabalho de identificação e isolamento das nascentes, de forma a evitar a contaminação das mesmas. Além disso, a comunidade mantém duas hortas comunitárias, uma em cada núcleo. A ONG Plantando Paz na Terra tem importante papel na manutenção das hortas, tanto no auxilio técnico, como na ajuda com insumos para a sua manutenção.

Em relação às condições da comunidade em relação à disponibilidade de serviços e equipamentos urbanos, a Vila Brandina apresenta boa cobertura de acesso à rede de esgoto e água tratada. Acesso e qualidade do serviço, no entanto nem sempre estão no mesmo nível. A falta de planejamento urbano e do reconhecimento da favela como cidade formal resultam em obras esporádicas sem um plano consistente de longo prazo.

A prova disso é que a comunidade foi uma das primeiras favelas a receber, ainda nos anos de 1990, pavimentação de algumas ruas. Já nos anos 2000 quando a comunidade começa a receber a instalação de um sistema de esgoto cloacal, as ruas pavimentadas precisaram ser quebradas para passar a tubulação. Importante salientar que algumas dessas ruas ainda encontram-se hoje sem pavimentação (ou com a pavimentação depredada pela instalação do sistema de esgoto), conforme podemos verificar na Figura 3.11, que mostra parte do pavimento de asfalto destruído e não reposto para passagem do sistema de esgoto.

Figura 3.11 - Vila Brandina, Campinas (SP) - Viela 1d e Rua G – Pavimentação destruida para passagem do sistema de esgoto - 2009.

Além disso, é possível perceber que, apesar da existência de rede de esgoto cloacal não há uma rede de esgoto pluvial, nem mesmo com a presença de coletores do tipo boca de lobo em vários trechos da comunidade.

Tal situação aponta, de um lado, os problemas no planejamento do poder público para atender as demandas e necessidades da comunidade e, de outro, o caráter oportunista, por parte dos governos que se sucederam, sem pensar nas consequências das ações ao longo do tempo. De fato, segundo o relato de alguns moradores, boa parte da implantação de melhorias na comunidade ocorreu em época de eleições, principalmente até o final dos anos 1990. Embora tal prática tenha diminuído nos anos 2000, um fato não sai da memória dos moradores da Vila Brandina: durante a campanha para a prefeitura de Campinas o atual prefeito Dr. Hélio de Oliveira, ainda no primeiro mandato, se comprometeu a transformar a Vila Brandina na primeira favela efetivamente regularizada do ponto de vista cartorial de Campinas. Até o momento, no

entanto, nenhuma ação de poder público, nesse sentido, foi feita. O Senhor Tião Mineiro52 relata

que já foram feitos pelo menos quatro levantamentos topográficos na comunidade desde o final dos anos de 1980 sem que houvesse, de fato, alguma mudança na situação dominial da área.

A situação da comunidade quando comparada com o que ocorre nas ruas fora da comunidade se torna ainda mais discrepante, pois fica evidente a clara segregação sócio-espacial da população da Vila Brandina. Um exemplo é a comparação do tipo e qualidade da pavimentação das ruas na comunidade com aquelas de fora, onde estão localizadas as casas de melhor padrão. A pavimentação dentro da comunidade é de péssima qualidade quando comparada à pavimentação nas ruas vizinhas, conforme podemos verificar na Figura 3.12 e na Figura 3.13, que mostra a pavimentação na da rua Erico Veríssimo (ao norte) com a Danton Gomes (continuidade da Rua D).

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Fonte: Cristiano Rocha. Maio de 2010.

Fonte: Cristiano Rocha. Maio de 2010.

Figura 3.12 - Tipo de Pavimentação da Rua Erico Verissímo - Vila Brandina – Campinas - 2010

Figura 3.13 - Tipo de Pavimentação da Rua D - Vila Brandina – 2010.

Outra marca da comunidade e que mereceria ser considerada nas políticas de regularização fundiária é a presença significativa de catadores de papel na comunidade. Esse tipo de atividade necessita de um local apropriado. A falta de um local como um galpão de separação, classificação e depósito acaba por deixar muitas áreas da comunidade com lixo na rua, conforme podemos verificar nas fotos da Figura 3.14.

Fonte: Cristiano Rocha. Maio de 2010.

Figura 3.14 - Fotos de locais com presença de resídos sólidos na comunidade de Vila Brandina, Campinas (SP) - 2010

Ainda em relação ao saneamento básico e a convivência com os vizinhos da Vila Brandina, principalmente próximos do Núcleo 2, é preciso salientar que há conflitos de convívio e de usos do espaço. A crise de convivência é evidente entre as duas comunidades e os trabalhadores da Vila Brandina não são contratados para trabalhar nessas residências, seja em trabalho doméstico, como pedreiro ou babá, segundo a Associação de Moradores da Vila Brandina. Os conflitos, no entanto não estão apenas no plano relacional, mas também no uso da área. Algumas residências, localizadas na Rua Marina Vieira de Mesquita e que tem como limite de fundos o Núcleo 2 da Vila Brandina, despejam esgoto, principalmente proveniente de piscinas, nos fundos do terreno na rua da comunidade, conforme pode ser verificado na fotos da Figura 3.15.

Fonte: Cristiano Rocha. Maio de 2010.

Figura 3.15 - Despejo de esgoto nas ruas da Vila Brandina, Campinas (SP) - Núcleo 2 - 2010

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