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CAPÍTULO I – EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE

2. Apresentação e Análise dos Dados

2.3. Caracterização e Análise de Dados: Departamento de Formação

2.3.1. Caracterização e Funcionamento

2.3.1.2. Caracterização dos Participantes

A actividade do Departamento de Formação é particularmente orientada para uma determinada população-alvo: bombeiro ou candidatos a bombeiro e profissionais dos Serviços Municipais de Protecção civil. A formação destinada à primeira categoria ocupa a maior parte das acções de formação desenvolvidas pelo Departamento. No ano de 2010, decorreram na ENB um total de 1388 acções de formação destinadas aos Bombeiros, contrariamente aos números evidenciados no âmbito da Formação para trabalhadores dos Serviços Municipais de Protecção Civil (embora previstas 29 acções, não ocorreram acções de formação neste área devido a constrangimentos relacionados com a elaboração de conteúdos programáticos).

Especificando, particularmente, os formandos dos cursos de formação de bombeiros, podemos verificar que constituem uma população-alvo diversificada quanto ao seu nível de habilitações escolares, género e média de idades. No âmbito desta caracterização importa salientar as habilitações escolares destes candidatos.

Não foi possível proceder a uma análise dos formandos, por níveis de escolaridade, contudo, e por nos parecer uma população prioritária de intervenção, pretendeu-se recolher o número de formandos que, durante o ano de 2011, apresentou junto do Departamento de Formação uma escolaridade inferior ao 9ºano, e como tal, considerada uma característica impeditiva no acesso às acções de formação da carreira de bombeiro. Assim, em 2011, ficaram impossibilitados de frequentar acções de formação disponibilizadas pela ENB, aproximadamente um total de 57 formandos, uma vez não terem as habilitações necessárias para o ingresso na acção.

Os dados mais abrangentes encontrados sobre estas dimensões remetem para o ano de 2007, aquando da realização de um questionário aplicado a todos os bombeiros portugueses, no âmbito de um projecto de investigação desenvolvimento na área, e exclusivamente no que se refere à estrutura de comando dos bombeiros.

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Gráfico 11 - Habilitações literárias dos comandos dos corpos de bombeiros, ano de 2007 (%). Fonte: Amaro (2009).

Assim, no ano de 2007, as habilitações literárias da estrutura de comando dos corpos de bombeiros, encontravam-se distribuídas de forma distinta, verificando-se maioritariamente habilitações ao nível do 12º ano de escolaridade (36,4% dos bombeiros de comando), seguindo-se do 3º Ciclo, com 32,8%, e licenciatura, com 12,7%.

2.3.1.3. Análise das Conversas Informais

No decorrer das conversas informais estabelecidas com elementos do Departamento de Formação, visou-se essencialmente compreender as suas percepções sobre a pertinência e adequabilidade do processo de reconhecimento de competências (escolar e profissional) para esta população-alvo. Parece não existir dúvidas no que se refere à importância do processo de reconhecimento de competências escolares, como uma “resposta formativa essencial para os bombeiros”, em particular devido ao facto da obtenção de determinado nível académico lhes permitir “o acesso a formações desenvolvidas na ENB”. Estas formações profissionais, são indispensáveis à progressão na carreira de qualquer bombeiro. Contudo, quando questionados sobre a população- alvo de intervenção imediata por parte do CNO e desta valência, isto é, os candidatos impossibilitados de frequentar acções de formação por falta de habilitações escolares, houve elementos que direccionaram a procura dessa informação para junto de outras entidades: “apenas a Autoridade de Nacional de Protecção Civil ou o acesso à plataforma do Recenseamento Nacional dos Bombeiros Portuguesas, poderá disponibilizar essa informação”. Não existe informação imediata e organizada no Departamento de Formação passível de ser disponibilizada ao CNO da mesma instituição, com vista à partilha de necessidades no âmbito da certificação escolar de bombeiros.

