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2. CAMINHO METODOLÓGICO

3.1 Caracterização do Estado da Bahia e Polos do PEI: DD

A Bahia é um dos grandes estados que compõem o Brasil. Com 13.070.250 habitantes distribuídos em 417 municípios, localiza-se ao sul da região Nordeste do país. Ocupa área de 559.951 km², limitando-se ao norte com os estados de Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Piauí, a leste com o oceano Atlântico, ao sul com os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e a oeste com os estados de Goiás e Tocantis (IBGE, 2000), conforme mapa a seguir:

Figura 01 – Mapa do território da Bahia.23

O músico Armandinho24 não poupa adjetivos para descrever o estado da Bahia: na canção intitulada Chame Gente,25 ao se reportar ao famoso carnaval baiano, entoa: “Ah! Imagina só que loucura essa mistura. Alegria, alegria é o estado que chamamos Bahia.”

Daqui, de onde começa a história do Brasil, berço de lutas e da mistura de diferentes povos, a Bahia é palco de sincretismo religioso, verdadeiros paraísos naturais, produções musicais,

23

Fonte:

http://3.bp.blogspot.com/_Mq4S1uVPJOo/SNkW10LEuzI/AAAAAAAACd8/W2dy_GjgTmM/s400/bahia.gif. Acesso em 18/3/2010.

24 Armandinho Macêdo, o Armandinho, é instrumentista, cantor e compositor brasileiro, nascido na Bahia. Filho

de Osmar Macedo, do trio elétrico de Dodô e Osmar. Em 1962, formou o trio elétrico Mirim. Na década de 1970, formou o conjunto A Cor do Som. Ao longo das décadas seguintes, Armandinho tem dado continuidade a seu trabalho instrumental, gravando e se apresentando ao lado de grandes músicos. Fonte: http://www.tiosam.net/enciclopedia/?q=Armandinho. Acesso em 6/5/2010.

comidas típicas, festas populares e outros artefatos culturais que caracterizam um estado bastante conhecido e admirado por turistas do país e de todo o mundo. Nesse cenário de imensa beleza, tive a oportunidade de conhecer os cinco municípios-polo que aderiram ao PEI: DD no ano de 2003.

Visando a compartilhar a riqueza abstraída durante a coleta, bem como as viagens realizadas em diferentes localidades do país, da capital brasileira até o interior da Bahia, apresento o percurso e processo de coleta de dados; a seguir, o discurso oficial que caracteriza o fluxo do processo de multiplicação na política pública de inclusão; e só então, a análise dos dados. Os dados colhidos em cada Polo são analisados com o foco no processo de

multiplicação da política pública de inclusão. Tal análise foi construída a partir do estudo de caso (YIN, 2005) e da teoria fundamentada (STRAUSS; CORBIN, 2008), conforme

explicitado no capítulo metodológico.

3.1.2 Ao chegar à Bahia, adentrei o campo da pesquisa. Nesse processo, foi possível

identificar as formas particulares de adesão às propostas governamentais no campo do PEI: DD e, mais especificamente, conhecer e caracterizar a estratégia de multiplicação desse programa em uma parte do país, com grandes dimensões territoriais. Por isso, explicitarei minha inserção como pesquisadora no campo, as condições encontradas nesse percurso.

Foi realizada ainda entrevista com o atual representante do PEI: DD do estado da Bahia, o Gestor Estadual, como o identificaremos na posterior análise dos dados.

As viagens...

As viagens me levaram a diferentes destinos. Após o agendamento dos encontros, pude iniciar esse importante passo na realização da pesquisa. Através delas foi possível identificar aspectos importantes na: (a) obtenção de informações relevantes com os representantes locais; (b) observação do trabalho nos setores de educação inclusiva dos municípios; e (c) compreensão das distâncias geográficas de acesso a cada Polo.

Ao viajar, pude ainda experimentar as sensações provocadas durante os deslocamentos e como a política pública, formulada pelo órgão governamental, a Seesp, toma forma em seu efeito multiplicador no estado da Bahia. Por isso, a análise dos dados será precedida da caracterização de cada destino no qual considerei os seguintes elementos: número de pessoas trabalhando nos setores responsáveis pela educação inclusiva; características gerais de cada

Polo visitado; características das estruturas físicas bem como condições de acessibilidade de

secretarias. Esses elementos foram muito importantes para o levantamento de similaridades,

diferenças ou contrastes e entraves ao processo de multiplicação.

