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1. Resultados referentes aos professores

1.2. Caracterização das ações dos professores no contexto das aulas de Educação Física

Em relação ao contexto da aula, a Tabela 5 apresenta os resultados antes da aplicação do programa de intervenção. Mais da metade do tempo de aula da escola experimental foi passado em instrução, seguindo de um quarto do tempo de aula em organização. Se somarmos, esses comportamentos perfazem mais de 80% do tempo, o que demonstra claramente possíveis problemas na gestão do tempo de aula e, logicamente, um reduzido tempo potencial de aprendizagem para os alunos, o que corrobora os valores apresentados para os comportamentos dos alunos. Para a escola controle, os episódios de organização consumiram 39,9% do tempo de aula, seguido de 35,1% em instrução geral. Salientamos ainda que 8,6% do tempo foi dedicado a outros comportamentos, o que sugere possivelmente a existência de comportamentos que não foram devidamente antecipados no plano de aula. Observamos que os alunos utilizavam o tempo que deveria ser da aula, para organização de seus objetos pessoais, usar o banheiro, hidratar-se e deslocamento ao ginásio (nas duas escolas o percurso sala/ginásio é de aproximadamente 30 m). No caminho havia dispersão por indisciplina. Chegando ao ginásio, o professor deixava os alunos e ia à busca dos materiais a serem utilizados na aula. Antes de iniciar, os professores ainda resolviam problemas de alunos que não queriam participar por diversos motivos (e.g., doença, motivação, não gostar das atividades, não querer suar e voltar à sala, ausência de vestiários para banho, opção por ficar nas arquibancadas utilizando celulares e conversando). Em ambas as escolas identificamos um baixo tempo dedicado à promoção da aptidão física, se compararmos com o tempo utilizado para instrução, organização e observação.

Tabela 5. Comportamento do professor nas aulas de Educação Física antes da aplicação do programa de intervenção.

Categoria

Escola experimental Escola controle

P1 P2 Média P3 P4 Média

Demonstração 3,2 2,8 3,0 0,4 3,1 1,8

Instrução geral 43,6 66,9 55,3 31 39,1 35,1

Organização 31,9 18,1 25,0 44,7 35,1 39,9

Observação 9,7 11,3 10,5 17,3 9,3 13,3

Promoção da aptidão física 7,5 0,9 4,2 1,6 1,2 1,4

Outros comportamentos 4,1 0 2,1 5 12,2 8,6

Após a realização do programa de intervenção, os resultados do comportamento do professor tomou uma nova configuração. Para a escola experimental houve uma redução do tempo de instrução, passando de 55,3% para 36,9%, havendo valor semelhante entre os professores. Também se registrou uma breve redução no tempo de organização (23,7%) e aumento no tempo de demonstração, sendo mais acentuada no P2. A promoção da aptidão física apresentou pouca alteração. O tempo que os professores dedicaram à observação foi de 18,5% da aula. Os outros comportamentos tiveram um aumento de 2,1% para 10,8%, o que demonstra, tal como foi referido anteriormente, possíveis comportamentos não antecipados no plano de aula. Nas aulas da escola controle, os comportamentos mais comuns dos professores foram dedicados à instrução geral (39,6%), organização (31,7%) e observação (20,4%). Não houve registro de qualquer comportamento dedicado à promoção da aptidão física.

Tabela 6. Comportamento do professor nas aulas de Educação Física após a aplicação do programa de intervenção.

Categoria

Escola experimental Escola controle

P1 P2 Média P3 P4 Média

Demonstração 3,9 8,0 6,0 0,8 0 0,4

Instrução geral 37,2 36,6 36,9 31 48,2 39,6

Organização 27,8 19,5 23,7 41,7 21,7 31,7

Observação 18,3 18,7 18,5 18,9 21,9 20,4

Promoção da aptidão física 4,1 4,4 4,3 0 0 0,0 Outros comportamentos 8,7 12,8 10,8 7,6 8,2 7,9

Comparando os resultados das Tabelas 5 e 6 ressalta-se uma melhoria de indicadores de qualidade por parte dos professores da escola experimental, com um descréscimo na instrução geral e na observação, e uma valorização da promoção da aptidão física comparados aos professores da escola controle. Estes resultados poderão

ser explicados pela ação do programa experimental, já que o grupo controle é placebo, não variando os resultados do pré-teste e do pós-teste.

No entanto, há uma insuficiência que detectamos: os professores em maioria não participam com frequência em cursos de atualização. Na comunicação com as turmas existia interesse de uma parte dos professores (P1 e P4) na interação com os alunos, orientando-os para além dos conteúdos ministrados. Todos os professores investigados demonstraram desconhecer a relação da imagem corporal com a Educação Física, mesmo assim reconheceram a importância da abordagem da imagem corporal. Importa afirmar que encontramos na planificação anual da escola experimental o conteúdo relacionado ao corpo e aos padrões culturais de beleza. No entanto, nas rotinas que presenciamos por ocasião da aplicação experimental do estudo, revelou-se o que também se manifesta no desenvolvimento das aulas, a não efetivação do plano em texto na prática.

O status da Educação Física nas escolas pesquisadas recebe influência do compromisso e da capacidade motivacional dos professores, sendo evidente na diferença do envolvimento dos alunos com a disciplina. A escola experimental segue o plano anual de conteúdos, mas a estratégia aplicada é pouco dinâmica, o que leva os alunos a uma baixa participação. A escola controle não segue o programa de conteúdos pré-estabelecido no projeto pedagógico, o que torna as aulas um momento de recreação e de improvisação, faltando continuidade e progressão no ensino. Mesmo assim, há uma boa participação dos alunos, pois se utilizam bastante de jogos e brincadeiras.

Os professores demonstraram em maioria tanto no pré como no pós-aula, ter preocupações práticas de impacto (62,5%) e tomar suas decisões de ensino com base no planejamento (75%). No que se refere às ações dos professores no contexto da aula, antes da aplicação do programa de intervenção, a maior parte da aula na escola experimental (80%) era dedicada a organização e instrução, o mesmo ocorrendo com a escola controle (75,4%), restando pouco tempo para a aprendizagem dos alunos. Após a aplicação do programa de intervenção, a escola experimental apresentou uma diminuição significativa no tempo dedicado a organização e instrução (80% vs. 60,6%), enquanto que na escola controle não houve grande variação (75,4 % vs. 71,3%). Identificamos neste aspecto uma clara dificuldade na gestão do tempo de aula por parte dos professores, onde a aprendizagem dos conteúdos, que deveria ser prioridade, parece assumir papel secundário sendo pouco tempo dedicado a essa finalidade. No referente ao contexto da aula, antes do programa de intervenção tivemos tanto na escola

experimental como na escola controle a maior parte do tempo de aula dedicado a instrução e organização, indicando possível existência de problemas com a gestão do tempo, incidindo sobre o ensino e aprendizagem dos alunos e a pouca atenção dedicada a aptidão física. Após o programa de intervenção a escola experimental apresenta redução acentuada do tempo para a instrução, havendo também diminuição do tempo de organização. A escola controle permaneceu próxima dos resultados apresentados antes do programa de intervenção e desta feita sem nenhuma alusão ao comportamento relacionado à aptidão física. Assim, podemos concluir que o programa experimental teve efeitos positivos, dado que a escola experimental teve melhorias em indicadores de eficácia, enquanto que a escola controle permaneceu com os mesmos valores iniciais, provando o efeito placebo.