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Capítulo 2. A Instituição prisão e seus reflexos

2.3. Caracterização das prisões

Para efeito didático é importante mencionar a diferença entre sistema carcerário e sistema penitenciário. De acordo com a Lei de Execução Penal (LEP), é correto afirmar que o sistema penitenciário corresponde aos locais onde os presos já condenados cumprem sua pena, seja no regime fechado, semi-aberto e/ou medida de segurança. Já o sistema carcerário compreende as delegacias e cadeias públicas que mantém sob custódia aqueles que aguardam o julgamento e a condenação.

Os Estados se organizam em conformidade com a lei. O sistema carcerário é administrado pela Secretaria de Estado e Segurança Pública. Enquanto que o Sistema Penitenciário é administrado pela Secretaria de Administração Penitenciária. Sendo São Paulo, o primeiro Estado da federação a criar uma Secretaria para cuidar dos assuntos penitenciários. Vale dizer, que será considerado neste trabalho o sistema penitenciário, pois o foco desta pesquisa está nos presos condenados.

A realidade carcerária no país tem se apresentado complexa e de difícil solução. O número de pessoas encarceradas tem aumentado vertiginosamente. De acordo com os dados consolidados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) de dezembro de 2009, estima-se que o número de presos se aproxima aos 480 mil, incluindo- se presos do sistema penitenciário e os da segurança pública. Dados da Relatoria Nacional Para o Direito Humano À Educação, “do total da população encarcerada, 43% são

encarcerados (as) provisórios (as), aguardando em cadeias públicas ou penitenciárias o julgamento e a definição de suas penas” (CARREIRA, 2009. P.18), ou seja, em meio a

essa multidão de encarcerados, misturam-se os presos condenados com os que ainda aguardam condenação.

Ocorre que por força de lei14 o indivíduo condenado e sob custódia do Estado deveria estar separado daquele que aguarda o julgamento. Tendo em vista que a pena privativa de liberdade tem por finalidade punir sob a premissa de recuperar o indivíduo que tenha sido julgado pelo crime cometido - o que por sua vez é plenamente contestável por uma série de razões - mas o que se apresenta nas carceragens de todo o país é um depósito de gente amontoada, vivendo indistintamente no limite de suas forças e sem nenhuma

condição digna de vida e nem garantias de sobrevivência (CPI DO SISTEMA CARCERÁRIO, 2008).

As justificativas para esse caos se amparam na alegação por parte das autoridades na falta de vagas e de recursos para ampliação do sistema carcerário e penal, somando-se a isso, tem-se com a morosidade da justiça nos julgamentos dos processos, fazendo com que pessoas não julgadas, cumpra uma amarga sentença.

Não obstante a toda essa problemática, as prisões tem-se apresentado cada vez mais como um espaço de violência e de total desrespeito aos direitos humanos de presas e presos.

É notório os problemas que este sistema enfrenta e que também provoca. A superlotação por si só desencadeia uma série de agravantes à pessoa do apenado, como falta de higiene, violência física e psicológica, a falta de atendimento médico, jurídico e social, dentre tantos outros. Tais ausências acabam por eclodir acessos de violências através de rebeliões, provocando repúdio na opinião pública.

No entanto, tais ações demonstram muitas vezes – de forma trágica e violenta – o inconformismo com a desumanização desse sistema, que deveria, por finalidade, garantir o cumprimento da pena privativa de liberdade, sem suprimir os demais direitos garantidos em Lei.

De acordo com os dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), em dezembro de 2009 a população reclusa no Sistema Penitenciário brasileiro era de 417.112 pessoas. Número bastante significativo, se comparado ao mesmo mês do ano de 2007, que se somava a 366.576 pessoas. Observa-se um aumento de mais de 40 mil presos num período de dois anos.

Com base na mesma fonte, em dezembro de 2007, o Estado de São Paulo aparece liderando o ranking de aprisionamentos. O número de presos e presas é de 163.915, sendo 154.515, apenas no sistema penitenciário. Outro dado alarmante corresponde ao número de vagas disponíveis que é de 95.585. Apontando um déficit de mais de 46 mil vagas. Esse fator explica o caos da superpopulação nos presídios do país, sobretudo em São Paulo. O sociólogo Loïc Wacquant (2001) assim descreve esse cenário:

[...] E o estado apavorante das prisões do país, que se parecem mais com

depósito industrial dos dejetos sociais, do que com instituição judiciária servindo para alguma função penalógica – dissuasão, neutralização ou reinserção [...] entupimento estarrecedor dos estabelecimentos, o que se traduz por condições de vida e de higiene abomináveis, caracterizados pela falta de espaço, ar luz e alimentação [...]. (p.11, grifos do autor).

De acordo com a CPI do Sistema Carcerário (2008), em várias prisões de 18 Estados brasileiros, somado aos inúmeros problemas encontrados, a superpopulação carcerária agrava a situação do sistema, pois as condições básicas de sobrevivência de presos e presas, não estão sendo garantidas nos estabelecimentos penais. Os presos e presas são expostos a toda sorte de doenças, violência, péssimas condições de higiene e saúde e de falta de respeito à sua integridade física e moral dos seres humanos apenados.

Tal situação tende ainda a piorar, visto que o aumento da criminalidade, sobretudo nos grandes centros urbanos, vem, por conseguinte, aumentando o índice de aprisionamento. Por sua vez, os investimentos na construção de novas unidades prisionais não crescem na mesma proporção que os encarceramentos, tornando caótica a situação das prisões.

Entretanto, vale ressaltar que a solução para tal problema não estaria apenas na construção de mais presídios, pois isso não resolveria o problema de fato, tendo em vista que esta seria, em linhas gerais, um reforço da política de encarceramento, caracterizada pela presença do Estado policialesco, ou seja, encarcerar seria a solução encontrada para as questões sociais, mas ao contrário, deflagraria um problema social ainda maior (THOMPSON, 1976).