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4 MÉTODO DE PESQUISA

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

No tocante aos métodos de pesquisa da estratégia como prática, Rasche e Chia (2009) afirmam que os estudiosos de estratégia como prática, tem que dispensar mais atenção aos métodos de pesquisa que reconheçam a contextualização das práticas de estratégia e precisam obter familiaridade com as práticas de estratégia. Aproximar-se das práticas de estratégia rotineiras significa viver entre os estrategistas, a aprendizagem de sua linguagem, tendências e disposições, participando de suas práticas e rituais (RASCHE e CHIA, 2009).

A fim de alcançar este objetivo, a pesquisa em estratégia como prática, tem como um dos seus focos a descoberta e análise de diferentes tipos de práxis, inter- relacionando-as com seus praticantes, além de práticas estratégicas intra e extra- organizacionais. Para isto, utiliza preferencialmente metodologias qualitativas, dentre elas, principalmente o estudo de caso. No que tange às técnicas de coleta de dados, destacam-se a observação participante, a entrevista direta e o uso de fontes documentais (ALBINO et. al, 2010, p.9).

Neste mesmo sentido argumentam Johnson, Melin e Whittington (2003), ao afirmar que uma contribuição importante da pesquisa é a análise do processo da estratégia, a fim de legitimar a pequena amostra de estudos em profundidade. Assim, os estudos de caso provaram ser fonte de informação rica e duradoura para a construção de arcabouços teóricos. Tal delineamento permite desenvolver a compreensão holística e contextual, essencial para desvelar as forças complexas de condução da mudança estratégica e de estabilidade das organizações.

Além destas indicações, está a ligação do estudo de caso enquanto delineamento de pesquisa e a base teórica do presente trabalho – a estratégia como prática. Pode-se pontuar as pesquisas realizadas por Jarzabkowski e Wilson (2002) e Jarzabkowski (2003), as quais sondaram as microatividades estratégicas dos gestores (TMT – top management team), o primeiro estudo na Warwick University e o segundo em três universidades à saber: Warwick University, London School of Economics and Political Science (LSE) e Oxford Brookes University, todas no Reino Unido.

Quanto à caracterização, Gil (2009) afirma que o estudo de caso é um delineamento, não devendo ser confundido com método, técnica, estratégia ou tática para coletar dados. Yin (2010) afirma que “o método do estudo de caso permite que os investigadores retenham as características holísticas e significativas dos eventos da vida real” (YIN, 2010, p.23), tais como, por exemplo, o comportamento dos pequenos grupos, os processos organizacionais e administrativos, as relações internacionais e a maturação das indústrias.

Desta forma, com base nas indicações dos pesquisadores da estratégia como prática, a pesquisa terá caráter exploratório e qualitativo, delineada sob a forma de um estudo de caso.

Segundo Hair Jr. et al. (2005), as pesquisas exploratórias são orientadas para descoberta e recomendadas quando o pesquisador busca aprofundar os seus conhecimentos sobre o tema, sem a intenção de testar hipóteses.

Justificando a utilização de método qualitativo, Richardson et. al (1999), afirmam que a pesquisa qualitativa é a mais adequada para trabalhos que procuram descrever a complexidade de um determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos. Adicionalmente, é possível assinalar a afirmação de Sampieri, Collado e Lucio (2006) no sentido de que, os pesquisadores qualitativos empregam a literatura e a teoria de forma indutiva, e que as pesquisas qualitativas não requerem hipóteses definidas rigorosamente para começar o seu trabalho.

Quanto a sua temporalidade, a pesquisa foi do tipo corte transversal. Isto porque Yin (2010) defende que no estudo de caso, se deve preferir o dado contemporâneo ao histórico, principalmente por causa das principais fontes de dados, baseadas no presente e não no passado, como assinala:

O estudo de caso é preferido no exame dos eventos contemporâneos, mas quando os comportamentos relevantes não podem ser manipulados. O estudo de caso conta com muitas das mesmas técnicas que a pesquisa histórica, mas adiciona duas fontes de evidência geralmente não incluídas no repertório do historiador: observação direta dos eventos sendo estudados e entrevistas das pessoas envolvidas nos eventos. (YIN, 2010, p.32).

Em concordância com Yin (2010) está a afirmação de Gil (2009), que explica que embora o estudo de caso possa levar em consideração múltiplos condicionamentos históricos, o objetivo do estudo de caso é a percepção de um fenômeno cuja ocorrência se dá no momento em que se realiza a pesquisa.

Com objetivo de pormenorizar a utilidade e adequação do estudo de caso, Cassel e Symon (2004) defendem que os estudos de caso enfatizam a interpretação em contexto, buscam retratar a realidade de forma completa e profunda, usam uma variedade de fontes de informação e revelam experiências. No quesito de inferências, Yin (2010) complementa que as generalizações do estudo de caso são restritas a esfera da teoria e não dos resultados, quando elucida:

[...] os estudos de caso, como os experimentos, são generalizáveis às proposições teóricas e não às populações ou aos universos, Nesse sentido, o estudo de caso, como experimento, não representa uma “amostragem” e ao realizar o estudo de caso, sua meta será expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar frequências (generalização estatística). (YIN, 2010, p.35).

Quanto a sua profundidade, Cassel e Symon (2004) explicam que o estudo de caso trata-se de um tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho descritivo, onde o pesquisador busca conhecer uma situação ou realidade, para tanto, pode valer-se de uma grande variedade de instrumentos. No entanto, um estudo de caso não tem que ser meramente descritivo. Pode ter um profundo alcance analítico, pode interrogar a situação, pode confrontar a situação com outras já conhecidas e com as teorias existentes, ajudar a gerar novas teorias e novas questões para futura investigação.

Complementando a proposta de múltiplos instrumentos de Cassel e Symon (2004), Gil (2009) defende a utilização de diferentes técnicas de coleta de dados, conforme segue:

Para garantir a qualidade das informações obtidas no estudo de caso, requer-se a utilização de múltiplas fontes de evidência. Os dados obtidos com entrevistas, por exemplo, deverão ser contrastados com dados obtidos mediante observações ou análise de documentos. (GIL, 2009, p.7).

No mesmo sentido, Yin (2010) aborda que a investigação do estudo de caso enfrenta situação tecnicamente diferenciada, em que existirão muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados. Além disso, conta com múltiplas fontes de evidência, com os dados precisando convergir de maneira triangular, a fim de beneficiar-se do desenvolvimento anterior das proposições teóricas para orientar a coleta e a análise de dados.

Desta forma, verifica-se a indicação do uso de diferentes técnicas de coletas de dados, está ligada ao delineamento de pesquisa – estudo de caso e não necessariamente ao referencial teórico utilizado. A fim de obter alinhamento e consistência metodológica, em relação aos autores pesquisados para a construção do estudo de caso, sobretudo com Gil (2009) e Yin (2010), o presente trabalho realizou a pesquisa baseada nas três técnicas indicadas por Gil (2009).