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2 PONTO DE PARTIDA: UMA PASSAGEM POR DOCUMENTOS IMPORTANTES QUE NORTEIAM A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

4 METODOLOGIA – MEIO DO CAMINHO

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa está situada na área da Semântica do Discurso, pois explora o estudo de gênero de base funcionalista (MARTIN; ROSE, 2008; ROSE; MARTIN, 2012) amparados pelos recursos semântico-discursivos e léxico-gramaticais (MARTIN; ROSE, 2007, 2012) e pelos pressupostos da Linguística Sistêmico- Funcional (HALLIDAY, 1985; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004; 2014), pelos PCNEM (BRASIL, 1999) e pela Lei das Diretrizes e Bases e Educação de Jovens e Adultos (2007, 2008).

1. O trabalho que culminou com a elaboração desta tese constitui um cruzamento entre duas metodologias, ambas de cunho qualitativo. A primeira, que orientou o trabalho de base epistemológica, derivou de uma pesquisa ampla, de base bibliográfica, culminando com o trabalho articulado a outra descritiva de cunho qualitativo dedutivo e interpretativista dos

resultados obtidos na segunda perspectiva. Esta (a segunda) caracterizou- se por ser uma pesquisa-ação, isto porque o embasamento teórico obtido na primeira etapa serviu para a aplicação de um trabalho em uma classe real de alunos de uma turma de EJA. Desse modo, nosso percurso metodológico obedeceu às seguintes etapas: Trabalho de pesquisa bibliográfica sobre o aporte teórico do estudo com gêneros textuais conforme a abordagem sistêmico-funcional da chamada Escola de Sydney; 2. Trabalho de pesquisa-ação em que, a partir dos pressupostos pesquisados na primeira etapa, aplicamos o ciclo de aprendizagem preconizado pela pedagogia australiana com vistas à produção de autobiografias em uma turma de EJA;

3. Trabalho de descrição, dedução e interpretação dos resultados obtidos em cada uma das fases de aplicação do ciclo de aprendizagem e consequente cotejo do preconizado por Rose e Martin (2012) e a realidade da turma em que a pesquisa foi realizada.

De acordo com Alami, Desjeux e Grabuau-Moussaqui (2010, p.17), “as pesquisas qualitativas permitem apreender de forma mais refinada as diferenças entre o que os consumidores dizem, pensam e fazem”. As autoras afirmam que

[E]essencialmente, elas permitem revelar dimensões que não são diretamente visíveis mediante abordagens quantitativas, como a diversidade das práticas sociais, a mobilidade das fronteiras entre as etapas do ciclo de vida de acordo com as culturas ou segundo as gerações, os mecanismos estratégicos das relações de poder ou de cooperação entre atores, (...) (ALAMI; DESJEUX; GRABUAU-MOUSSAQUI., 2010, p. 19).

Já Motta-Roth (2001) afirma que, quanto à natureza da realidade de uma pesquisa, no método qualitativo, “há múltiplas construções da realidade” (p. 69). Quanto à validade interna, a “credibilidade é o teste para a realidade: engajamento prolongado, observação persistente e interpretação” (p. 69). Quanto à validade externa, no método qualitativo é a especificidade do contexto: “a possibilidade de se aplicar os resultados a outros contextos depende da similaridade entre eles. O julgamento da pesquisa se dá com base na descrição dos dados pelo pesquisador” (p. 69). Quanto ao grau de fidedignidade, no método qualitativo, “os resultados são confiáveis se as hipóteses por interpretação são testadas através de uma observação

continuada, revisão de colegas, checagem por parte dos sujeitos e auditoria da pesquisa” (p. 69).

Para Denzin e Lincoln (2006, p. 17), a pesquisa qualitativa “envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de materiais empíricos – estudo de caso, experiência pessoal; introspecção; histórias de vida; entrevista; artefatos (...) que descrevem momentos e significados rotineiros e problemáticos na vida dos indivíduos”.

