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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E CARACTERIZAÇÃO DAS COMUNIDADES ATINGIDAS PELO EMPREENDIMENTO

3.2. Caracterização e percepção das comunidades

No âmbito geral, as comunidades pesquisadas são formadas basicamente por trabalhadores rurais, arrendatários e/ou proprietários de pequenas porções de terras, os quais dependem totalmente de suas áreas para o desenvolvimento das atividades econômicas e de subsistência, destacando-se, nesse rol, a agricultura de subsistência e a pecuária de bovinos, além da criação de pequenos animais, como caprinos, suínos e aves. No aspecto relacionado à

63 oferta de serviços públicos de saúde, de educação e de saneamento, entre outros, pode-se verificar que eles são limitados e pouco disponibilizados pelo poder público, sobretudo os que visam ao incremento de infraestrutura relacionada à oferta das águas tratadas e canalizadas, as quais ainda não foram completamente disponibilizadas para as comunidades. O mapa a seguir mostra as três comunidades onde foram realizadas as entrevistas e a localização prevista para a construção da barragem Bujari (Eixo 3)5.

Figura 4: Mapa de localização das Comunidades e da localização do barramento

Fonte: IBGE e Google. Disponíveis nos sites: <www.ibge.gov.br/www.google.maps > Adaptado pelo autor.

5. Localização escolhida para construção da barragem Bujari, mediante coordenadas: UTM 229.009 E e 9.282.518 N – Zona 25M (PROGEL, 2009).

64 Conforme averiguado nesta pesquisa, os serviços de fomento à produção também são limitados nas comunidades, a exemplo dos programas de assistência técnica e de apoio financeiro à agricultura familiar e à pecuária. Devido a tais limitações, em casos mais críticos, os agricultores não dispõem de sementes para o plantio, nem possuem recursos para adquiri- las. A pesquisa também registrou a dificuldade enfrentada por alguns agricultores durante as etapas de preparação das terras para o plantio (aragem, marcação e semeio das áreas de produção), em função de os instrumentos de trabalho serem rudimentares ou inexistentes, o que torna o processo de produção de difícil execução, pouco produtivo e bastante desgastante.

Quanto à oferta dos serviços públicos disponíveis nas comunidades, os habitantes enfrentam enormes gargalos operacionais, que repercutem nas limitações dos serviços básicos essenciais. Há limitações dos espaços destinados às práticas de esporte e lazer, além da inexistência de centros de saúde, exceto na Comunidade de Lagoa Seca, onde o atendimento é semanal e restrito. Os casos de doenças mais graves são tratados nas cidades adjacentes ou na capital do estado do Rio Grande do Norte. Essas limitações geram insegurança na saúde e na qualidade de vida das comunidades, sobretudo devido ao elevado índice de epidemias do tipo febre amarela, chikungunya, dengue e outras doenças associadas ao consumo de águas sem tratamento adequado.

Verificou-se também que não há oferta adequada de escolas nas áreas pesquisadas. Apenas na comunidade de Lagoa Seca existe a oferta das séries iniciais (primeiro e segundo ciclos) do ensino fundamental. A falta de escolas nas demais comunidades compromete o alcance de índices adequados de ensino e aprendizagem em meio aos seus habitantes. Tais limitações repercutem também no exercício da cidadania, o qual pode refletir nos índices de qualidade de vida da população, bem como comprometer o seu desenvolvimento sociocultural.

Pôde-se averiguar durante a pesquisa de campo que os fatores mais impactantes para as comunidades pesquisadas referem-se à escassez de água para usos múltiplos. Somente a comunidade de Lagoa Seca possui água tratada, que é oferecida por meio de estrutura canalizada. No entanto, em função da pouca eficiência do sistema de abastecimento, esse recurso quase sempre é oferecido de forma intermitente à população. Essa situação é semelhante ao que ocorre no município de Nova Cruz, apenas em eventos esporádicos.

Dentre as comunidades que serão atingidas pelo enchimento do Reservatório Bujari, um caso emblemático ocorre na comunidade denominada Primeira Lagoa, a qual está

65 localizada 7 km a montante do local escolhido para implantação do barramento (Eixo-3). Ela é a mais densamente povoada (com cerca de 600 famílias) e não dispõe de águas tratadas para seus habitantes. Segundo informações de alguns moradores dessa comunidade, a limitação hídrica compromete o desenvolvimento de todas as atividades produtivas, em especial a agropecuária familiar, mas sobretudo a sobrevivência e permanência das pessoas naquela área, uma vez que os riscos à saúde são iminentes.

A título de informação, cabe esclarecer que as comunidades pesquisadas são esporadicamente abastecidas por carros-pipa contratados pelo Exército Brasileiro, por meio de parceria do Ministério da Integração Nacional (MIN) e sua Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC) ou, na ausência destes, adquiridos pela compra direta das comunidades, por meio de serviço terceirizado, o que gera insegurança na efetividade devido ao custo de obtenção desse recurso para a população. Como forma de minorar essa dependência, tem sido implementados reservatórios (cisternas) nas residências, instituídas por meio de ações do Programa Cisternas, do Governo Federal, que prevê a captação das águas da chuva como forma de amenizar os déficits hídricos do semiárido (BRASIL, 2014). Os gastos dispendidos para a aquisição de água tem comprometido os escassos recursos de vários municípios do Rio Grande do Norte. Segundo dados disponíveis (BRASIL, 2014, p. 2), dos 98 municípios que enfrentam problemas de restrição hídrica, mais de 50% dispendem até R$50 mil reais para prover a população com esse insumo básico para a vida. Essas limitações foram amplamente verificadas nas comunidades objeto desta pesquisa e que estão inseridas na microbacia do rio Calabouço. Tais limitações requerem a institucionalização de novos mecanismos, políticas públicas e ações mais específicas, que sejam eficazes na promoção do atendimento a essas comunidades.

A fim de ilustrar essa problemática, menciona-se que a única unidade de tratamento e distribuição de águas em atividade naquela região é a Estação de Tratamento de Água (ETA) de Pedro Velho, a qual está localizada na área de captação do rio Piquiri e inserida no Sistema Integrado Pedro/Montanhas/Nova Cruz, com contingente populacional de 65.000 habitantes (IBGE, 2013). Para enfatizar esse fato, a água adquirida pelas comunidades gera despesa mensal acentuada no orçamento familiar, sobretudo devido à prevalência do baixo nível de renda das famílias e ao alto custo da água disponibilizada pelos carros-pipa. O uso dessa água destina-se ao consumo humano doméstico. Esse problema é agravado pelo fato de não existir uma fiscalização sistemática que efetue um controle adequado da qualidade físico-química das águas.

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3.3. Análise dos Dados e Discussão dos Resultados