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Caracterização do Quinto Nível(Acima de 301)

presentes nas questões elaboradas

Este nível de proficiência se caracteriza, à diferença dos anteriores, por uma pequena variedade de habilidades. São, apenas, quatro:

D3 – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão; a) D7 – Identificar o conflito gerador e os elementos que constroem a narrativa; b) D11 – Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato; c)

D14 – identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de d)

outras notações.

Neste nível, predominam questões que requerem a identificação da distinção entre fato e opinião relativa ao fato, solicitando que sejam realizadas correlações:

com as marcas discursivas, ou seja, marcas que podem levar o leitor a a)

entender o propósito comunicativo do enunciador;

derivadas do uso da interjeição, advérbios ou outras expressões típicas; b)

com as marcas de modalidade, que dizem respeito aos aspectos mais c)

formais ou informais da linguagem, por exemplo.

Além disso, supõe-se que sejam reconhecidos os efeitos de sentido decorrentes do uso da pontuação, como por exemplo, nas falas interjetivas, aprofundam-se a compre-

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ensão desses recursos para além da compreensão das eventuais regras de uso.

5.5.2 Os gêneros e textos mais frequentes

Em relação aos gêneros, mantêm-se os indicados para o nível anterior.

5.5.3 A complexidade dos textos e das propostas

Os textos caracterizam-se por sua extensão – que é maior em relação ao nível anterior –, por serem predominantemente literários, por possuírem uma sintaxe mais complexa com presença de subordinações. A organização das orações já pre- vê maior rebuscamento, saindo da ordem direta. Além disso, os temas abordados nos textos já extrapolam o universo infantil, apresentando temas mais gerais. Há uma presença acentuada de trechos mais descritivos dos textos selecionados, em especial os organizados em gêneros da ordem do narrar.

Passemos à análise dos itens selecionados para amostra neste nível da escala.

Exemplo 1

O GALO E A RAPOSA

No meio dos galhos de uma árvore bem alta um galo estava em- poleirado e cantava a todo o volume. Sua voz esganiçada ecoava na floresta. Ouvindo aquele som tão conhecido, uma raposa que estava caçando se aproximou da árvore. Ao ver o galo lá no alto, a raposa começou a imaginar algum jeito de fazer o outro descer. Com a voz mais boazinha do mundo, cumprimentou o galo di- zendo:

— Ó meu querido primo, por acaso você ficou sabendo da procla- mação de paz e harmonia universal entre todos os tipos de bichos da terra, da água e do ar? Acabou essa história de ficar tentando agarrar os outros para comê-los. Agora vai ser tudo na base do amor e da amizade. Desça para a gente conversar com calma so- bre as grandes novidades!

O galo, que sabia que não dava para acreditar em nada do que a raposa dizia, fingiu que estava vendo uma coisa lá longe. Curiosa, a raposa quis saber o que ele estava olhando com ar tão preocu- pado.

— Bem — disse o galo —, acho que estou vendo uma matilha de cães ali adiante.

— Nesse caso, é melhor eu ir embora — disse a raposa.

— O que é isso, prima? — disse o galo. — Por favor, não vá ain- da! Já estou descendo! Não vá me dizer que está com medo dos cachorros nesses tempos de paz?!

— Não, não é medo — disse a raposa — mas... e se eles ainda não estiverem sabendo da proclamação?

MORAL: CuIDADO COM AS AMIzADES MuITO REPENTINAS.

ESOPO. O Galo e a raposa. In: Fábulas de Esopo. 11ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2001. p. 22.

A história se resolveu quando a raposa foi embora. (A)

a raposa ouviu o galo cantar. (B)

o galo fingiu preocupação. (C)

o galo pediu que a raposa ficasse. (D)

Análise Pedagógica do Item

a) Quanto à escolha do texto base

O texto O galo e a raposa é uma fábula de autoria de Esopo. Como se sabe, caracteriza-se (em geral) pela presença de personagens animais que vivenciam si- tuações que se assemelham à vida humana, de maneira que, na trama, os persona- gens caracterizam virtudes e comportamentos questionáveis típicos dos homens. Constitui-se um texto narrativo porque é ficcional, organiza-se no eixo temporal, estabelecendo relações de causalidade entre as ações apresentadas. No caso des- se texto, é narrado um encontro entre o galo e a raposa, acontecimento situado em um determinado tempo (momento do encontro e da conversa entre os dois personagens) e espaço (perto de uma árvore bem alta), com uma relação de causa e efeito que determina o conflito gerador da narrativa. A fim de se compre- ender melhor o texto, é preciso reconhecer as características dos dois animais: o galo – esperto, conhecedor da natureza da raposa; a raposa – ardilosa, dissimulada e perspicaz. Esse reconhecimento ajuda a entender o desfecho da narrativa. Além das características dos personagens, para se entender a sequência dos fatos, é pre- ciso reconhecer as suas partes e o encadeamento que leva ao conflito do texto e ao seu desfecho:

Situação inicial

a) – corresponde a todo o primeiro parágrafo: o leitor é apresentado aos personagens da história, ao espaço em que se passa a narrativa e às primeiras intenções da raposa.

Complicação

b) – localizada no início do segundo parágrafo, quando a rapo- 15

sa conta a “grande novidade”, a notícia mais fresca dos últimos tempos, na verdade apenas um ardil para fazer o galo descer, possibilitando que ela o comesse. O clímax da complicação consta do final do segundo parágrafo, quando a raposa pede ao galo para descer e conversar com calma sobre as grandes novidades que lhe havia contado.

Resolução e desfecho

c) – apresentada nos últimos parágrafos, quando a raposa diz que vai embora, justificando sua saída ao ser interpelada pelo galo.

Como toda fábula, os verbos estão na 3ª pessoa porque os fatos são contados por um narrador-observador que não participa da narrativa, mas conhece todos os detalhes da história.

Além disso, do texto-base consta o diálogo entre os personagens principais, o que permite uma aproximação maior das características específicas de cada perso- nagem. Como marca da introdução dos discursos dos personagens no texto, são utilizados os sinais gráficos mais convencionais: verbos discendi para identificação do personagem que fala (antes da fala, entre dois segmentos da fala, depois de uma fala), dois pontos, parágrafo e travessão.

b) Quanto à complexidade da tarefa

Especificamente, esse enunciado solicita uma identificação mais pontual, cor- respondente à identificação da ação da raposa para a resolução do problema da trama. Portanto, cabe ao leitor proceder às relações entre as partes do texto e as características dos personagens, para responder corretamente à questão apresen- tada.

É preciso, portanto, que o leitor possa reconhecer e localizar cada uma das partes do texto, percebendo que o encadeamento de fatos obedece à seguinte sequência: Galo de voz esganiçada no alto da árvore; a) Raposa caçando próximo da árvore; b) Raposa puxa conversa amigável com o galo; c) Ação de defesa do galo – ardilosa – ao fingir que viu algo; d) Curiosidade da raposa; e) Resposta do galo; f)

Decisão da raposa de ir embora – pega na armadilha que lhe criou o g)

galo;

Raposa e sua tentativa de disfarçar a frustração pela armadilha que não h)

teve êxito.

Por fim, cabe, ainda, mencionar a necessidade de – para a compreensão in- tegral da trama – reconhecer a diferença de efeito de sentido na utilização do

tratamento do interlocutor por primo/prima; a raposa, tentando, ardilosamente, aproximar-se do galo e ganhar sua confiança; o galo, ironicamente, pois havia per- cebido as intenções da raposa.