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Orientados por epistemologias racionalistas e construtivistas, os modelos de mudança conceptual admitem que o aluno tem um papel activo, determinado pelo seu quadro referencial teórico, no processamento da informação. Pressupõem também que sujeitos diferentes constróem concepções diferentes a partir da mesma informação e que “novas” ideias interagem com as ideias que o aluno possui originando alterações em ambas (Santos, 1998).

Nesta perspectiva de ensino, a finalidade é que ocorra substituição de concepções. A partir das concepções alternativas diagnosticadas, o professor selecciona actividades de ensino que coloquem o aluno em situação de conflito cognitivo. A resolução de determinados problemas não poderá ser feita de acordo com as suas concepções que se tornaram insuficientes e portanto falíveis.

A perspectiva de ensino sustentada pelo conflito cognitivo assume que a substituição dos conhecimentos prévios do aluno ocorrerá se se confrontar esse conhecimento com um conhecimento mais explicativo. Pretende-se uma acumulação de conflitos que provoquem mudanças sucessivamente mais radicais da estrutura conceptual. Deve apresentar três fases principais:

primeira fase - o aluno realizará tarefas que mediante inferências predictivas

ou soluções dos problemas, explicitam as concepções dos alunos. A função destas tarefas é não somente que o professor conheça as diferentes

concepções alternativas mantidas pelos alunos, mas também que estes tomem consciência das suas concepções;

segunda fase - o aluno terá de confrontar os seus conhecimentos com os

resultados de uma pequena investigação ou com os dados apresentados. O aluno toma consciência, não somente das suas concepções mas também das suas insuficiências e diferenças relativamente ao conhecimento científico;

terceira fase - espera-se que o aluno abandone a sua concepção porque

percebeu que o conhecimento adquirido tem maior poder explicativo relativamente à perspectiva anterior

De salientar que a mudança conceptual é efectuada pelo aluno. Tal só é facilitado se o aluno utilizar estratégias metacognitivas durante o processo de aprendizagem. A metacognição permitirá que o aluno seja capaz de explicar ao professor o que não percebe, planear uma estratégia antes de iniciar uma tarefa, procurar ligações com outras situações e formular opiniões. A realização, pelo aluno, de experiências adequadas permite o desenvolvimento do seu conhecimento, a tomada de consciência das suas

capacidades e o controlo metacognitivo (Pozo et al., 1998).

O modelo alostérico de Giordan, mencionado por Cachapuz et al., 2000, constitui um dos modelos de mudança conceptual orientado para a reestruturação do conhecimento do aluno. De acordo com este modelo, a mudança conceptual tem várias implicações:

? o conhecimento quotidiano deve ser sempre posto em causa;

? as concepções prévias dos alunos só são substituídas se o aluno não conseguir

responder aos problemas que lhe são colocados (às vezes um dos obstáculos à aprendizagem é a ausência de informação).

? a aprendizagem é um processo de construção contínua e complexo. O aluno deve ser continuamente questionado sobre a forma como organiza os seus conhecimentos. Neste sentido os problemas apresentados devem apresentar dificuldades progressivas para que os alunos possam relacionar conceitos já trabalhados.

O aluno deve estar mobilizado para aprender, deve estar consciente da sua actividade e dos processos que a regem. O saber adquirido constitui um prolongamento das aquisições anteriores que proporcionaram o quadro de referência e de conhecimento necessários à problematização mas ao mesmo tempo está em ruptura com o conhecimento anterior porque permite explicar novos problemas e responder a novas questões (Giordan, 1995).

Tendo em consideração estes pressupostos, as actividades apresentadas pelo professor, na sala de aula, têm como objectivo: “i) induzir no aluno um desequilíbrio conceptual; ii) ajudar o aluno a interrogar-se e a explicitar o seu próprio pensamento; iii) contribuir, agora, para uma adequada confrontação das suas ideias com outras opiniões, em particular, com as dos seus colegas; iv) utilizar esquemas, gráficos, fazer uma síntese, por exemplo, que ajude à reflexão e a uma nova visão da realidade construída pelo aluno” (Cachapuz et al., 2000, p. 37).

Marques (1994) refere existirem dois grupos de modelos de ensino que estão de acordo com a actual perspectiva construtivista do ensino das ciências: os “modelos conceptuais” e os “modelos operacionais”. Os segundos incorporam um conjunto de etapas flexíveis e interligadas que sugerem actividades sequenciais para o aluno e para o professor, destinadas a facilitar a mudança conceptual. Estes modelos fundamentam-se nos “modelos conceptuais” e permitem a operacionalização das suas linhas orientadoras. Este investigador apresenta um “modelo operacional” constituído por quatro fases diferentes:

? fase de reconhecimento e de reflexão, durante estas fases os alunos deverão

revelar as suas ideias referentes ao tópico em estudo. O professor terá de identificar problemas cuja resolução contribua para a mudança das ideias dos alunos, organizar e fornecer a informação conceptual que se relaciona com o tema em estudo. Para que os alunos possam mudar os seus conceitos, procedimentos e atitudes, é necessário que estes possuam informação suficiente que lhes permita sustentar o conflito conceptual.

? fase de reconstrução, o aluno terá de propor e debater metodologias adequadas que permitam procurar soluções para os problemas previamente identificados.

? fase de re-avaliação, esta fase permite ao professor verificar se os materiais e estratégias implementadas permitiram atingir os objectivos iniciais e comparar os conceitos apresentados pelos alunos antes e após a aprendizagem.

Permite, também que o aluno compare o seu conhecimento actual com aquele que tinha no início e assim se consciencialize da mudança e evolução das suas ideias. A utilização de mapas conceptuais é uma boa estratégia para o aluno reflectir sobre o que aprendeu.

Esta última fase é designada de re-avaliação porque corresponde a uma segunda avaliação, a primeira ocorreu durante a primeira fase deste modelo de ensino- aprendizagem quando o professor procurou conhecer as situações que estariam mais de acordo com as necessidades e conhecimento dos alunos.