Tendo em vista o universo apresentado pela amplitude de uma pesquisa qualitativa, optamos por realizar inicialmente uma investigação bibliográfica, a qual consiste, de acordo com Carvalho at al (2004), a pesquisa bibliográfica é o passo inicial na construção efetiva de uma investigação, pois após a escolha de um assunto a ser investigado é necessário fazer uma revisão bibliográfica do tema apontado com o objetivo de reunir informações e dados que servirão de base para o trabalho que será realizado.

Amaral (2007, p. 1) defende que a pesquisa bibliográfica é uma etapa fundamental em todo trabalho científico que influenciará todas as etapas de uma pesquisa, na medida em que der o embasamento teórico em que se baseará o trabalho. É um tipo de pesquisa que consiste no levantamento, seleção, fichamento e arquivamento de informações relacionadas à pesquisa.

Para a segunda etapa de nossa pesquisa – o trabalho de aplicação do ciclo de aprendizagem – consistiu em uma pesquisa-ação, o que, segundo Alami, Desjeux e Grabuau-Moussaqui, pode ser definida como

a pesquisa em que a validade e o valor dos resultados de pesquisa são testados por meio de processos colaborativos de geração e de aplicação do conhecimento do pesquisador profissional como insider em projetos de mudança social que visam a aumentar a imparcialidade, o bem-estar e a autodeterminação (ALAMI et al., 2010, p.100)

Motta-Roth, a partir de Cordeiro (1999), afirma que a pesquisa-ação oportuniza a participação dos integrantes da pesquisa na análise e interpretação dos dados. Por conta disso, a comunidade pesquisada pode colaborar na solução das adversidades encontradas. A autora afirma, ainda, que “embora esse método seja descrito por Carneiro como usado em Ciências Sociais, ele também é usado nas Ciências Humanas, como a Linguística” (2001, p. 70).

A pesquisa-ação é uma metodologia muito utilizada em projetos de pesquisa educacional. Consoante Tripp,

[A] a pesquisa-ação educacional é principalmente uma estratégia para o desenvolvimento de professores e pesquisadores de modo que eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e, em decorrência, o aprendizado de seus alunos (TRIPP, 2005, p. 445).

O autor considera relevante que se reconheça a pesquisa-ação como um dos inúmeros tipos de investigação-ação, que é um termo genérico para qualquer processo que siga um ciclo como planejar, implementar, descrever e avaliar uma mudança para a melhora de uma prática. Dessa forma, aumentando o aprendizado no correr do processo, tanto a respeito da prática quanto da própria investigação (TRIPP, 2005, p. 445 e 446).

Oliveira afirma que a “pesquisa-ação possibilita que o pesquisador intervenha dentro de uma problemática social, analisando-a e anunciando seu objetivo de forma a mobilizar os participantes, construindo novos saberes”. Com isso, a pesquisa-ação leva o docente a ter condições de refletir criticamente sobre suas ações.

Para que o trabalho com o ciclo de aprendizagem cumprisse todas as etapas que julgamos necessárias, passamos à execução de uma terceira, na qual realizamos um trabalho descritivo de cunho qualitativo dedutivo e interpretativista dos resultados obtidos até então. A pesquisa dedutiva é aquela em que o autor parte da observação de uma situação geral para explicar as características particulares de um objeto individual. Para Motta-Roth e Hendges (2010, p. 113), a pesquisa dedutiva “parte da teoria para os dados”, em que a partir da elaboração de perguntas e hipóteses buscamos evidências que respondam aos questionamentos feitos ou confirmem ou refutem as hipóteses elaboradas. Já a pesquisa interpretativista compreende o que o pesquisador propõe e as interpretações que ele traz para elas com o objetivo de entender o mundo do ponto de vista daqueles que o vivenciam. Denzin e Lincoln (2006) afirmam que toda a pesquisa é interpretativa, pois essa é regulada por crenças e emoções em relação ao mundo e a como este pode ser compreendido e estudado.

Uma vez apresentadas as etapas principais de nossa investigação, passamos agora ao detalhamento dos passos realizados em cada uma em particular.