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4. CONTEXTUALIZAÇÃO DO CASO

4.1. Caracterização do ambiente de aplicação da pesquisa

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O processo de emissão de diplomas de pós-graduação stricto sensu, objeto do presente estudo de caso, é gerenciado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação (ProPG) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A UFSCar é uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES), constituída como fundação de direito público (UFSCAR, 2007), que foi criada em 22 de maio de 1968, pelo Decreto nº 62.758, tendo iniciado, efetivamente, suas atividades em 1970 (UFSCAR, 2017b). Além do campus sede, localizado em São Carlos no estado de São Paulo, a Universidade possui mais três campi universitários, localizados nos municípios paulistas de Araras, Sorocaba e Lagoa do Sino, pelos quais toda sua estrutura está distribuída, somando um total de 285.800 m² construídos (UFSCAR, 2017b). A ProPG se localiza no campus sede e não dispõe de dependências nos outros campi, dos quais apenas Lagoa do Sino ainda não possui programas de pós-graduação stricto sensu.

A missão organizacional da UFSCar, declarada em seu Plano de Desenvolvimento Institucional 2013-2017, consiste no seguinte:

A missão desta universidade pública está associada às suas atividades-fim: o ensino, a pesquisa e a extensão. São estes três grandes focos de atividades que, de forma indissociada, dão concretude à missão desta universidade de ensinar, pesquisar, produzir e tornar acessível o conhecimento. Em síntese, a missão da UFSCar envolve tanto a formação, a pesquisa, bem como a interação com os diferentes segmentos da sociedade para o compartilhamento e (re)construção do conhecimento (UFSCAR, 2013a, p. 7).

A ProPG, conforme missão setorial, declarada em seu site oficial – http://www.propg.ufscar.br/pro-reitoria –, tem, dentro da UFSCar, as atribuições de planejar, coordenar e fiscalizar as atividades acadêmicas no âmbito da Pós-Graduação stricto sensu, objetivando o cumprimento das normas regimentais, em conformidade com o Conselho de Pós-Graduação (CoPG) – um dos órgãos deliberativos da universidade, cujo nível de atuação é específico aos assuntos relativos à Pós-Graduação stricto sensu (UFSCAR, 2007). O CoPG é formado, pelo pró-reitor de pós-graduação (que o preside) pelos coordenadores de todos os programas de pós-graduação stricto sensu, por representantes dos alunos de mestrado e doutorado, por representantes dos técnicos administrativos e por representantes dos centros (UFSCAR, 2016). A Figura 13 apresenta o organograma da UFSCar, na qual é possível localizar a ProPG e a Figura 14, o organograma da ProPG especificamente:

84 Figura 13 - Organograma da UFSCar

85 Figura 14 - Organograma da ProPG - UFSCar

Fonte: Retirado do relatório de atividades UFSCar 2017 (UFSCAR, 2018b, p. 83)

Observa-se nos organogramas (Figura 13Figura 14) a vinculação da ProPG ao CoPG – Conselho de Pós-Graduação da UFSCar. O CoPG, por meio do Regimento Geral dos Programas de Pós-Graduação da UFSCar, é o órgão colegiado responsável por fixar as normas internas que devem ser observadas no âmbito das atividades de ensino de pós- graduação stricto sensu (UFSCAR, 2007) e a partir das quais os Programas de Pós-Graduação stricto sensu (PPG) devem definir suas normas internas. Cada PPG possui sua própria coordenação – coordenador, vice-coordenador e comissão de pós-graduação (CPG), formada por representantes docentes e discentes do programa (UFSCAR, 2013b) – e sua própria secretaria, responsável, em suma, pelo atendimento diário ao público e diversas providências administrativas internas, necessárias ao funcionamento dos programas. Cada PPG se vincula, hierárquica e administrativamente, a um dos centros da universidade, que podem ser visualizados na base da Figura 13. Por meio da Figura 15 demonstra-se a relação existente entre a PROPG e os PPGs, e a inserção dos PPGs na estrutura organizacional da UFSCar.

86 Figura 15 - Relação da ProPG com os PPGs, dentro da estrutura organizacional da UFSCar

FONTE: Elaborado pela autora, com base em UFSCar (2007, 2013a e 2013b).

Nos últimos dez anos, devido a política de expansão na oferta de vagas do ensino superior, promovida pelo governo federal brasileiro a partir de meados dos anos 2000 (MARQUES; CEPÊDA, 2012), a UFSCar ampliou consideravelmente a oferta de seus serviços. Entretanto, conforme os dados apresentados pela Tabela 3, o aumento significativo da oferta de seus serviços não foi acompanhado de acréscimo compatível em seu quadro de servidores, o que significa oferecer mais serviços para mais alunos sem incremento correspondente na estrutura que suporta a oferta desses serviços. Segundo nota da Reitoria da universidade, em dezembro de 2015 o Ministério da Educação reconhecia um déficit de 386 servidores técnico-administrativos (UFSCAR, 2015).

87 Tabela 3 - Comparação entre a oferta de serviços e a estrutura da UFSCar (2006 - 2017)

Fonte: Elaborada pela autora, com base nos relatórios anuais de atividade da UFSCar (UFSCAR, 2008, 2018a).

