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4. Resultados da pesquisa e discussões

4.2 Caracterização dos sujeitos entrevistados

No que tange ao número de filhos de cada participante desta investigação, sete deles eram pais do primeiro filho, sendo que Amoroso era pai de uma criança (de cerca de nove meses) e estava experienciando o quinto mês de gestação do segundo filho. Outros três rapazes estão acompanhando a gestação das parceiras. Os filhos dos demais sujeitos (4) tinham nascido recentemente, entre um dia e duas semanas.

Quanto ao local de nascimento, cinco entrevistados nasceram em Florianópolis, um em Cerro Negro (morava em Florianópolis há cerca de dez anos), um em Chapecó (em torno de oito anos morando em Florianópolis) e um deles em Urussanga (atualmente, mora em Criciúma, tendo sua filha recém-nascida sido internada por aproximadamente dois meses no Hospital Universitário).

Neste momento, pretende-se esboçar um panorama geral das condições de vida e do perfil sócio-econômico dos participantes desta pesquisa. Abaixo, encontra-se um quadro que contém aspectos gerais do cotidiano dos oito adolescentes pais entrevistados.

* Idade dos adolescentes pais participantes na data em que foi realizada a entrevista.

** No que diz respeito à escolaridade, os algarismos se referem às séries completas do ensino fundamental.

*** Quanto ao estado civil, nenhum dos sujeitos é legalmente casado. Os termos citados acima dizem respeito às respostas destes quando perguntados sobre esse aspecto legal.

Todos os sujeitos estavam evadidos da escola e nenhum deles havia completado o ensino médio. A escolaridade destes adolescentes foi marcada por um histórico escolar de

Nome Idade * Escola- ridade** Estado civil *** Com quem Mora Ocupação Renda mensal Religião

Cláudio 18 7° “Legalmente solteiro, mas junto”- há cerca de 10 meses.

Parceira, sogra, padrasto da

parceira e três irmãos desta. X X X

Amoroso 19 5° “Amasiado” – há cerca de 18 meses.

Parceira (que está grávida) e com o primeiro filho, em um reservado no terreno da mãe do rapaz. Moto boy Em torno de 500 reais. X

Tadeu 18 7° “Junto” – há cerca de oito meses

Parceira, pais, irmã e irmão do rapaz. Roupeiro em um hotel. Em torno de 300 reais. Católico

Inácio 19 8° “Junto”- há cerca de dois anos Parceira. Servente de limpeza.

Em torno de 500

reais.

Católico

Oscar 19 6° “Bem dizer casado”- há cerca de oito meses.

Parceira, mãe, quatro irmãos, duas cunhadas e oito sobrinhos do rapaz. Pedreiro. Em torno de 600 reais. Evangélico Moisés 16 6° “Solteiro”. Pai. X X X Olavo 18 5° “Solteiro”. Mãe e três irmãos. X X X Fabrício 18 8° “Casado”- em torno de um

ano. Parceira. Servente de pedreiro. Em torno de 400 reais. Católico

incompatibilidade entre sua idade e o nível de ensino, já havendo atraso escolar (entre um e seis anos) na época da interrupção dos estudos. Em geral, os sujeitos pararam de estudar para trabalhar, mas outros aspectos também foram enumerados, como: “matar aula” para encontrar a namorada, ajudar a família em função de problemas de saúde da mãe (Tadeu), prática de esportes (Moisés), dedicar-se à parceira grávida e porque “não queria nada com nada” na escola (Olavo). Olavo estava com sete anos de atraso escolar e entre as suas justificativas para a evasão escolar estava a dedicação à parceira na gestação, contudo, em diversos momentos, o rapaz demonstrou não ter acompanhado com proximidade a namorada.

Oscar acabara de ser matriculado em um supletivo por sua cunhada, Moisés e Fabrício afirmaram que em breve voltariam a estudar, Cláudio, Amoroso, Tadeu e Inácio acreditavam que retomariam seus estudos quando seus filhos estiverem maiores e/ou matriculados em uma creche, sendo que Amoroso pretendia fazê-lo com o propósito de “dar um exemplo” para os filhos. Portanto, o projeto de voltar a estudar foi identificado no nível do discurso de todos os participantes, porém, só Oscar iria começar a cursar um supletivo e isto porque uma de suas cunhadas teve a iniciativa de matriculá-lo. Quanto aos demais, o objetivo de retornar ao meio escolar foi lançado para um momento pouco preciso do futuro e não havia clareza sobre o modo como concluiriam seus estudos (a pretensão era o ensino médio). A conclusão do ensino médio, por sua vez, não engendrava um projeto de ascensão profissional, estando mais associada à conquista ou manutenção de um emprego. Os dados coletados entre estes rapazes assemelham-se aos de pesquisas realizadas com adolescentes mães (Corrêa e Coates, 1992; Fávero e Mello, 1997; Shor et al,1996) que identificaram a baixa escolaridade e desempenho escolar, atrelados à escassa aspiração profissional entre as adolescentes mães participantes de suas investigações.