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Outro dos temas que pretendeu conhecer-se nas conversas informais, remete para a concepção e organização do plano de formação da ENB, no que se refere à estrutura, conteúdos programáticos, domínios abordados, resposta às necessidades dos bombeiros e carga horária das acções de formação. No que se refere ao plano de formação, emergiu a ideia de que efectivamente o departamento de formação da ENB “pretende contemplar um grande conjunto de formações, essencialmente, de carácter profissionalizante”, nos domínios dos saber-saber e saber-estar. Estas consideram-se essenciais tanto aos bombeiros que procuram progredir na carreira, como aos que necessitam actualizar os seus conhecimentos, para que a sua acção vá cada vez mais ao encontro das necessidades da população que pretendem servir. Por outro lado, num contexto de mudanças sociais e organizacionais, as necessidades de formação dos bombeiros “não se ficam apenas pela formação profissionalizante”.

O discurso dos elementos envolvidos nas conversas informais, remete para uma valorização da formação ao nível do saber-ser e saber-saber, bem como da “promoção de competências transversais e de uma educação de base”, muitas vezes esquecida junto desta população. Esta percepção que valoriza a noção de competência para o exercício profissional de excelência, parece subentender a ideia defendida por Canário (2000), quando afirma que estamos perante uma relação entre formação profissional e mundo do trabalho, marcada pela incerteza e longe de “critérios de previsibilidade”. Realça o desenvolvimento de competências que vão para além daquelas que adquiridas através de uma formação técnica ou profissional, elementares num mercado de trabalho caracterizado pelo fenómeno de “mobilidade profissional”.

Ainda no que diz respeito ao plano de formação da ENB, pretendeu-se compreender, especificamente, a sua articulação com o referencial de formação de bombeiro proposto pelo Catálogo Nacional de Qualificações. Sobre este aspecto, foi evidente o reconhecimento de que referencial de formação disponível pelo CNQ, implica a existência ou aquisição de “um determinado conjunto de competências-chave a par com determinadas competências tecnológicas” que necessitam coexistir para que seja atingido o perfil de saída estabelecido. Neste momento, a ENB, porquanto esteja a envidar esforços no sentido de corresponder às necessidades de aquisição das competências tecnológicas descritas no catálogo, evidente pela aprovação do Despacho Nº713/2012 (Regulamento dos cursos de formação, de ingresso e de acesso ao bombeiro), “não está a considerar a resposta às necessidades de formação a nível do conjunto de competências- chave para atingir a globalidade do perfil descrito nesse mesmo catálogo”. Não obstante, o perfil de saída do referencial de formação de bombeiro não considerar explicitamente a aplicação das referidas competências-chave, estas estão, no entanto, “implicitamente consideradas”, pelo que

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deverão fazer parte de um plano completo de formação de bombeiros. Foi ainda possível verificar na análise dos dados recolhidos através destas conversas, uma evidente preocupação com a necessidade de garantir esta articulação com o “referencial de formação em vigor na legislação

portuguesa”, visando o “reconhecimento do referencial a nível nacional e internacional” e

potenciando o acesso ao mercado de trabalho global por parte daqueles que obtêm esta certificação. Neste contexto, torna-se imperativo que, aquando da concepção ou ampliação da oferta formativa apresentada pela ENB, sejam consideradas quer as necessidades diagnosticadas, quer todas as estas características específicas associadas à actividade desta população-alvo.

Em síntese, parece ser evidente uma visão positiva sobre a pertinência do processo de reconhecimento de competências para a população de bombeiros, nomeadamente como forma de promover as possibilidades de progressão de carreira. A formação de carácter profissionalizante é igualmente vista como uma mais-valia para estes profissionais. Todavia, da análise das conversas informais emergem igualmente algumas fragilidades: ausência de informação no que se refere às necessidades de certificação escolar da população de bombeiros; sobrevalorização de uma formação profissional técnica, que não contempla os domínios do saber-ser e a promoção de competências transversais; e a desarticulação entre o referencial de formação de bombeiro relativo ao plano de formação da ENB e ao referencial de formação proposto pelo CNQ, em particular no que se refere à inclusão de um conjunto de competências-chave indispensáveis ao exercício actual desta actividade.