Essa expansão se refletiu em aumento do número de programas de pós- graduação stricto sensu, significando, consequentemente, aumento da oferta de cursos e vagas de pós-graduação stricto sensu, sendo a evolução dessa expansão apresentada pela Figura 16.

Figura 16 - Evolução da oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu e criação de programas pela UFSCar

FONTE: Elaborado pela autora com base nos dados disponíveis no relatório anual de atividade 2017 (UFSCAR, 2018b), para os anos de 2008 a 2017. Para o ano de 2006 e 2007, foram utilizados os dados disponíveis no relatório de atividades 2007 (UFSCAR, 2008), relativos à quantidade de cursos de mestrado e doutorado, e indicadores publicados no site da ProPG/UFSCar, acessados em maio de 2018, relativos a quantidade de programas de pós-graduação stricto sensu existentes.

Conforme demonstrado pela Tabela 3, embora a quantidade de alunos de graduação e pós-graduação stricto sensu atendidos pela UFSCar entre 2006 e 2017 (7.814 e 17.670 alunos respectivamente) tenha aumentado 126%, o aumento no efetivo de técnicos

2006 2017 Variação (%) Alunos 5.980 12.957 116,67 Cursos 34 67 97,06 Alunos 1.834 4.713 156,98 Cursos 37 82 121,62 705 1.256 78,16 736 1.000 35,87 Oferta de Serviços Capacidade estrutural Graduação Pós-Graduação Stricto Sensu Docentes Técnicos-Administrativos

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administrativos ficou muito aquém, sendo de apenas 35,87%. A quantidade de PPGs, entre 2006 e 2017 (21 e 51 PPG respectivamente), aumentou 143%, conforme pode-se observar pela Figura 16. Um dos resultados dessa desproporcionalidade entre o aumento da oferta e o incremento da estrutura administrativa, no âmbito da pós-graduação stricto sensu, é que, em abril de 2018, 19% dos programas não contavam com servidores técnicos administrativos lotados em suas secretarias; 63% contavam com apenas um servidor e 11% contavam com dois (UFSCAR, 2018a). Quatro PPGs (7%) possuíam um servidor técnico administrativo secretariando dois programas: o profissional em química e o acadêmico em química (mestrado e doutorado) – que, no sistema Sucupira da Capes, são relatados como dois programas distintos – dividiam o mesmo secretário, assim como acontecia com o profissional e o acadêmico em filosofia (mestrado e doutorado). A Figura 17 mostra a situação da lotação de servidores técnicos administrativos nas secretarias de Pós-Graduação stricto sensu.

Figura 17 - Situação da lotação de servidores técnicos administrativos nas secretarias dos PPGs da UFSCar

FONTE: Elaborado pela autora com base nos dados apresentados por UFSCar (2018b).

Essa escassez de pessoal atinge também a ProPG, que, em abril de 2018, contava com apenas quatro servidores técnicos administrativos lotados, apresentando o menor quadro dentre todas as outras Pró-Reitorias da universidade (UFSCAR, 2018a): a Pró-Reitoria de Pesquisa (ProPq) contava com cinco servidores técnico-administrativos lotados; a Pró- Reitoria de Extensão (ProEx), com 15; a Pró-Reitoria de Graduação (ProGrad), com 36; a Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (ProACE), com 38; a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (ProGPe), com 38; e a Pró-Reitoria de Administração (ProAd), com 77

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(UFSCAR, 2018a). Além disso, com exceção da ProPq e da ProPG, todas as outras pró- reitorias dispõem de unidades estendidas além do campus sede. A Figura 18 sintetiza a quantidade de servidores técnico-administrativos lotados em cada uma das pró-reitorias da UFSCar, em abril de 2018.

Figura 18 - Quantidade de servidores técnico-administrativos por pró-reitoria (UFSCar)

FONTE: Elaborado pela autora com base nos dados apresentados por UFSCar (2018b).

Com relação ao processo de emissão de diploma de pós-graduação stricto sensu, a expansão vivenciada pela organização estudada resultou, de maneira específica, em aumento na quantidade de diplomas emitidos pela ProPG. De acordo com registros internos da ProPG, em 2006 a ProPG emitiu cerca de 676 diplomas, quantidade que, em 2017, chegou a 1121 diplomas, ou seja, houve um aumento de 65% na quantidade de diplomas emitidos no período.

A emissão de diploma possui relação direta com a missão da organização estudada. As Instituições de Ensino Superior (IES), como a UFSCar, atuam, de modo geral, na oferta de serviços na área de educação – ensino, pesquisa e extensão –, de modo que os alunos, enquanto os principais usuários de seus serviços, correspondem aos clientes desse tipo de organização. Sendo a formação de alunos um dos produtos das IES – talvez, de um ponto de vista estritamente utilitarista, o principal –, o diploma é o principal símbolo material da prestação de serviços educacionais e, portanto, do cumprimento da missão de organizações atuantes na área de educação. Desse modo, o processo de emissão de diploma, cujo produto é

4 5 15 36 38 38 77 ProPG ProPq ProEX ProGrad ProACE ProGPe ProAd

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ofertado diretamente aos “alunos-clientes”, corresponde a um dos processos de negócio das IES. Não obstante, o processo de emissão de diplomas de pós-graduação stricto sensu da UFSCar não se encontrava explicitamente documentado e padronizado, quando do início da presente pesquisa.