Durante esses itinerários, registrei impressões acerca das experiências no campo no Dpq, a partir do qual trechos são apresentados a fim de ilustrar elementos relevantes do processo. Inicio compartilhando as impressões e sensações provocadas pelas viagens:

Fazendo percursos diversos para chegar até cada um dos municípios em diferentes rodovias, desfrutei de cenários os mais variados possíveis e de ricos aspectos geográficos. Estradas de clima seco, vegetação rasteira e seca. Outras de clima ameno, vegetação mais robusta e muitos pássaros. De todos os climas, o que mais me chamou atenção foi o clima de acolhimento sentido nas interações que mantive com pessoas variadas. Nas paradas, em pontos rodoviários, durante as refeições, nos hotéis, nas Secretarias, nas ruas, fui cercada por tal clima, o que favoreceu o meu bem-estar no desenvolvimento da pesquisa. Assim, em viagens longas e curtas, foi possível perambular por lugares bastante aprazíveis (DPq, 23 de dezembro de 2009).

Ainda seguindo o percurso arrematado pelas minhas impressões registradas no DPq, apresentarei a chegada aos meus destinos, como forma de apresentar cada um dos municípios pesquisados. Tais elementos darão indícios do „sabor da Bahia‟, como detalharei mais adiante.

Polo Pelourinho

O Polo Pelourinho é um „Lugar grande de diferentes belezas e também desigualdades sociais. Grande centro de desenvolvimento econômico e cultural‟ (Dpq, 21 de dezembro de 2009). O Polo localiza-se em uma grande metrópole. As avenidas são bem movimentadas e há muitas ladeiras. Existe uma discrepância visível nas condições socioeconômicas do local. Bairros de prédios bonitos se intercalam a favelas e regiões de extrema pobreza e até risco social, dada a localização em barrancos, sujeitos a desmoronamentos em épocas chuvosas. A secretaria deste Polo localiza-se em bairro relativamente próximo à rodoviária da cidade. O prédio conserva uma estrutura antiga, preservando características históricas de prédios da Bahia. Possui estacionamento próprio com guarda municipal na parte externa. O setor de educação especial26 onde transcorreu a entrevista

localiza-se numa sala ampla, na qual divisórias limitam os setores de apoio pedagógico do município. Em cada divisória trabalham um número de em média quatro pessoas. Há apenas um telefone, que serve a todos os setores. Havia muito barulho, várias pessoas conversavam ao mesmo tempo. A data da entrevista antecedeu o Natal e os festejos de final de ano. O clima era de bastante euforia. Pessoas interromperam a gravação por diversas vezes, contudo a entrevistada mostrou-se bastante empenhada em responder às perguntas, além de ter demonstrado euforia ao reviver a realização dos Seminários, dos quais participara. A

gestora falou de sua “militância” e de como abraçara a causa da inclusão de pessoas com deficiência, apesar do número reduzido de pessoas atualmente trabalhando no setor – duas pessoas segundo as informações da entrevistada.

Polo Farol de Itapuã

O Polo Farol de Itapuã é „lugar de entroncamento rodoviário, terra de muitas gentes oriundas de diferentes lugares. Comércio bastante movimentado e perspectivas de desenvolvimento industrial‟ (Dpq, 9 de novembro de 2009). Município de estrutura plana e grandes perspectivas de crescimento. O setor de construção civil destaca-se e é possível identificar muitas construções em andamento. A secretaria da educação deste Polo localiza-se em região central num prédio com instalações relativamente novas. O setor possui uma sala específica arrumada com armários, mesas, cadeiras, dois computadores, impressora, telefone e aparelho de fax. A Secretaria não promove condições de acessibilidade, já que funciona distribuída em um prédio de três andares. O setor de educação especial funciona no segundo andar, o que impede o acesso de pessoas com deficiência física, por exemplo. Sobre a acessibilidade, a gestora ressaltou que em breve haveria uma mudança de local da secretaria, o que passaria a garantir a acessibilidade de todas as pessoas. De todas as secretarias visitadas, essa é a que possui o maior número de coordenadores pedagógicos que trabalham exclusivamente no setor de educação especial. Ao todo são nove coordenadoras, e destas apenas três possuem a carga horária de tempo integral. Ressalta-se que o Polo Farol de Itapuã é o segundo maior dos municípios pesquisados e possui, portanto, um significativo universo de escolas, professores e estudantes matriculados.

