• Nenhum resultado encontrado

2.2 O AMBIENTE OPERACIONAL DE SELVA

2.2.2 Caracterização do ambiente operacional amazônico

"Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados de conquistá-la e mantê-la”. A frase do General Rodrigo Otávio faz sábia intersecção entre o passado e o presente daqueles que dedicam suas vidas ao desenvolvimento e manutenção da soberania nacional na Amazônia. O elo comum aos períodos a que faz referência o líder de outrora consiste, justamente, nas agruras típicas de um ambiente operacional totalmente alheio ao que está acostumado o homem ocidental. E somada à aspereza nociva para os não íntimos desse bioma extraordinário, infelizmente, o Brasil ainda debruça

seus esforços contra ameaças internacionais disfarçadas de bom-mocismo, caracterizados pela cobiça por recursos naturais tão caros ao planeta.

A visão ambientalista, atualmente associada aos anseios de garantir a integridade da biosfera e a uma postura não-predatória em relação ao ambiente, favorece a percepção da Amazônia enquanto patrimônio de interesse mundial, aguçando o pressuposto de que a floresta é o “pulmão do mundo” e reforçando o credo de que a Amazônia brasileira é uma reserva única da biosfera terrestre e, ainda, que sua possível violação traria consequências irreversíveis ao aquecimento global e ao “efeito estufa”. Sob esse manto, fica a ideia de que a preservação da Amazônia está, supostamente e segundo uma relação de causa e efeito, vinculada à preservação da sobrevida em todo o planeta Terra (MENDES e MELO, 2010). 2.2.2.2 Aspectos fisiográficos

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a região da Amazônia Legal possui uma superfície aproximada de 5.217.423 km², correspondente a cerca de 61% do território brasileiro, e é composta pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Mato Grosso, bem como pelos municípios do estado do Maranhão situados ao oeste do Meridiano 44º. Assim sendo, infere-se que um terço da área continental coberta por florestas tropicais no mundo esteja sob posse do Brasil.

Dentre a variedade de recursos naturais disponíveis, destaca-se a riqueza geológica, que possivelmente é o maior chamariz para a cobiça internacional, conforme apontaram as Instruções Provisórias 72-1 (1997) e também a pesquisa de López (2000), cuja tese descreve que uma suposta crise social e degradação ambiental na Amazônia justificaria a criação de um regime de segurança regional. 2.2.2.3 Vegetação

O domínio morfoclimático amazônico foi descrito por Silva, Olic e Lozano

(2013) como “um mosaico de formações florestais que se estende também pelos

territórios da Guiana Francesa, do Suriname, da Venezuela, do Peru, da Bolívia, da Colômbia e do Equador”.

A também chamada hileia tropical latifoliada úmida é, ao lado da hidrografia, uma das peculiaridades mais latentes da Amazônia. Os seus tipos de vegetação mais dominantes são (ver figura 22): floresta ombrófila densa (mais predominante), floresta ombrófila aberta, floresta ombrófila mista, savana e campinarana (BRASIL, 2006).

Figura 22 - Bioma da Amazônia Fonte: BRASIL, 2006

Nas matas de terra firme (80% do domínio), encontramos exemplares com mais de 60 metros de altura. Por outro lado, nas áreas de alagadiço, encontram-se as matas de igapó e de várzea, formadas por plantas aquáticas e árvores de até 20 metros, bem como arbustos, cipós e trepadeiras. Cerrado e campo também podem ser encontrados na Amazônia (SILVA; OLIC; LOZANO, 2013), como no caso dos chamados “lavrados” no norte do estado de Roraima.

A floresta de terra firme pode ser primária ou secundária. A primeira é

constituída por inúmeras “espécies de árvores, trepadeiras e outros vegetais,

dispostos em camadas de diferentes alturas (de 30 m a 40 m), com troncos lisos e diâmetro variando entorno de 1 m. Seu interior é permeável ao movimento de tropas a pé (BRASIL, 1997, p. 2-2). A segunda, constitui-se em densa mistura de moitas, trepadeiras e espinheiros, normalmente próximas a áreas urbanizadas, dificultando demasiadamente o deslocamento do homem a pé (BRASIL, 1997).

2.2.2.4 Hidrografia

Localiza-se na região amazônica a bacia hidrográfica do rio Solimões/Amazonas, considerada a maior do mundo (BRASIL, 1997). Limitada pelo planalto guianense ao Norte, pelo planalto central brasileiro ao sul, pelos Andes a oeste e pelo Oceano Atlântico a leste, esta bacia representa 12% da água doce do mundo. Apesar de, segundo a Agência Nacional de Águas (2018), a distribuição hídrica brasileira ser desigual, devido à maior concentração e demanda na faixa leste do país, a bacia em tela e seus inúmeros rios tributários garante vasta rede natural apta ao transporte fluvial (BRASIL, 2006). Para Oliveira (2015), “a extensão navegável dessa região chega a 18.300 km e corresponde praticamente a 65% de toda rede hidrográfica brasileira”. Por conseguinte, os rios, igarapés, paranás, furos e lagos são de vital importância à população amazônida que, ao longo dos anos, se instalou à beira dos cursos d’água navegáveis, garantindo a logística que abastece as localidades ribeirinhas as quais, não raro, não permitem acesso pelo modal terrestre (ALVIM, 2019). O modal fluvial acaba superando o aéreo, pelo baixo custo e maior capacidade de transporte. Nesse sentido, nota-se que muitos rios tem papel importante na estruturação do povoamento, permitindo a integração e até o comércio com países limítrofes. Por outro lado, a grande desvantagem desse modal é a sua vinculação ao regime hídrico que o torna, por vezes, inviável e impossibilita completamente a navegação, conforme descrito a seguir.

