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Ao realizar a análise das organizações estudadas que não são caracterizadas como ONG’s, procurou-se identificar se as mesmas se tratavam de empresas sociais ou empresas tradicionais, sem ter como objetivo o atendimento de demandas sociais.

Para tal finalidade, foram utilizados os critérios propostos pelo Social Enterprise UK (2017), conforme apresentado anteriormente.

Com a categorização e sistematização dos resultados sendo realizada via software Nvivo, estes cinco critérios de caracterização de uma empresa social foram resumidos da seguinte forma no software:

1) possui uma missão social explícita – Missão;

2) mais de 50% do seu faturamento provém de vendas de produtos/serviços –

Sustentabilidade Financeira e Reinvestimento;

3) reinveste ou doa mais de 50% de seus lucros para promover sua missão social -

Sustentabilidade Financeira e Reinvestimento;

4) mantém independência e controle da empresa, com a gestão sempre direcionada para atender a missão social – Independência;

5) é transparente na maneira como opera e realiza seu impacto social – Transparência.

Como resultados das entrevistas realizadas, categorizadas e codificadas via Nvivo, 12 entrevistados falaram sobre as características de 4 das organizações analisadas (exceto ONG’s) que as caracterizam como empresas sociais, tendo aparecido 77 referências dessas características nas entrevistas.

A Tabela 1 e a Figura 11, que seguem abaixo, apresentam os resultados das codificações via Nvivo.

Tabela 1 - Número de fontes e referências a características de empresas sociais

Escopo de Análise Fontes Referências

Características de Empresas Sociais 12 77

Missão 9 27

Transparência 9 28

Independência 5 12

Sustentabilidade Financeira e Reinvestimento 5 10

O número de referências a cada aspecto de uma empresa social é equilibrado, apesar de aspectos como missão e transparência ficarem mais claros nas colocações dos entrevistados.

Figura 11: Proporção de referências em cada característica de empreendedorismo social

Fonte: Dados da pesquisa, via Nvivo (2019).

É demonstrado nos resultados das entrevistas que as 4 organizações estudadas, que não se enquadram como ONG’s, podem ser enquadradas como empresas sociais.

Fruta Feia

Tendo como slogan “Gente bonita come fruta feia” a organização portuguesa Fruta

Feia deixa bem clara a sua missão social em seu site, onde afirma que:

Este projecto visa combater uma ineficiência de mercado, criando um mercado alternativo para as frutas e hortaliças “feias” que consiga alterar padrões de consumo. Um mercado que gere valor para os agricultores e consumidores e

combata tanto o desperdício alimentar como o gasto desnecessário dos recursos utilizados na sua produção (FRUTA FEIA, 2019).

A transparência, a independência e os aspectos de sustentabilidade financeira e

reinvestimento do lucro da organização se mostra de forma clara nas falas dos entrevistados

E3, E4, E6 e E7 (2019). Como afirma a entrevistada E3 (2019) “[...] tentou sempre pensar em um modelo de negócio que fosse social, mas economicamente sustentável. Mas que também fosse ambientalmente sustentável, os três pilares”. O que é reforçado pela entrevistada E4 (2019) : “[...] todo o dinheiro que entra é para pagar os agricultores e as pessoas da equipe de forma justa e o que sobra é para abrir novas delegações. Quando começa a entrar mais renda abrimos uma nova delegação”.

GoodAfter

A outra organização portuguesa analisada, GoodAfter, também demonstra a sua

missão social em seu site e suas comunicações – “[...] no seu supermercado que combate o

desperdício alimentar e não alimentar” (GOODAFTER, 2019) –, que é reiterada pelo entrevistado E1 (2019) “Uma das nossas funções é conscientização do consumidor em relação a data de consumo”.

Aspectos como a transparência e independência também aparecem nas falas de alguns entrevistados (E1; E12; E13, 2019), como a fala do entrevistado E12 (2019) “Há consumidores muito focados nas vantagens que um projeto como o da GoodAfter gera para a sociedade, avaliando-o, pelo seu pioneirismo, como muito positivo” e as afirmações de E1:

Nós temos uma parceria com a Lipor e fizemos uma parceria que chama Observatório do Desperdício [...] todos os trimestres passamos informações para eles. Um relatório de resíduos poupados. Comprometemo-nos a dar esses dados trimestralmente e o que eles fazem é converter aquilo em quanto de impacto ambiental foi poupado (E1, 2019).

A sustentabilidade financeira é demonstrada pelos dados fornecidos pela organização, que conta com 25000 pessoas registradas no site e 5000 clientes ativos e realiza o reinvestimento dessa renda na operação (E1, 2019).

Fruta Imperfeita

A organização brasileira Fruta Imperfeita também deixa claro a sua missão social em suas comunicações: “Temos o propósito de diminuir o desperdício de alimentos por meio

da disseminação do consumo consciente atuando como agente de conexão entre os produtores e consumidores” (FRUTA IMPERFEITA, 2019).

Os outros aspectos de uma empresa social (transparência, independência e

sustentabilidade financeira e reinvestimento) aparecem em falas dos entrevistados ligados

a essa organização (E5; E8; E9, 2019). Como é colocado pelo entrevistado E2 (2019), a organização possui 1500 assinantes e compartilha as informações sobre seus impactos com seus fornecedores, como é colocado pelo entrevistado E8 (2019) “Então, eu acho que é uma boa iniciativa deles aí e pelo que eu vi lá a demanda pra esse ano ia dobrar, né?”, assim como pelo entrevistado E2 (2019) “Grande parte do que é produzido das frutas e legumes é jogado fora por causa do padrão estético, só que aí a gente sabe isso de literatura e quando a gente foi falar com os produtores, realmente, era uma dor que eles sentiam”.

400g

Os aspectos de uma empresa social (missão social, transparência e independência) da organização brasileira 400g aparece na fala de alguns dos entrevistados (E2; E10; E11, 2019), como o entrevistado E2 (2019) que afirma “[...]porque a gente trabalha com esse propósito do combate, do desperdício de uma crise global, né? A gente participa dessa revolução alimentar e a gente acompanha a agenda da ONU e os 17 princípios sociais”.

Então, a gente acaba movimentando a economia local e dando pra esse produtor uma renda extra e também visibilidade, né? porque o agricultor é o protagonista de toda essa história, mas ele está invisível, então o que a gente faz é dar voz aos invisíveis, tanto para os produtos, quanto para o agricultor (E2, 2019)).

A sustentabilidade financeira e o reinvestimento do lucro também são sustentados nas falas dos entrevistados (E2; E10; E11, 2019) e de informações da empresa, que possui uma base de 82 clientes, entre empresas e consumidores finais.