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PARTE II – O ESTUDO EMPÍRICO

3.2. Caracterização do estudo

Pretendíamos desenvolver um projecto que, aliando a teoria à prática, contribuísse para que os professores do 1º Ciclo do Ensino Básico nele envolvidos melhorassem o seu desempenho, no que dizia respeito à motivação dos seus alunos para a leitura. Acreditamos que tínhamos boas razões para seleccionar esta temática, no actual contexto educativo português.

Ao longo da minha actividade profissional como docente do 1º Ciclo do Ensino Básico, deparei-me com alguns problemas na aprendizagem da língua portuguesa associados ao desenvolvimento de hábitos de leitura por parte dos alunos. De facto, para muitos alunos, a leitura é um sinal de aborrecimento, uma vez que a sociedade lhes oferece uma variedade infinita de formas de ocupar o tempo e de adquirir informação, sem precisarem de recorrer a esta.

Apesar da forte concorrência dos media, consideramos a leitura como uma actividade essencial, a nível escolar e social. Esta continua a ser indispensável para aceder ao conhecimento e, através do seu tratamento, para construir a sociedade e os seus valores (Antão, 1997).

Segundo Ana Benavente e a sua equipa (citados por Dionísio, 2000: 31), a prática da leitura deve ser vista como condição indispensável à “cidadania de acesso pessoal ao emprego, à cultura e à participação cívica”.

A incapacidade de ler constitui um factor de exclusão social, já que afasta o indivíduo de uma participação activa e crítica na vida social.

Segundo Dionísio (2000: 35), “Ler é um processo activo e criativo e também um constante juízo de valor.”

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A sociedade espera que escola desenvolva nos alunos competências indispensáveis a uma boa qualidade de vida pessoal e social. Tal implica a aquisição e desenvolvimento de hábitos de leitura por parte dos mais jovens.

A escola não é o único lugar de formação de leitores, mas espera-se que esta concretize uma grande parte das expectativas sociais relativas às capacidades e às práticas de leitura dos cidadãos, porque é neste contexto que a criança aprende a ler e este é um espaço de socialização privilegiado.

Todos os agentes envolvidos no processo de ensino/aprendizagem, com particular relevo para os professores, devem apostar na motivação dos alunos para a leitura, adoptando estratégias didácticas diversificadas nela centradas e desenvolvendo actividades em sala de aula que visem a sua promoção, em suma, criando ambientes que proporcionem e promovam o gosto pela leitura, sem que esta seja vista como uma imposição.

Pennac (2002: 11) recorda que “O verbo ler não suporta o imperativo. É uma aversão que compartilha com outros: o verbo «amar» … o verbo «sonhar».”

Acreditando que o gosto pela leitura desenvolvido pelos alunos está em grande parte associado às práticas dos professores, escolhemos a motivação para a leitura como um dos temas a abordar na nossa dissertação.

Tratando-se de um projecto de dissertação que se insere na área científica da Supervisão, decidimos investir num programa de formação continuada para professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, orientado para a co- construção reflexiva e crítica de práticas renovadas no âmbito da motivação para a leitura, por nós supervisionado. Mais concretamente, desenvolvemos, com duas

professoras do 1º Ciclo do Ensino Básico, um projecto de

formação/investigação/acção, que se fundamentava numa reflexão partilhada, consciente e crítica.

A metodologia utilizada no nosso estudo inseria-se nos pressupostos da investigação qualitativa associada a um paradigma de investigação reflexiva.

Deste contexto e do enquadramento teórico por nós traçado nos dois primeiros capítulos desta dissertação, saíram alguns pressupostos que se converteram na base deste estudo:

93 i) integrar a formação continuada de professores num processo de

mudança e inovação, de forma a desenvolver competências de

ensino/investigação imprescindíveis à auto-formação;

ii) adoptar a construção e (re)construção de saberes, através da reflexão

partilhada, integradas numa perspectiva reflexiva de procura de soluções para a

resolução de problemas concretos;

iii) promover a passagem do saber ao saber-fazer, como forma de garantir uma prática consciente e reflectida.

Consideramos que a investigação-acção, enquanto estratégia de formação, pode promover a prática da reflexão, contribuir para a mudança de atitudes e práticas e, no caso concreto do nosso estudo, fomentar uma maior consciencialização da importância da motivação para a leitura e de estratégias didácticas que permitam promovê-la junto dos alunos.

Cremos que incentivar para a prática da reflexão e da investigação-acção pode proporcionar uma mudança no campo da educação em geral e das práticas desenvolvidas pelo professor, em particular.

Acreditamos que estas têm de ser acompanhadas pelo desenvolvimento de trabalho colaborativo, envolvendo os professores, mas também os supervisores da sua formação.

Estamos convictos de que um contexto de trabalho desta natureza favorecerá a consciencialização da importância da motivação dos alunos para a leitura – particularmente no 1º Ciclo do Ensino Básico –, bem como a adopção de estratégias mais adequadas a esta finalidade e a sua diversificação.

Através do estudo a desenvolver, pretendíamos obter respostas para as questões de investigação que aqui relembramos:

- De que forma um processo de supervisão reflexivo, crítico e colaborativo pode:

 potenciar o desenvolvimento profissional do professor?

 constituir-se como suporte de inovação e eficácia em práticas pedagógicas contextualizadas?

Às nossas questões de investigação foram associados objectivos que pretendíamos atingir através do nosso estudo, a saber:

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- Estudar o impacto de um programa de formação/investigação/acção na co-construção de práticas renovadas centradas na motivação para a leitura de alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico.

- Definir as linhas de orientação de uma formação continuada de

professores direccionada para o desenvolvimento de competências que lhes permitam co-construir, numa perspectiva reflexiva e crítica, práticas inovadoras de motivação dos seus alunos para a leitura.

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