2.2.2.5 Regime Hídrico

O Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (2020) assim definiu regime hídrico: “conjunto das variações do estado e das características de

uma massa de água que se repetem regularmente no tempo e no espaço, incluindo as variações cíclicas, por exemplo as sazonais”. O entendimento desse fenômeno natural é peça fundamental para o planejamento e condução das operações na Amazônia, tendo em vista o efeito causado não apenas à navegabilidade dos rios, mas também à trafegabilidade das estradas e chamados ramais, o que acaba por incluir nesse conjunto de danos as pistas de pouso de chão batido (ou piçarra) (ALVIM, 2019). Tal fenômeno rende à Amazônia uma síntese climática comum, onde “as estações do ano são reduzidas a duas: a estação das chuvas ou inverno - de outubro a abril - com índice pluviométrico elevado, e a estação seca ou verão - de maio a setembro - com chuvas esporádicas” (BRASIL, 1997). Por fim, incluem-se no rol de fenômenos atinentes aos recursos hídricos as precipitações pluviométricas, especialmente quando ligadas a um baixo teto de cobertura de nuvens, que acaba por limitar a visibilidade horizontal e impedir o voo de helicópteros, os quais apresentam “relativa dependência das condições meteorológicas e climáticas (BRASIL, 2000).”

2.2.2.6 Aspectos Psicossociais

A região amazônica possui enormes vazios ecumênicos. As pessoas tendem a se concentrar nas capitais estaduais e ao longo dos grandes rios e rodovias, deixando as fronteiras demasiadamente vulneráveis e de difícil controle de ações criminosas das forças adversas (BRASIL, 1997). Além disso, os índices de desenvolvimento apontam para uma alta taxa de mortalidade infantil, baixa expectativa de vida e insalubres condições de saúde da população. Entre as doenças endêmicas transmissíveis, figuram com destaque a malária, a tuberculose, a leishmaniose e a lepra. Outra vulnerabilidade é a educação, onde verificam-se os seguintes problemas principais: a dispersão populacional que, relacionada à inacessibilidade de locais de moradia, conduzem a altas taxas de evasão e baixa frequência. Soma-se, ainda, um elevado número de professores por vezes despreparados que contribuem, principalmente no ensino fundamental, para um ensino de baixa qualidade (SANTOS FILHO, 2012).

A despeito das riquezas naturais já anteriormente elencadas, a Amazônia ainda possui deficitária estrutura econômica, limitando as possibilidades de exploração desses recursos durante operações militares. Dentre eles, faz-se ponderoso ressaltar os abastados recursos hídricos e até o fato de que, segundo projeções, a água doce do mundo se tornaria escassa na metade do século XXI (BRASIL, 1997).

O transporte fluvial é o que mais predomina. As capitais dos estados dispõem de aeroportos de nível até internacional, sendo que há também cidades nos interiores servidas de aeroportos com linhas aéreas regionais. Há, ainda, os campos de pouso (por vezes clandestinos) existentes em garimpos e fazendas. A malha rodoviária é bastante precária, devido principalmente ao regime de chuvas que acaba por tornar difícil sua manutenção. A rodovia BR-230 (Transamazônica) e suas transversais, apesar de não estarem totalmente pavimentadas, permitem a ligação com diversas hidrovias, criando certa flexibilidade e capilaridade até o interior (BRASIL, 1997). “[...] Os portos de Manaus, Belém, Porto Velho e Santarém são os principais da região. O modal ferroviário se resume à estrada de ferro que liga a província mineral de Carajás ao porto de Ponta da Madeira (NASCIMENTO, 2014).” 2.2.2.8 Aspectos Políticos

A Amazônia é, conforme já supramencionado, alvo de cobiça nacional e internacional, tendo seus temas com presença constante nas mídias estrangeiras. Muitas das vezes, sob a pecha de temas superficialmente justificados como a salvação da floresta, proteção dos índios e a propagação religiosa. Frequentemente, as ações de algumas entidades internacionais visam inibir a atuação governamental dos países amazônicos, limitando a soberania e trabalhando para uma futura internacionalização desse rico território (BRASIL, 1997). Essa atuação se faz, também, pela presença de ONG suportadas por nações estrangeiras, que muitas das vezes são utilizadas como fachada para a realização de levantamento estratégico de área (BRASIL, 1997). Ainda, se incluem no escopo das tensões políticas as lutas de comunidades afetadas por desastres naturais ou ocasionados por grandes empresas, a corrupção de governos locais e a questão fundiária, cuja temática envolve desde a invasão de grandes propriedades por movimentos sociais até a grilagem de terra.