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Apontada à trajetória da pesquisa, cabe caracterizar qual é o entendimento de pesquisa qualitativa e de estudo de caso.

As bases teóricas que sustentam o paradigma qualitativo (estrutural- funcionalista, fenomenológica e materialista dialética) na proposição de Triviños (1987), dificultam a definição de pesquisa qualitativa. Mas, não impedem sua caracterização desde que assegurada pelo referencial teórico, pela natureza, pela variação dos fenômenos que pretende investigar e pelas formas que assumem atos, atividades, significados, relações e situações conforme Lofland (1971) ou ainda se

contemplar, na indicação de Bogdan e Biklen (1994):

- o ambiente como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento- chave;

- a descrição cujo foco é a percepção de um fenômeno, um contexto (sua origem, relações, mudanças, conseqüências...);

- a preocupação com o processo, na tentativa identificar as forças decisivas e responsáveis pelo seu desenvolvimento;

- análise dos dados é construída indutivamente;

- o significado é essencial bem como suas raízes, causas e relações.

Para Minayo (1996) a pesquisa qualitativa compreende o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que não pode ser reduzido a simples operacionalização de variáveis. Demo (1987) alerta para um dos grandes problemas da metodologia de pesquisas qualitativas, a sua estruturação, quando ressalta a importância de se considerar, em um plano da pesquisa, que a realidade social é dinâmica.

Na abordagem qualitativa, conforme Lincoln e Guba (1985) apud Merriam (1998) o foco e o design não podem ser definidos a priori, emergem, por um processo de indução, do conhecimento do contexto, das múltiplas dimensões da realidade e da influência dos seus atores. Entretanto, Marshall e Rossman (1989) Milles e Hubberman (1984) argumentam que quando um pesquisador escolhe determinado campo, já o faz com objetivos e questões em mente, pressupondo o ambiente como sua fonte direta de dados, o contato direto com o ambiente e a situação que está sendo investigada.

Os dados coletados foram predominantemente descritivos, porque o estudo centrou-se no processo, significado e entendimento. Por isso, foram descritos pelo pesquisador: a caracterização das pessoas envolvidas, o processo, as atividades relevantes, os resultados de interesse e relevância para o propósito da investigação, a identificação de situações onde os fenômenos ocorreram para que se pudesse entendê-los e estudá-los, como também, o contexto e as circunstâncias particulares em que determinado objeto, pessoas, gestos e palavras encontravam-se inseridos.

Desse modo, além da atenção para captar detalhes, possíveis elementos da situação estudada, para dar suporte às descobertas do estudo, a sistematização do registro foi de fundamental importância. Questões aparentemente simples, como por exemplo a disposição em participar, denotaram evidências relevantes. Estes cuidados foram necessários, para desenvolver uma descrição logicamente defensável.

Em uma instituição, como no caso em estudo, a UNIVILLE, o envolvimento dos educadores, como interagem nas atividades propostas e desenvolvidas e como se manifestam face aos processos de avaliação e adaptação estratégica dificilmente podem ser mensuráveis mas, ricamente, descritos.

O significado que as pessoas têm na instituição, em estudo, e a visão do processo foram focos de atenção, especialmente, o significado das pessoas que construíram e vivenciaram o processo, de como deram sentido ao seu fazer e às experiências decorrentes, como trabalham, isoladamente ou em conjunto, para formar o todo.

Este estudo de caso, na UNIVILLE, representa uma tentativa de capturar a perspectiva dos participantes e expressa diretamente a preocupação com a “experiência vivida, sentida ou padecida”. O significado está implícito nas vivências e

experiências dos sujeitos. Vem à tona e é explicitado face à mediação da percepção do investigador. Por isso, ao considerar os diferentes pontos de vista dos participantes, isto é, a maneira como captaram as questões que estavam sendo colocadas, o pesquisador esteve atento à acuidade de suas percepções discutindo- as abertamente com os participantes para checá-las ou confrontá-las.

Justifica-se a opção pela abordagem qualitativa porque vislumbrou-se, desta forma, a possibilidade de desvelar a natureza e a abrangência de uma IES, no caso a UNIVILLE, como também penetrar nos seus diversos níveis de complexidade, sem perder de vista a unicidade, garantindo:

- a atenção aos elementos que emergem do estudo realizado;

- a interpretação do contexto onde se produzem, as ações, as percepções, os comportamentos e as interações;

- a busca de relações;

- a interconexão das particularidades existentes.

Dentre os delineamentos do paradigma qualitativo, anunciado anteriormente, o mais pertinente ao propósito desta investigação foi o estudo de caso.

Rauen (2002) explicita que caracteriza-se um estudo de caso quando se analisa algo que encerra valor em si mesmo, cujo alvo seria o que há de único, singular, distinto e que causa interesse próprio.

Merriam (1998) define estudo de caso como “uma intensa descrição holística e análise de um exemplo único, fenômeno ou unidade social”.

Na definição do estudo de caso como estratégia para a pesquisa em ciências sociais, os autores deste campo de conhecimento fazem distinção entre as diversas modalidades. A essência da diferenciação reside no fenômeno, na situação ou no

"caso", foco da investigação. São categorizados como casos múltiplos ou casos únicos e dentre estes, casos observacionais, histórias de vida e casos histórico - organizacionais. Pode-se, ainda, acrescentar os estudos denominados de microetnográficos e, especificamente nas organizações, a análise situacional.

Na decisão pelo estudo de um caso único, foram considerados os fundamentos apresentados por Yin (2001). Primeiro, o valor da contribuição à base de conhecimento, já existente, bem como, o redirecionamento de investigações futuras, especialmente, no campo organizacional. Segundo, a singularidade da instituição, contexto da investigação. Terceiro, a natureza reveladora das informações descritivas estimulando novas pesquisas, na área e, a possibilidade de desenvolvimento de políticas de ação.

Embora este estudo de caso, isto é, o estudo do caso UNIVILLE esteja em uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade, estudar um caso conforme Triviños (1987), não significa abordá-lo apenas em função de sua unidade e relações internas, ao contrário, deve-se considerá-lo como parte de uma totalidade social da qual a unidade estabelece formas determinadas de relacionamento. Cita, este autor como exemplo, de estudos de caso desta natureza, a universidade.

Os estudos de caso têm lugar de destaque na pesquisa em instituições educacionais, segundo o mesmo autor, pela compatibilidade da característica descritiva. No entanto, cabe ressaltar que, o estudo de caso UNIVILLE mesmo que denominado como um estudo de caso único, não deve ser encarado como um estudo completo. Representa um esforço para entender situações únicas como parte de um contexto particular.

Como justificativa adicional, considerando a implicação do sujeito pesquisador no processo, os resultados do estudo face ao conhecimento existente, ao exame de

documentos produzidos referentes ao foco da investigação, bem como os processos decorrentes na vida da instituição, pode-se ainda caracterizar, este estudo de caso, como um estudo de caso histórico-organizacional (TRIVIÑOS,1987, p134). No enfoque sistêmico, a universidade é concebida como uma organização. A arquitetura de uma organização é produto da história e da complexa forma de sua atuação. Quando se estuda uma instituição é impossível deixar de referenciar a sua estrutura, os processos constitutivos do modelo, as relações internas e externas, as finalidades, isto é, "a criação de oportunidades para a ação " (NADLER, 1993, p 6).

Nesta trajetória, é pertinente referenciar Bardin (1979), cuja teorização subsidiou o processo de análise e interpretação de dados.