Polo Farol da Barra

Após longas 12 horas de viagem, ao chegar ao Polo Farol da Barra, deparei-me com um ‘lugar de barro vermelho e altas temperaturas com muitas universidades e grandes perspectivas de desenvolvimento econômico‟ (DPq, 13 de dezembro de 2009). A viagem realizada durante uma noite foi tensa e cansativa. Alguns trechos da BR 242 estavam bastante esburacados o que me provocou tensão tanto pelo receio de assalto, como pelo desconforto provocado pelos constantes balanços. Ao chegar à cidade, pela manhã, notei a existência de duas universidades, muitas lojas comerciais e indícios de construção de fábricas. Os encontros realizados com muita receptividade ajudaram a minimizar os efeitos da difícil viagem. A secretaria localiza-se na região central da cidade, e como no município Farol de Itapuã, não garante a acessibilidade. O prédio é velho, necessita de pintura e tem aparência sombria. Logo na entrada, encontra-se uma atendente que dá informações e orienta os visitantes. Existe uma sala específica para o setor, mas não possui telefone. Dispõe de mesas, cadeiras, computador e armários. Nos armários é

possível identificar recursos pedagógicos para o trabalho com estudantes com deficiência confeccionados pelas próprias coordenadoras.

Polo Lagoa do Abaeté

A tranquila viagem em torno de seis horas me conduziu ao Polo Lagoa do Abaeté, que pode ser caracterizado como „lugar com expressivo cultivo de culturas, pontos turísticos convidativos, temperatura quente e povo demasiadamente caloroso‟ (DPq, 22 de novembro de 2009). A estrada que dá acesso a este Polo não apresenta curvas, nem muitos buracos, o que diminui consideravelmente o risco de acidentes e o tempo destinado à viagem. O município desperta sensações associadas ao turismo, já que atrações como as disponibilizadas nas praças e à margem do rio São Francisco traduzem um clima amistoso, gentilmente permeado pelos sorrisos e atitudes solícitas de seus moradores. Com algumas ladeiras, ruas de calçamento antigo, a cidade possui uma grande “orla” que atrai um crescente número de turistas, algo que é bastante desfrutado já que as temperaturas locais são bem altas. A secretaria localiza-se no centro da cidade, é relativamente pequena, possui rampa de acesso e pequenas salas nas quais localizam-se os diferentes setores. O setor de educação especial possui uma sala própria, onde três coordenadoras atuam. A sala é pequena, possui cadeiras, um computador e armários. Não possui impressora e os trabalhos sempre que necessários são enviados a uma impressora central. Também não é possível fazer ligações no próprio setor.

Polo Elevador Lacerda

O Polo Elevador Lacerda é um „lugar que cresce economicamente de maneira expressiva e desponta no sudoeste da Bahia, de temperatura mais amena, mas de um povo não menos caloroso‟ (DPq, 8 de dezembro de 2009). A viagem durante a noite levou seis horas e foi relativamente tensa, devido aos buracos, às curvas e aos locais de risco bem conhecidos da BR 116 – Rio Bahia. A chegada ao Polo, logo pela manhã, me trouxe certo clima de nostalgia, já que residi no município durante toda a infância. Por conhecer a cidade, foi inevitável identificar o seu grande desenvolvimento. Muitas residências construídas, fábricas implantadas com notáveis marcas de desenvolvimento econômico. Desfrutando do mesmo clima de acolhimento sentido nas demais secretarias dos municípios pesquisados, fui recebida pelos coordenadores do setor de educação inclusiva. Com garantia de acessibilidade física e uma sala pequena, mas específica para o setor, possui mesas, cadeiras, e computador. O grupo, constituído por três coordenadoras, é o responsável pelas ações concernentes à inclusão de alunos com deficiência em classes comuns.

Caracterizam também o estado os dados educacionais sobre o público atendido pelos sistemas de ensino comum, como se pode visualizar nos quadros abaixo:

Nº DE ESCOLAS Nº DE PROFESSORES MATRÍCULA

EDUCAÇÃO BÁSICA Nº DE ALUNOS EDUCAÇÃO ESPECIAL

21.748 104.949 4.341.994 35.779

Polos Nº DE ESCOLAS DE

PROFESSORES MATRÍCULA EDUCAÇÃO BÁSICA– Nº DE ALUNOS GERAL EDUCAÇÃO ESPECIAL POLO PELOURINHO 979 4.733 165.777 1.129 POLO FAROL DE ITAPUÃ 315 1.751 53.340 432 POLO LAGOA DO ABAETÉ 175 979 32.599 320 POLO ELEVADOR LACERDA 226 1067 39.891 212 POLO FAROL DA BARRA 121 765 19.153 75

Quadro 06 – Dados educacionais do sistema de ensino municipal dos Polos.

Segundo informações contidas no próprio site, os dados são oriundos de pesquisas e levantamentos correntes do IBGE e dados de outras instituições, como Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), MEC, e correspondem ao ano de 2008.27 Esses números revelam que é bastante heterogêneo o universo educacional dos municípios baianos no que diz respeito ao número de escolas, professores, matrículas de alunos com deficiência. Dados importantes, considerando que esses Polos incorporam a estratégia de multiplicação para sua própria localidade, notavelmente expressiva, e ainda para os demais municípios compreendidos por sua área de abrangência.

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