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Capítulo III: O tecido comercial do concelho a partir dos livros de registos

3.3 Caracterização dos sócios e dos não inscritos

3.3.1 Efetivos

O Grémio define nos seus Estatuto, aprovados por alvará do Subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social, datado de 20 de Abril de 1940, duas categorias de sócios: efetivos e auxiliares – como assinalámos atrás.

O estatuto de sócio efetivo é atribuído, segundo o artigo 9.º do Capítulo II dos Estatutos, a “empresas singulares ou colectivas que exerçam o comércio de retalho e não estejam

representadas por outro grémio de ramo diferente”155. Estas são obrigadas a cumprir

determinadas condições: posse de estabelecimento próprio e estar coletado pela contribuição industrial (art. 2.º); apresentação de uma proposta de admissão, por escrito, à Direção; entre outras.

Os sócios efetivos estão obrigados ao cumprimento de uma série de deveres, enunciados no artigo 10.º: respeito pelas decisões dos órgãos administrativos (a); pagamento da

joia e quotas156 (b); desempenho dos cargos para que fossem eleitos (c); “contribuir para o

engrandecimento e progresso do Grémio”157 (d); “cumprir as obrigações que lhes caibam por

efeito de quaisquer compromissos corporativos”158(e); e fornecer à Direção todas as informações

pedidas (f). Dos direitos destes sócios, consignados no artigo 11.º, fazem parte: a presença nas Assembleias Gerais, e reuniões de freguesia do respetivo grupo de comércio (a); a apresentação de propostas à AG e Direção (c); o zelo pelo cumprimento dos Estatutos e regulamentos do Organismo (d); utilização das instituições e serviços gremiais (e); e a realização de pedidos para convocação da AG (f).

De acordo com o artigo 12.º, os sócios perdem o seu estatuto: caso se comprove que, no exercício da sua atividade, a pratiquem de má-fé ou cometam fraude (a); por difamação da Organização Corporativa ou qualquer organismo/dirigente a ela ligada (b); quando sujeitos à

pena de eliminação (c); ao declararem falência (d)159 ou realizarem acordos com os seus

credores por valor inferior a 50% do seu passivo (f); ao serem suspensos (perdem o estatuto

155GCCG.Estatutos, p. 8.

156Estavam isentos, ao abrigo do Decreto-Lei n.º 29232, do pagamento de jóia os sócios (efectivos ou auxiliares) que proviessem de

qualquer Associação Patronal ou Grémio criados ao abrigo dos decretos n.os23049 e 24715. 157GCCG.Estatutos, p. 9

158Idem.

159O sócio que declarasse falência poderia voltar a adquirir o seu estatuto de sócio desde que provasse estar reabilitado por sentença

apenas durante o período da suspensão) (e); ou pelo não pagamento de quotas durante três meses consecutivos (g). O não cumprimento das regras dos Estatutos e das deliberações dos órgãos diretivos poderia levar a penalizações, que passavam pela censura, aplicação de multas

(que podiam ir dos 10$00 aos 500$00), suspensão e eliminação160. O sócio teria oportunidade

de apresentar a sua defesa, que seria apreciada pela Direção ou pelo CG, com a decisão a ser apresentada num prazo máximo de 15 dias.

Os livros de registo apresentam 4817 sócios efetivos, permitindo analisar vários aspetos relacionados com os agremiados: contexto geográfico (rural/urbano); grupos de atividade; e

itinerário associativo (entrada; tempo de permanência)161.

3.3.2 Auxiliares

A admissão dos sócios auxiliares depende exclusivamente da Direção do Organismo, podendo “fazer parte do Grémio (…) quaisquer entidades singulares ou colectivas que, pela sua

condição social, a Direcção queira admitir”162. Os deveres e direitos dos sócios auxiliares não

estão discriminados nos Estatutos, que mencionam apenas a possibilidade de estes frequentarem a Sede e dependências do Organismo, usufruindo dos serviços por ele criados.

Os livros de registo apresentam 50 sócios auxiliares, 13 entre 1940 e 1946 e 33 entre

1951 e 1956163(verificando-se uma interrupção entre 1946 e 1951). A quebra após 1946 ter-se-

á ficado a dever a um despacho do Subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social, datado de 16 de Fevereiro de 1946, que retira a aprovação ao disposto nos estatutos sobre a admissão de sócios auxiliares, impedindo às direções de todos os Grémios, a manutenção ou admissão dessa categoria de sócios.

No entanto, essa determinação é originada por um despacho anterior, de 11 de Janeiro do mesmo ano, que tem origem numa situação verificada no Grémio do Comércio de Oeiras, que vem colocar em cima da mesa a questão “sobre se os sócios auxiliares têm de contribuir

para a Caixa Sindical de Previdência dos Profissionais do Comércio”164. Esta questão vai pôr em

dúvida a legitimidade da existência desta categoria, chegando-se à conclusão de que não era

160As penalizações de censura, multa e suspensão eram da responsabilidade do Conselho Geral, com a pena da eliminação a ser da

competência da Direção.

161A saída dos sócios também era uma hipótese a considerar, no entanto, uma vez que a informação neste campo se encontra muito

incompleta, esta hipótese foi abandonada.

162Idem, p. 10.

163Quatro dos auxiliares inscritos, não apresentam data de admissão. 164Cal. Alexandre Herculano da. 1955.Legislação Corporativa. Grémios… p, 32.

“compatível com a economia geral do sistema a existência de uma classe de sócios auxiliares

estranhos à actividade abrangida pelo organismo”165. Os grémios, como organismos corporativos

de representação da categoria económica, têm uma forte circunscrição do seu âmbito de ação, àqueles que a constituíam, sendo-lhes assim, retirada “aprovação à disposição estatutária que

admite a inscrição de sócios auxiliares”166. Em 1951 a categoria dos sócios auxiliares é reavivada

mantendo-se em vigor até ao ano de 1956, altura em que desaparece de vez dos registos do Grémio.

3.3.3 Não Inscritos

Os não inscritos surgem, como já foi referido, no âmbito dos livros de quotas. Estes eram contribuintes do Grémio, listados nos livros de quotização, não estando presentes nos livros de registo dos sócios. Esta situação está prevista no Decreto-Lei n.º 29931, de 15 de Setembro de 1939, que torna obrigatório, a todas as empresas singulares ou coletivas que exercem atividade em ramos de comércio e indústria organizados corporativamente, o pagamento das joias e quotas previstas para os associados desses organismos corporativos. A informação relativa a estes não inscritos é menos rica do que a obtida no caso dos sócios efetivos; desde logo não existem referências ao ramo de atividade e às datas de entrada e saída, e a informação relativa às moradas dos contribuintes apresenta algumas falhas.