Conforme Cabral (2003), a paternidade na adolescência é tida em nossa sociedade como um transtorno, um desvio do projeto de vida do adolescente, que, de acordo com o imaginário social, ‘deveria’ estar vinculado ao estudo, haja vista a exigência de qualificação profissional para a inserção dos sujeitos no mercado de trabalho. Porém, para os adolescentes oriundos de famílias de baixa renda, entre os quais é maior o número de casos notificados de paternidade (até mesmo porque, haja vista a desigualdade social no contexto brasileiro, é imensamente superior o número destes sujeitos, pais ou não, comparados aos oriundos de camadas de média e alta renda), o acesso ao meio universitário é difícil e mesmo o ínfimo grupo destes jovens que o acessa enfrenta grandes obstáculos para concluir uma faculdade. Portanto, para este adolescente, seja ele pai ou não, o projeto social idealizado para a adolescência pode não fazer parte de seu dia-a-dia, no qual uma série de aspectos além da paternidade podem estar

envolvidos na evasão escolar, tais como o trabalho infantil, o cuidado de irmãos e/ou outras crianças, bem como outros complicadores de ordem econômica e pedagógica.

Quanto aos participantes desta investigação, a interrupção dos estudos (sete participantes) e/ou o atraso escolar (todos os participantes) aconteceu em momento anterior à gestação da parceira. Portanto, a gravidez não determinou a evasão, mas dificultou o retorno ao meio discente.

Desta forma, a gravidez na adolescência, entre jovens do sexo masculino das camadas populares, vem acirrar as dificuldades e/ou desinteresse existentes com a escola, inviabilizando tentativas de retorno e/ou conclusão da escolaridade (Cabral, 2003, p.6).

Sobre o estado civil, todos os participantes eram legalmente solteiros. Entre os oito, seis consideravam-se casados, sendo que o tempo que coabitavam com a parceira, geralmente, estava em torno do período em que a gestação ocorreu ou foi verificada. Inácio e Fabrício passaram a morar com a parceira antes da ocorrência da gestação que, no caso de Fabrício, ocorreu cerca de quatro meses após a união. Rafael e Olavo não moravam com suas parceiras, destacando-se no caso do segundo, maior confusão na definição do estado civil.

Referente à casa onde estavam residindo, apenas um deles (Inácio) morava em casa própria, sendo ela adquirida e construída como fruto do seu trabalho. Fabrício, por sua vez, estava morando em uma casa emprestada por um amigo, porém, ele havia feito uma série de mudanças no último ano e, após a entrevista, veio a mudar-se novamente. Em geral, os participantes moravam com familiares (seis), sendo que um deles morava na casa de seu pai (Moisés) e outro na de sua mãe (Olavo), três deles residiam na casa de sua família com a parceira (Amoroso, Tadeu e Oscar) e um na casa da família da parceira (Cláudio).

Quanto à renda mensal dos participantes, três deles não tinham renda (Cláudio, Moisés e Olavo). Quanto aos demais, a renda de Tadeu estava em torno de 300 reais, a de Fabrício, em torno de 400, a de Amoroso e Inácio, em torno de 500 reais e cerca de 600 reais a de Oscar.

No que diz respeito à tradição religiosa, entre os quatro sujeitos que declararam um vínculo com alguma religião, não foi referida a freqüência de sua participação em atividades relacionadas a esta instituição, bem como não se destacou a relação entre o posicionamento destes e valores de caráter religioso. Nenhum dos entrevistados era casado com a parceira nos moldes religiosos. Dois sujeitos que não se consideravam vinculados à igreja acompanhavam esporadicamente a parceira nos ritos da religião das mesmas. Quando questionados sobre esta temática, cinco participantes (entre eles todos que não se consideravam atrelados a uma religião) falaram com maior ênfase na religião de pessoas próximas.